16/02/15

Não prometa o que não pode cumprir *


Falámos nas últimas semanas de temas da actualidade com o objectivo de compreender alguns comportamentos humanos. Não estávamos adaptados a comportamentos violentos como os que aconteceram na segunda guerra mundial mas o impensável aconteceu,  há 70 anos, em Auschwitz. 
Continuamos a assistir, incrédulos, ao assassinato de reféns inocentes, sem qualquer respeito por princípios éticos, sem qualquer respeito pelo que estipulam convenções internacionais. Continuamos a assistir à guerra na Síria, na Ucrânia… com o seu cortejo de mortos e de sofrimento.
Já vimos isto e não aprendemos.
Continuamos a assistir à corrupção e ainda esta semana fomos surpreendidos com o swissleaks, isto é, um banco onde milhares de clientes depositavam o dinheiro fugido aos impostos, e ou de origem duvidosa. 

Lampedusa esteve outra vez em foco: A Europa continua a ser vista como um lugar de felicidade para os que procuram fugir à miséria, fome e  falta de condições de vida elementares.
E a Grécia vive o impasse entre as promessas feitas aos eleitores e a realidade dos credores. 
Sabiam certamente que a concretização dessas promessas passava por acordos que, sem sentimento de inferioridade ou superioridade, envolve duas ou mais partes.
Um programa eleitoral envolve responsabilidade de quem o faz e, por isso, desde logo, não poder fazer promessas que não pode cumprir.
O principio da realidade diz-nos que devemos aprender o que podemos esperar e o que podemos conseguir. A prova da realidade é, assim, fundamental para a nossa busca de felicidade que é uma emoção transitória e que não existe e forma definitiva. (Punset, pag. 401)
Os estudos psicológicos mostram que o nosso cérebro não é bom a fazer previsões nem a corrigir os erros. O que acontece é que cometemos várias vezes o mesmo erro, assim como erramos ao prever a felicidade futura.
Normalmente o que acontece é que nenhum dos aspectos, corrigir o erros ou perspectivar a felicidade futura, corresponde à realidade.
Daniel Gilbert no livro Stumbling on Happiness (Tropeçando na felicidade), diz-nos que através da percepção e preconceitos ou vieses cognitivos **, as pessoas imaginam o futuro mal, em especial, o que irá torná-las felizes. Por vários motivos: 
1. A imaginação tende a adicionar e remover detalhes, mas as pessoas não percebem que detalhes importantes podem ser fabricados ou ausentes do cenário imaginado.
2. O passado e a imaginação do futuro são mais como o presente do que realmente era o passado ou vai ser o futuro.
3. A imaginação não consegue perceber que as coisas vão ser sentidas de forma diferente do que realmente estão a acontecer, principalmente, porque o sistema imunológico psicológico *** vai fazer com que as coisas más não se sintam tão más como foram imaginadas.
O conselho que Gilbert oferece é a utilização de experiências de outras pessoas para prever o futuro, em vez de imaginar. Diz ele, é surpreendente como as pessoas são semelhantes em grande parte das suas experiências.
Mas não espera que as pessoas sigam este conselho, porque a nossa cultura, acompanhada de diversas tendências de pensamento, é contra este método de tomada de decisões.
A avaliar pelo que se passa na Grécia, e por cá, eu também não mas espero que ao fim de tantas ilusões e enganos emocionais comecemos a prometer apenas o que podemos cumprir.

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* O título é de Punset, El alma está en el cerebro, pag 400. 
A imagem é a capa de um livro sobre um determinado período eleitoral (1999), 183 páginas de promessas não cumpridas, mas podia referir-se a qualquer outra campanha eleitoral e a qualquer outro partido, aqui ou noutro lugar. As promessas começam por ser bem visíveis e, chegados ao poder, quase desaparecem. 

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