Este trabalho de pesquisa podia chamar-se "os salteadores da arca perdida" ou Indiana Jones na terra dos afectos…
No fundo, a psicoterapia é procurar as ligações/vínculos que são os factores protectores da nossa vida psicológica e da nossa vida.
Nesse mundo de aventuras os factores de risco parece que são sempre, à medida que nos vamos desenvolvendo, mais difíceis e imprevisíveis antes de se atingir o objectivo. O que acontece é que no nosso tempo estes laços são muito frágeis devido às situações familiares e sociais complexas em que vivemos:
- separações familiares disfuncionais,
- violências hard e soft, guerras, acidentes de viação, doenças,
- perturbações do quotidiano: stress, falta de tempo ou tempo a mais (desemprego…).
Se viver é um risco nem sempre é fácil aceitá-lo. Por isso se desiste.
As crianças também vivem este contexto e correm risco de perturbação de desenvolvimento.
É neste ponto que nos podemos perguntar para que serve a psicologia? Para voltar atrás à procura das ligações, das pontes caídas, e descobrir que caminho podemos seguir para melhor podermos passar para o outro lado, o lado do equilíbrio psicológico.
Ao longo do desenvolvimento deparamos com muitas situações de perigo: real ou imaginário, tão importante como o real. Algumas estão devidamente assinaladas e os sintomas são claros para sabermos o caminho mas outras merecem um cuidado especial por parte do psicólogo.
Tenho vindo a deparar com mais frequência com situações de luto e de depressão infantil. Não são situações relativas a esta ou àquela crise social. O que acontece é que hoje estamos mais atentos e as razões indicadas acima não são de hoje mas têm vindo a contextualizar a sociedade actual.
Muitas vezes estas situações não perfazem totalmente os critérios para podermos falar de depressão infantil mas aparece num sentimento de tristeza associado à perda do objecto do afecto ou à ausência do objecto de afecto ou à insegurança que é sentida pelas dificuldades de ligação ao objecto do afecto.
Os sintomas são as conhecidas “dores de barriga” associadas a choro, mais ou menos persistente, mas com força suficiente para perturbar a frequência regular das aulas, necessária para não se perder o fio à meada do currículo.
O sentimento de perda está normalmente presente. E um pormenor pode desencadear o processo: uma situação de perda da autoestima, um insanável conflito parental onde a criança é a última a ser considerada, um horário com “furos” e sem objectivos, e as secas à porta da escola porque os pais nunca chegam a horas à saída...
Estas crianças apresentam medos difusos, não concretos e objectivos. E como sabemos o medo inventa coisas terríveis como se fossem reais.
Como podemos explicar às crianças que essas coisas terríveis não são reais, não existem ?
Os pais têm que estar atentos aos sintomas que podem aparecer e que são resultantes das actividades escolares ou das interacções entre pares no tempo que os filhos passam na escola.
Mas não se esqueçam que a procura da esmeralda perdida deve começar em casa, onde reside muitas vezes a forte ligação a um filho que não pode ter dúvidas acerca do amor dos pais, algumas vezes está na escola ou no caminho para a escola. Ou não.
O mundo afectivo dos pais pode desabar, e aí é necessário procurar ajuda, mas a ligação aos filhos tem de ser mais forte do que tudo o que nos possa acontecer.
Já aqui falei que este seguro afectivo deve fazer parte do enxoval do bebé de qualquer casal que vai ter um filho. Os pais deveriam ter o compromisso, perante qualquer perigo, de nunca romperem esse seguro afectivo.
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