16/03/11

Nem fábrica, nem cretino, nem tolos, nem tudo...

Manifestação 12 de Março (Profblog de Ramiro Marques)


A "Fabrica do cretino" foi livro que deu alguma polémica em França. Alguns comentários:
Ce livre, qui prend des allures de pamphlet, est aussi excellent qu’affolant. Depuis l’avènement de la Nouvelle Pédagogie, c’est l’hécatombe : éradication du savoir, faillite organisée de l’enseignement, renoncement à la culture, l’école s’épuise juste à formater par le bas des « apprenants » qui seront ouvriers malléables et corvéables à merci pour une industrie immédiate. L’honnête homme et la littérature ont disparu, tout au plus mettra-t-on sur le même plan une biographie d’une star loftstorienne et une œuvre de Racine.
O livro referia-se ao dono da fábrica.
As políticas de educação têm sido objecto de análise,  por toda a Europa, por muita gente.
E ainda bem que é assim. Era só o que faltava não termos a liberdade de dizer e escrever sobre o que se passa numa instituição onde estamos, por onde passámos e onde temos os nossos familiares.
Não me parece que tenham sido apenas os neo-liberais e os pseudo-libertários a fazerem o trabalho de formatação. Há outros, do centrão, que também têm a ver com isso.
Como em tudo, há quem pense a realidade e há quem viva em Marte. 
Os que passam o seu dia de trabalho na escola têm os pés bem assentes na terra e sabem melhor o que querem para os alunos do que aqueles que vivem da elaboração de relatórios no país ou em instâncias internacionais como a Unesco.
Felizmente o terreno, professores e alunos, responde com muito mais pragmatismo do que os políticos da educação pensam.
No editorial da "Ensino Magazine", J. Ruivo faz-nos pensar a sério sobre o assunto. Uma escola para tolos parece ser o corolário a que nos levaram as medidas que nos últimos anos têm sido tomadas no nosso sistema de educação.

Da escola para todos, passámos a uma escola para tudo, substituindo-se ao papel da familia, das instituições sociais e comunitárias, uma escola para tudo e a tempo inteiro (aec's), tecnocrática (tecnocratas da mochila, como diz Eduardo Sá), com professores a duplicar no estudo acompanhado, área projecto, escola centro de animação cultural municipal, laboratório de pedagogia experimental e de processos de socialização (área escola, área-projecto), centro de mercantilismo. É, por isso, que com tanto estudo acompanhado, projectos e mais projectos, a instituição "explicações" está aí de pedra e cal, quase sempre para os melhores alunos.
Simultaneamente,
"aos professores, era exigido que reincarnassem de novo: uns em avaliadores, outros em avaliados; uns em directores, outros em assessores, outros em assessorados; uns em titulares, outros em titulados. E desta vez, a culpa não iria morrer solteira. Era preciso desviar as atenções: o resvalar da escola não se podia correlacionar com o acumular dos insucessos de continuadas e desastrosas políticas educativas. Com o derrapar da instituição escolar, a responsabilidade tinha que ser apenas atribuída a um dos actores: aos docentes, claro… e, logo, à sua falência profissional. Acreditam? Pois… é a escola para tolos." (Ensino Magazine, nº 156).
A realidade eliminará a ficção em que se caiu ao pensar que é com este tipo de avaliação que se vai aumentar a qualidade da educação.
Ao contrário, o sistema educativo e social não pode deixar de equacionar  que é no espírito crítico que está a diferença das pessoas. E, desde sempre, em todas as gerações, é necessário fazer a desformatação da obediência serviçal e rotineira que o sistema, às claras ou de forma oculta, tem para nos "presentear". 
Por isso, a escola, com lideranças mais ou menos cretinas, com mais ou menos dificuldades, com mais ou menos ideologia é o local onde se cruza o desenvolvimento pessoal com o desenvolvimento social e cultural. E aí, nesse cruzamento, estão os professores e os que trabalham na escola.
O cretino, como diz Brighelli, não é uma fatalidade e os "tolos" nem sempre se deixam enganar com papas e bolos.

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