Tudo é comunicação. A vida é comunicação. Independentemente da minha vontade, eu comunico ainda que não queira, mesmo que esteja em silêncio ou que me afaste das pessoas e viva no deserto.
Há formas de comunicação que nos podem parecer estranhas porque elas dependem da cultura de cada povo. Há formas de comunicação que podem ser insultuosas, dependendo do contexto.
Dois terços da nossa comunicação é não verbal e apenas após o primeiro ano de vida estamos em condições de comunicar verbalmente.
Uma forma de comunicação não verbal que merece a concordância de uns e a discordância de outros é o comportamento de “assobiar a mulher que passa"
Como em toda a comunicação, há uma fonte do comportamento comunicacional, a mulher que passa, em que, sem falar, comunica, como no poema de Almada Negreiros.
Aquela que tem a forma do faz calar,
Aquela que fala co’o andar,
Aquela que sabe mentir,
Aquela cujo olhar dá ilusão
E que tem na voz o timbre dos repuxos;
J. de Almada Negreiros, Poesias
O assobio apreciativo muitas vezes é acompanhado de outros piropos ou de outras expressões, que entram no campo do assédio moral.
Parece, no entanto, que este assunto merece uma análise mais detalhada. O que motiva um individuo a assobiar uma mulher?
A comunicação é um processo básico da vida. Torna-se indispensável ao estabelecimento de relações sócio-afectivas. Mas nem por isso é fácil expressarmos as nossas emoções.
Como expressão da nossa organização psicológica, a comunicação, é, certamente, uma questão da personalidade do indivíduo.
Sabemos que o assobio admirativo dificilmente tem resultado. Então por que continua a verificar-se este comportamento ?
Há vários paradigmas psicológicos dos processos intrapsíquicos e relacionais que podem ajudar a compreender este comportamento.
Os paradigmas dos processos intrapsíquicos remetem-nos para a organização interna do psiquismo. A personalidade é constituída pelas instâncias (ego, id, superego) e põem em jogo desejos, motivações, outras necessidades do individuo.
Torna-se imperiosa a necessidade de comunicar. Há processos inconscientes na comunicação que foram socializados pelo super-ego e pelo princípio da realidade que impedem que esta comunicação seja simplesmente uma pulsão sexual primitiva.
A analise transaccional permite-nos analisar os estratagemas, jogos e motivações escondidas.
Provavelmente este individuo acredita que é uma maneira de se evidenciar perante outros e que o torna na vedeta do grupo.
Este padrão comportamental tem origem na infância. Começa por ser a maneira de se evidenciar perante a família e os irmãos onde o jogo comunicacional tinha esse beneficio.
É também uma forma de relação sistémica, um comportamento que normalmente acontece em grupo, sendo necessário entender os aspectos do contexto, do enquadramento do grupo a que se pertence, da forma como é entendida a mulher nesse grupo e onde há trocas comunicacionais prévias, em relação às quais há aceitação por parte do grupo.
Podemos compreender o sentido deste comportamento a partir da nossa própria experiência, do contexto das normas sociais em que o assobio define uma situação de ambivalência de comunicação sexualizada mas simultaneamente lúdica e sem consequências a esse nível.
Mais uma vez o processo de socialização na escola e na família é decisivo para a comunicação sócio-afectiva, sexualizada e equilibrada, entre homens e mulheres.
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