O sintoma aflora, ciclicamente, na sociedade, com mais ou menos humor, com mais ou menos educação. Lembrem-se do "não pagamos" do tempo da M. Ferreira Leite, uma má educação inconsequente: agora pagam mais e estão calados, aliás, o grupo do não pagamos estará de volta logo que os socialistas sejam apeados.
E alguns chamaram-lhe a "geração rasca", terminologia, nessa altura, recuperada para "geração à rasca".
Mas o sintoma merece uma análise profunda do que se passa. Creio que há jovens que estão genuinamente neste movimento e esses devem merecer o nosso respeito e, já agora, o respeito do poder.
O problema "geração casa dos pais", da falta de autonomia, de um percurso académico interminável, de uma quase completa dependência económica, leva a coleccionar formações. Mas continuam sem uma identidade profissional que dá razão aos que falam da "juventude à rasca".
A análise dos factores de contexto deveriam permitir maior equilíbrio de forma a poder compensar um com outro sempre que se vão acumulando pressões suficientes para não esconder mais o mal-estar.
Em vez disso, vamo-nos comprazendo com estas ilusões de uma dupla visão (ou duplicidade) acerca da adolescência.
Jovens porreiros e vítimas (geração simpática e generosa que tem direito a casa, automóvel e emprego) vs jovens passivos e mal educados (o que eles querem é que tudo lhes caia do céu, isto é, do estado social, sem arriscarem nada, emprego seguro, sem iniciativa) ...
Um estudioso da adolescência, M. Debesse, já nos alertava para duas ilusões a evitar: a primeira vê a adolescência como um valor absoluto. Cada adolescente tem o seu ritmo de desenvolvimento e as suas manifestações, tem grandes variações segundo o sexo, segundo o meio, segundo as constituições e os temperamentos. Por isso há várias histórias de desenvolvimento e vários tipos de desenvolvimento. Daí que levados ao absurdo do absoluto não haveria adolescência mas adolescentes.
O segundo erro seria pensar que a juventude muda conforme as épocas: a juventude de 1900, dos anos 20, do pós-guerra, do Maio 68...
Mas acreditar que ela se identifica com esses sucessivos vestuários de empréstimo que cada geração tem a sua juventude profundamente diversa da da geração precedente é uma ilusão de moralista amador e apressado. (Pag 20)
O que se passa hoje poderá ter alguns aspectos particulares. Mas há nesta roupagem nova, uma juventude que é as duas coisas. Bronfenbrenner explica melhor esta situação da juventude com a ideia de contexto primário e secundário. Na nossa sociedade, o contexto secundário tem sido desvalorizado com prejuízo para o desenvolvimento de cada um.
O contexto primordial de desenvolvimento é aquele em que a pessoa pode observar e comprometer-se em actividades conjuntas gradativamente mais complexas, com a orientação directa de pessoa, ou pessoas, que já possuem habilidades e conhecimentos que ela ainda não possui, e com quem ela tenha uma relação afectiva positiva.
O contexto secundário de desenvolvimento é aquele em que são dados encorajamento, condições e oportunidades, para a pessoa fazer, sem a orientação directa de outras pessoas, aquilo que ela desenvolveu no contexto primordial.
O que estamos a fazer para que o contexto secundário promova as oportunidades que os jovens precisam para adquirirem a sua identidade ?
Na mouche!!!
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