24/06/13

A criança revela-se...



Um meio excelente para trabalharmos com a criança é a sua expressão gráfica. Não é preciso muito mais para compreendermos a sua personalidade.
Através das suas manifestações gráficas a criança expressa o que sabe mas também se expressa a si própria. Ela tem uma necessidade natural de se exprimir transmitir aos outros o que pensa, sente e imagina - a expressão da criança é assim uma forma de comunicação.
A criança revela-se através do que faz.
A atitude do adulto é aqui fundamental pela necessidade que há em que o adulto não quebre a comunicacação que se estabeleceu.
O papel dos educadores e da escola é também o de facilitar a comunicação da criança - a socialização da criança - a comunicação com os outros :
- não romper a comunicação - facilitar a comunicação, motivar para as actividades
- atenção às perguntas, às sugestões...

Com Eurico Gonçalves aprendi quase tudo o que sei sobre a expressão gráfica da criança. Tal como aprendemos com Arno Stern (eu, pelos livros).
O desenho, a manifestação gráfica da criança, evolui à medida que a coordenação motora se vai  aperfeiçoando. Há maior controlo do movimento, do gesto e a criança passa à fase das formas arredondados, também dita pré-figurativa ou simbólica, dos 3 aos 4 anos de idade. Aparece, assim, a representação da figura humana com a forma de girino ou cabeçudo.
A partir desta fase a figura humana vai ser um tema frequentemente repetido.
O desenho da figura humana dá-nos algumas indicações acerca do desenvolvimento da criança.
Assim, por volta dos 5-7 anos surge a figura humana (bonhomme), com as partes principais do corpo representadas, olhos abertos, dedos, pormenores de vestuário  etc.. Por volta dos 7 anos aparecem membros de duplo contorno e diferenciação dos sexos por meio do vestuário.
Acima dos 10 anos surge o desenho de perfil e pormenores cada vez mais numerosos e de carácter social.
É importante referir a perspectiva afectiva que a criança imprime ao desenho e que tem a ver com as dimensões do desenho e aquilo que para ela é significativo...
Além da figura humana a criança, representa, desde os 5 anos, casas, árvores, caminhos, carros, animais, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens, a chuva, etc., tudo o que faz parte da sua experiência.
Aparece a pré-escrita - grafismo orientado da esquerda para a direita em linhas paralelas e de cima para baixo segundo o sentido da escrita ocidental - dos 3 aos 5 anos.

Algumas características do desenho infantil:
O desenho infantil é essencialmente ideográfico, característica central da qual derivam outras como a transparência e o rebatimento.
O ideografismo consiste em representar mais o que a criança sabe ou a ideia que faz das coisas do que aquilo que vê.
A transparência: A criança desenha coisas como se as visse ao RX. Desenha o interior das coisas sempre que este tenha para ela um significado particular: a mobília dentro da casa, o fumo da chaminé, o bebé na barriga da mãe, etc..




Já vimos algumas características da expressão da criança tais como: a pré-escrita, a perspectiva afectiva, o ideografismo, a humanização. Outras características são:
O rebatimento: As figuras são rebatidas, espalmadas, reduzidas a silhuetas no plano do suporte.
Espaço topológico: espaço táctil, próximo e topográfico, definido no plano e em função das características específicas do suporte.
Diferente do período anterior, o espaço sensorio-motor e dos seguintes, o espaço projectivo (4-5 anos) e o espaço euclidiano (a partir dos 10 anos). No espaço topológico o espaço não está orientado, não há próximo nem distante não há cimo nem baixo. O desenho é enumerativo, é uma colecção.
No espaço projectivo: a partir dos 4-5 anos começa a esboçar-se mas é a partir da entrada na escola e com o alargamento do campo de exploração envolvente da criança que começa a distinguir-se em cima/em baixo, à esquerda/à direita, à frente/atrás... O céu e a terra não se tocam, há um vazio que só progressivamente será conquistado... até adquirir a noção de linha do horizonte - nunca antes dos 9 anos de idade e mais frequentemente aos 10 anos de idade.
No espaço euclidiano entram em jogo as perspectivas, as orientações e as distâncias.
- Realismo naif ou ingénuo e lírico - a partir dos 10-11 anos de idade, a criança representa com realismo escrupuloso e pormenorizado não só o que vê como também o que sabe, mantendo características ideográficas.
A partir dos 12 anos surgem figuras parciais do tipo retrato.
Na puberdade a inquietação suscitada pela transformação do corpo é evidente e fica registada na representação gráfica da figura humana: o corpo tanto se exibe (nudez, pele) como se esconde ( roupa, moda).
" A criança desinteressa-se da matéria logo que consegue traçar com ela símbolos. O adolescente pelo contrário, desinteressa-se da imagem como símbolo e reencontra o gosto pelo movimento e pela matéria ".
Mas esta já é outra história...

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