14/02/15

"Homo homini lupus"


"Corrupção" foi considerada a palavra do ano de 2014, segundo uma votação realizada pelo Grupo Porto Editora e na qual participaram 22.000 portugueses. Nesta votação, feita pela Internet, corrupção somou 25% dos votos.
O ano de 2014 ficou marcado por dois grandes casos judiciais com acusações de corrupção: O processo "Face Oculta", sobre uma suposta rede de corrupção que teria como objectivo o favorecimento de um grupo empresarial , e a operação "Labirinto", relacionada com os vistos 'gold'.
"O ano ficou ainda marcado pela detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, por suspeita de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada."
Segundo a associação Transparência Internacional nenhum país consegue a pontuação máxima. A corrupção atinge todos os países. Mas quanto mais baixa a avaliação da transparência de um país tanto maior é a percepção da corrupção desse país.  Uma avaliação abaixo da média, por exemplo, não é lisonjeiro para qualquer país.

*A corrupção pode ser o suborno que tem a ver com a obtenção de uma recompensa escondida para alterar em favor do particular o que se estabelece como regra geral.
O nepotismo é a concessão de emprego ou contrato público baseado em parentesco e na não a competência ou mérito.
E o peculato, indica que os fundos e recursos públicos são destinados a uso privado.
A historia da transparência e da corrupção não é nova. Diógenes, filósofo cínico, caminhava pelas ruas das cidades gregas com uma lanterna acesa, em plena luz do dia. Perguntado sobre a estranheza do seu comportamento respondeu: “ eu procuro um homem honesto, digno , de vergonha”.
Mas foi com Maquiavel (“O Príncipe”) que esta perspectiva do homem honesto, digno e de vergonha mudou. Para ele, a politica é  o resultado de um grupo de forças, gerado pelas acções concretas dos homens. Esse cenário é transitório, ou seja, uma vez alcançada, a ordem não será definitiva pois haverá sempre um germe negativo capaz de fomentar conflitos.
O poder politico nasce de uma maldade intrínseca à natureza humana. O homem é perverso e os seus actos políticos vão conservá-lo no poder se for capaz de “agir conforme as circunstâncias” mesmo que tais acções não sejam baseadas em atitudes desejadas pelos seus governados.
Hobbes concorda com Maquiavel: O homem é o lobo do homem.
John Locke vem de novo falar na soberania do povo e que as decisões cabem ao povo.
Para Rousseau a sociedade corrompe os homens que se deixam levar pelas paixões e não há homens virtuosos. Por isso são responsáveis por distorcerem os valores. 
Quando o povo decide passar a sua representação para os políticos isso significa que perde a sua soberania. É por isso que deve haver formas de regulação, de vigilância apertada ao poder, de forma a não deixar que esses representantes e burocratas incorram em práticas ilícitas fazendo com que sejam identificados e punidos.

A corrupção está aí na sociedade. Fomos mais sensíveis a ela (pelo menos à palavra) em 2014. Mas é importante estar atento a quem exerce funções políticas em nosso nome. Combater a corrupção é defender a segurança dos cidadãos, contra o terrorismo, as guerras e a miséria.
______________
* Baseado no artigo de H. Dantas e S. Praça, "Corrupção: natureza humana ou condição social", Filosofia, Ano II, nº 15.

Sem comentários:

Enviar um comentário