"A sabedoria é uma questão antiga, milenária e, também uma questão psicológica actual".
Não é um assunto ultrapassado ou uma coisa das pessoas idosas. A sabedoria foi sempre preocupação dos povos e as características das pessoas sábias são descritas desde há muito séculos. Falamos de sabedoria popular, da sabedoria da velhice, da sabedoria dos que nos governam ou da falta dela. Há o Livro da sabedoria e ficou famosa a sabedoria de Salomão...
A psicologia trata a sabedoria como um conceito complexo que apresenta diversas dimensões: a dimensão cognitiva, a dimensão afectiva e a dimensão da vontade.
Quem é sábio deve ter várias competências:
- elevado conhecimento sobre os problemas do quotidiano;
- capacidades reflexivas e de análise;
- elevado conhecimento sobre as diferenças de valores e de prioridades;
- capacidade para compreender e para gerir a incerteza
- e elevados níveis de desenvolvimento do eu.
Por isso podemos ver que são raros os sujeitos que manifestam sabedoria. E todos os dias nos surpreendemos com o comportamento do ser humano: os casos de corrupção, de favorecimento próprio ou de amigos, os interesses das famílias políticas, de lóbis, de grupos organizados mais ou menos secretos têm mostrado que o ser humano é pouco sábio.
A sabedoria põe em equilíbrio os interesses do indivíduo, dos outros e do contexto em que vive: o interesse pelo seu país, pela sua cidade ou pelo meio ambiente (Sternberg)
Num estudo sobre o desenvolvimento do juízo reflexivo os sujeitos que se situam no nível mais elevado são capazes de:
- desenvolver juízos acerca de problemas difíceis da vida,
- reconhecer os limites do conhecimento pessoal,
- manifestar consciência das incertezas que caracterizam o conhecimento humano,
- reconhecer que o conhecimento resulta de um complexo processo de síntese de evidências e de opiniões,
- mostrar humildade quanto à potencialidade do seu raciocínio face a tais limitações.
Estes aspectos são um pré-requisito da sabedoria (Kitchener e Brener).
Num estudo efectuado em Portugal, verificou-se que havia
- poucas respostas de sabedoria,
- um número mais elevado de respostas de sabedoria no grupo de adultos da meia idade do que nos restantes grupos de idade,
- respostas equivalentes nos professores e nos profissionais não professores.
Isto quer dizer que hoje precisamos de pessoas sábias.
O saber não parece ser suficiente para se ser sábio. O saber poderá ser um pré-requisito para se ser sábio mas isto não significa que as pessoas sejam sábias. Temos até muitas pessoas que sabem muito. Veja-se a quantidade de comentadores-políticos e políticos-comentadores (ou economês-politiquês) que têm muito saber e pouca sabedoria dada a crise que aí está.
O mais interessante é que se zangam muito uns com os outros e são completamente incapazes de analisar o ponto de vista do outro mesmo que esteja certo.
Os clichés, as cassetes, são repetidos até à exaustão. Os mais velhos que deveriam ter entrado na idade da sabedoria andam muito crispados (para usar um termo inventado pelos próprios), falam de revolução, de rua, uns, ou de Salazar, outros.
Ora a essência da sabedoria reside na consciência de que o conhecimento é falível e limitado, isto é, na consciência do que se sabe mas também do que não se sabe e na assunção de uma atitude crítica face às crenças, valores, conhecimentos, informações e capacidades que levam, simultaneamente, a saber duvidar.
A sabedoria não se manifesta no que a pessoa sabe mas no modo como encara e usa o conhecimento que possui em si próprio, na relação com os outros e no meio em que vive.
Baseado no artigo de
Marchand, H. (2006) «Por que a sabedoria dificilmente poderá ser ensinada nas escolas - uma resposta a Robert Sternberg», in Simões, M.C.T. et al. (ed.) - Psicologia do desenvolvimento - Temas de investigação: Coimbra: Almedina
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