27/11/12

"O povo é quem mais ordena"


Esteja quem estiver no poder, compete-nos ter uma cidadania activa. Normalmente, essa cidadania é exercida através da participação em acções organizadas pela sociedade, em associações de solidariedade ou através da iniciativa individual e do espírito de entreajuda. De uma forma negativa através de acções críticas aos governos quer seja o governo do país quer seja o governo local, da câmara municipal, ou outros poderes. 
Queremos construir um mundo melhor e por isso temos que questionar: Por que chegámos aqui ? Deveríamos estar noutro patamar do desenvolvimento moral ? Podíamos viver num mundo melhor ? 
Por que não temos serviços de proximidade? Por que não há segurança? Por que morrem as pessoas em casa, sozinhas? Por que esperamos horas na consulta externa ?...
A realidade é que há recuos e avanços permanentes e regressamos a momentos que pensávamos já ultrapassados e que não seriam facilmente  imagináveis.
Este livro (orig. de 1994, tradução de 1996) de Benjamin Spock "trata da deterioração da sociedade contemporânea e daquilo que as pessoas empenhadas podem fazer para legar um mundo melhor a todas as crianças".
É, de algum modo, uma autobiografia onde o autor de "Meu filho, meu tesouro" fala da sua vida familiar, profissional e de cidadão. Como tal refere a sua intervenção social e politica.
É uma visão desiludida da política. O episódio que conta acerca das promessas dos políticos como, por ex., numa campanha eleitoral, ter apoiado um politico que era contra a guerra do Vietname e logo que eleito redobraram os ataques no terreno (pag. 28).
Foi candidato por um partido minúsculo, o partido popular, que obteve oitenta mil votos e o deixou muito satisfeito (pag. 30). Lembra-me a satisfação que tive quando M. L. Pintasilgo obteve 7,38 % dos votos nas eleições de Janeiro de 1986.
Mas Benjamin Spock, fala-nos também de esperança e diz que a política é fundamental para podermos viver num mundo melhor. Por isso, é necessário o exercício da cidadania e de uma cidadania activa.
O exercício da cidadania começa no voto. O voto não pode ficar para os outros sejam eles quem forem. Temos vindo assistir a um crescimento da abstenção que enfraquece a democracia representativa. Mas, ainda assim, 
Depois da tomada de posse dos órgãos eleitos, os cidadãos, individualmente e em grupo, devem vigiar o cumprimento das promessas e fazer pressão junto desses órgãos: escrever-lhes cartas e, se necessário organizar piquetes e manifestações. 
...Hoje em dia, os traficantes da política são muito mais sofisticados. Sabem que poucas pessoas estudam realmente as questões e compreendem as políticas seguidas pelos partidos e candidatos. Sabem que slogans sonantes e acusações enganadoras podem conquistar mais votos do que debates sérios sobre questões complexas...
A televisão, infelizmente, presta-se a meias-verdades ditas de forma fluente mas insincera mais do que à análise de problemas complexos...
Não admira que as vedetas televisivas sejam consideradas autoridades em todos os assuntos e que alguns deles troquem de carreira, enveredando por altos cargos políticos. 
Um mundo melhor necessita de uma cidadania activa.
Tão importantes como as campanhas para as legislativas são as eleições para as autarquias e para a gestão escolar. Os debates e o activismo político de base, a nível local, são vitais para um processo verdadeiramente democrático, pois os assuntos locais, ao serem persistentemente debatidos, depressa se fazem ouvir no cenário político global. O poder autárquico, ao sentir-se pressionado pela comunidade para a necessidade da existência de infantários públicos dirigir-se-á às instâncias superiores para solicitar orientação e apoios.
Tão importante como irem votar é o facto de os pais se manterem politicamente activos entre eleições. A sua opinião de cidadão pode ser dada a conhecer através de uma carta para o director do jornal local ou de telefonemas para um talk show com intervenções telefónicas em directo. Pode escrever cartas aos presidentes das câmaras, aos deputados, ao primeiro-ministro, ao presidente, não apenas uma vez mas sempre que se sinta particularmente irritado com uma situação. Pode frequentar encontros e debates públicos e levantar questões da assistência... (pag.179)
Mudar o mundo é tarefa política, é tarefa de cada um de nós. Mas um mundo melhor para os nossos filhos faz-se com melhores cidadãos. E essa  mudança para melhor é sempre não-violenta.

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