Os problemas recentes verificados nas urgências de alguns hospitais, principalmente em momentos críticos, vieram por em evidência algumas fragilidades do sistema nacional de saúde.
Não tenho elementos para saber se o que se passou tem a ver com a falta de médicos nas urgências ou com o afluxo extraordinário de doentes devido ao surto gripal que se verificou.
Mas uma coisa é certa: o recrutamento e selecção de médicos para os hospitais através de outsourcing mostrou as desvantagens desse processo no atendimento dos doentes.
O artigo "O negócio escondido das urgências. Os "médicos a dias" custam ao Serviço Nacional de Saúde mais de 70 milhões de euros por ano", de E. Caetano, F. Galope e I. Nery (Visão 1145 de 12 de Fev.)
mostra a falência, erros e perversidade do outsourcing na gestão de recursos humanos, como já aqui tínhamos alertado em outsourcing ou para que serve a gestão na administração pública?
A organização do trabalho mudou. Para C. Dejours, nas organizações mudaram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing que tornou o trabalho mais precário...
O outsourcing é, ou devia ser, “um processo de gestão pelo qual se repassam algumas atividades a terceiros, com os quais se estabelece uma relação de parceria, ficando a empresa concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atua.” [Giovanna Lima Colombo]
Mas a ideia inicial de outsourcing foi desvirtuada. A partir do momento em que atinge o núcleo ou finalidade fundamental (core) do serviço, começam os problemas.
Por exemplo, faz sentido que uma escola contrate uma empresa de limpeza, de fornecimento de refeições ou de assistência informática… O que não se entenderia é que a contratação de professores ou a realização dos exames fosse feita por uma empresa exterior ao sistema educativo…
Tal como não faz sentido que o recrutamento e selecção de psicólogos escolares, terapeutas etc. seja feito por empresas externas.
Esta situação parece ter atingido o irracional nos serviços de saúde onde não faz sentido que haja empresas a seleccionar os médicos para contratos a dias, à hora…
Em teoria, o outsourcing tem vantagens como a redução de custos de 9% e o aumento da produtividade em 15%.
Na realidade, as desvantagens superam as vantagens: entre elas, o outsourcing leva a má qualidade do serviço prestado e diminuição do nível da satisfação dos clientes; quanto aos contratados leva a conflitos entre o pessoal, falta de envolvimento e de cultura de empresa, dificuldade de integração nas equipas internas e nas actividades respectivas, desmotivação do pessoal, precariedade do vínculo laboral ...
Não é possível ignorar os riscos inerentes ao outsourcing que podem levar à rotura do atendimento dos doentes, ou seja, a situações drásticas, em que o fim principal do serviço fica posto em causa.
Além disso, tudo é mais grave quando está em jogo a vida das pessoas, como na saúde, ou a educação das crianças e dos futuros profissionais deste país.
Por isso, apenas se justifica o outsourcing quando o risco não seja acrescido para a saúde das pessoas e a para a qualidade de vida dos profissionais.
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