25/02/15

Um "bom exemplo" do pior do outsourcing


Os problemas recentes verificados nas urgências de alguns hospitais, principalmente em momentos críticos, vieram por em evidência algumas fragilidades do sistema nacional de saúde. 
Não tenho elementos para saber se o que se passou tem a ver com a falta de médicos nas urgências ou com o afluxo extraordinário de doentes devido ao surto gripal que se verificou.
Mas uma coisa é certa: o recrutamento e selecção de médicos para os hospitais através de outsourcing mostrou as desvantagens desse processo no atendimento dos doentes.
 O artigo "O negócio escondido das urgências. Os "médicos a dias" custam ao Serviço Nacional de Saúde mais de 70 milhões de euros por ano", de E. Caetano, F. Galope e I. Nery (Visão 1145 de 12 de Fev.) 
mostra a falência, erros e perversidade do outsourcing na gestão de recursos humanos, como já aqui tínhamos alertado em outsourcing ou para que serve a gestão na administração pública?
A organização do trabalho mudou. Para C. Dejours, nas organizações mudaram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing que tornou o trabalho mais precário...
O outsourcing é, ou devia ser, “um processo de gestão pelo qual se repassam algumas atividades a terceiros, com os quais se estabelece uma relação de parceria, ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua.” [Giovanna Lima Colombo]
Mas a ideia inicial de outsourcing foi desvirtuada. A partir do momento em que atinge o núcleo ou finalidade fundamental (core) do serviço, começam os problemas.
Por exemplo, faz sentido que uma escola contrate uma empresa de limpeza, de fornecimento de refeições ou de assistência informática… O que não se entenderia é que a contratação de professores ou a realização dos exames fosse feita por uma empresa exterior ao sistema educativo… 
Tal como não faz sentido que o recrutamento e selecção de psicólogos escolares, terapeutas etc. seja feito por empresas externas.
Esta situação parece ter atingido o irracional nos serviços de saúde onde não faz sentido que haja empresas a seleccionar os médicos para contratos a dias, à hora…
Em teoria, o outsourcing tem vantagens como a redução de custos de 9% e o aumento da produtividade em 15%. 
Na realidade, as desvantagens superam as vantagens: entre elas, o outsourcing leva a má qualidade do serviço prestado e diminuição do nível da satisfação dos clientes; quanto aos contratados leva a conflitos entre o pessoal, falta de envolvimento e de cultura de empresa, dificuldade de integração nas equipas internas e nas actividades respectivas, desmotivação do pessoal, precariedade do vínculo laboral ...
Não é possível ignorar os riscos inerentes ao outsourcing que podem levar à rotura do atendimento dos doentes, ou seja, a situações drásticas, em que o fim principal do serviço fica posto em causa. 
Além disso, tudo é mais grave quando está em jogo a vida das pessoas, como na saúde, ou a educação das crianças e dos futuros profissionais deste país.
Por isso, apenas se justifica o outsourcing quando o risco não seja acrescido para a saúde das pessoas e a para a qualidade de vida dos profissionais.


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