27/06/13

Vencedores e perdedores: jogos sindicais




Segundo E. Berne, "um jogo é uma série contínua de transacções complementares ulteriores que progridem para um resultado bem definido e expectável. Em termos descritivos é um conjunto recorrente de transacções, frequentemente repetitivo, superficialmente plausível, com uma motivação escondida; ou, mais coloquialmente, uma série de movimentos (lances) com uma armadilha ou truque. Os jogos são diferenciados claramente dos procedimentos, dos rituais, e dos passatempos por duas características principais: (1) a sua qualidade ulterior e (2) a recompensa. Os procedimentos podem ser bem sucedidos, os rituais eficazes, e os passatempos rentáveis, mas todos são por definição ingénuos; podem envolver competição, mas não conflito, e o final pode ser sensacional, mas não é dramático. Cada jogo, por outro lado, é basicamente desonesto, e o resultado tem uma qualidade dramática, diferente de simplesmente excitar". (E Berne, Games people play, pag. 44).

Normalmente nestas transacções há comportamentos típicos não saudáveis em que se desempenham os papéis de salvador, perseguidor e vítima (triângulo dramático de Karpman). Não estamos a falar dos papéis reais de salvador, perseguidor e vítima mas de papéis usados de forma representativa. É o que se passa quando se diz:
“fomos para a greve porque nos obrigaram”.
“ não tínhamos outra saída”.
Ou
“os sindicatos não quiseram negociar”.
“as propostas estavam em cima da mesa há muito tempo”.

Nos dias seguintes a manifestações e greves, segue-se a conversa do costume entre supostos vencedores e supostos perdedores. Não deixa de ser interessante assistir ao jogo de quem ganha e quem perde.
A diferença de números, às vezes, é completamente desfasada da realidade. Mesmo numa situação como a dos exames, em que se sabe exactamente quem fez e não fez exames, não há concordância.

Mas na realidade quem são os vencedores? E quem são os perdedores ? Aquilo que está em jogo é a autenticidade. Mas neste jogo há muita hipocrisia, o que está em jogo não são apenas reivindicações sindicais e ter que ganhar é o que interessa.
Para os vencedores, ter êxito não é o mais importante mas ser autêntico. A pessoa autêntica tem a experiência da própria realidade ao conhecer-se a si mesma e ao converter-se em alguém sincero e sensível.
Vai ganhando autonomia e não tem medo de pensar por si próprio.
Não pratica o jogo do desamparado ou de recusar a culpa.
Possui um justo sentido do tempo porque o tempo é precioso. Responde adequadamente a cada situação.
Aprende a conhecer os seus sentimentos e as suas limitações.
Preocupa-se com as pessoas.
Por seu lado, o perdedor raramente vive no presente. Como vive no passado costuma lamentar-se do se. Os perdedores dependem sempre de uma desculpa:
"se estivesse bom tempo".
"agora não que falta um impresso" (Deolinda).
"se tivessem assinado antes".
"se tivessem feito a proposta antes, tinha-se evitado a greve".
Mas podem viver no futuro (quando) e então esperam um milagre, como num conto de fadas:
"quando mudar o governo".
"em Setembro voltamos à luta".
Por isso, mascaram a realidade, passam grande parte do tempo em representações dramáticas. Não há autenticidade, a sua personalidade falsa é sempre mais importante do que a realidade.
Se é verdade que nascemos para triunfar *, e quando há compromisso provavelmente é o que acontece, também é verdade que não se ganha sempre e podemos ter insucessos.
Na minha opinião, neste conflito há apenas perdedores: os professores, o ministério, os alunos e as famílias.
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* Muriel James e Dorothy Jongeward, (1976),  Nacidos para triunfar, análisis transaccional con experimentos gestalt,  5ª ed.

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