20/06/13

"Um ano de escolaridade perdido: é a eternidade numa redoma" *


No final do ano lectivo coloca-se e colocam-me habitualmente esta questão.
É particularmente dramático quando vemos, por exemplo, um aluno que já fez três repetições no 7º ano e está em risco de chumbar novamente. O que fazer?
Há países em que não há retenções e não parece que o sistema seja pior do que o nosso.
Mas seja como for, o fim das repetições no ensino básico, só por si não resolve o problema.
É, por isso, necessário tomar medidas que possam modificar esta situação.
Com a extinção do ensino técnico e profissional e com a escola inclusiva, o problema só se podia agravar.
Foram sendo adoptadas, ao longo do tempo algumas medidas, como o PIPSE, PIEF, TEIP, PCA, CEF, planos de recuperação, planos de acompanhamento, apoios pedagógicos de vária ordem, investiu-se em áreas de apoio aos estudo...
De facto, os alunos que estão nestas turmas ou nestes tipos de apoio são alunos que repetiram, uma ou várias vezes, ou até já se encontravam em abandono.
Apenas uma pequena parte conseguem superar as dificuldades, veja-se por exemplo a avaliação dos planos de recuperação e acompanhamento e, agora, dos planos de acompanhamento pedagógico. **
A grande maioria destes alunos acaba por recorrer a outros currículos que servem apenas, e já não é pouco, para regressar à escola ou para concluir o ensino básico.
Muitas razões levaram a esta situação mas a mais importante teve a ver com as retenções. A retenção é uma punição e, como tal, tem o efeito psicológico que conhecemos.
Se as retenções se devessem apenas a falta de estudo e de trabalho, a punição podia fazer sentido... Mas a realidade mostra-nos outros problemas, tais como:
- o fracasso aprendido. Tornam-se insensíveis ao fracasso ou "desenvolvem na falta de melhor, a paixão pelo fracasso" (D. Pennac, pag. 53); ***
- as retenções, muitas vezes, são devidas a desconhecimento das reais características das crianças;
- as dificuldades de aprendizagem, especificas ou não, são uma realidade e não dependem apenas da vontade e do esforço do aluno para serem ultrapassadas;
- há alunos com áreas de sobredotação que não são compreendidos na sua maneira de aprender;
- há alunos que necessitavam de metodologias diferentes para ultrapassarem as suas dificuldades;
- há alunos com perfis cognitivos que estão motivados para outros tipos de aprendizagem.

Se devemos ter em conta que as opções por percursos alternativos não devem ser muito precoces, parece-me que eles se impõem pelo menos no 3º ciclo de escolaridade. A escolaridade obrigatória deveria ter cursos gerais e cursos alternativos, não de nível, nem mais fáceis, nem menos rigorosos e exigentes, mas que dessem possibilidade de escolha aos alunos por cursos artísticos, tecnológicos e práticos.

Há estratégias que deram bons resultados noutros países, em alternativa às repetições:
- reforço do trabalho e enquadramento do estudo na escola, com períodos de orientação baseados, por exemplo, em planos individuais de trabalho;
- a escola deve ser um local de aprendizagem de hábitos de trabalho;
- a diferenciação pedagógica é uma estratégia essencial como resposta à diversificação social e cultural dos públicos que hoje frequentam a escola;
- o trabalho directo do professor com os alunos apresenta-se como decisivo para a resolução de problemas de aprendizagem;
- estratégias de intervenção imediata, ao primeiro sinal de dificuldade, que podem ser pontuais ou ao longo do tempo, mas nas quais o professor tem um papel essencial;
- apoio aos professores para que adquiram técnicas de ajuda aos alunos que se atrasam.
Qualquer alternativa educativa é preferível à repetição.

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* Daniel Pennac, Mágoas da escola, pag.61.
** Os alunos que chumbam nos exames do 4º ano têm um plano de recuperação após o termo das aulas. Parece estratégia interessante mas espero que seja avaliada e divulgados os resultados. 
*** Há estudos onde parece que nem tudo é assim. É verdade que nem todos os alunos perdem a auto-estima. Felizmente, há alunos que, apesar das repetições, continuam resilientes. 

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