22/03/11

Quando uma criança não aprende a ler

A TVI passou recentemente um documentário sobre um aluno do 8º ano que não sabia ler nem escrever.
O tom da reportagem era de grande admiração por haver alunos naquela situação.
Não quero falar do caso em concreto porque  não o conheço e pelos motivos óbvios.
Mas, genericamente, em relação a este problema, pode-se dizer que alguma coisa está errada na reportagem e na mensagem que se pretende fazer passar.
Efectivamente, há crianças que não aprendem a ler nem escrever e muito menos a compreender o que lêem. 
Alguns pais não compreendem, outros não querem compreender, e pelos vistos há pessoas que deviam estar mais bem informadas que também não entendem.
As estatísticas dizem-nos que há pessoas que não conseguem fazer este tipo de aprendizagem devido à falta de capacidades para adquirir os níveis mais elementares da leitura e da escrita.
Estou a falar dos défices cognitivos classificados pela OMS. Se tivermos em conta que na deficiência mental moderada se encontram  cerca de 10% da população com deficiência mental, na deficiência mental grave, 3% a 4% e na deficiência mental profunda, 1% a 2 % (DSM IV), será fácil imaginarmos os alunos que não vão aprender a ler e escrever!

Percentagem de crianças e adolescentes com NEE por categoria (L. M. Correia)

Parece-me que este tem sido também o equívoco de alguns técnicos de educação que não querem ver esta realidade.
Há depois as dificuldades especificas de aprendizagem. Não me refiro às dislexias ligeiras mas a verdadeiras alexias em que um aluno embora com uma inteligência que se situa dentro da média ou abaixo da média não é capaz de fazer as aprendizagens da leitura e da escrita, apesar de ter passado por várias experiências de aprendizagem e diversas metodologias .

Com a chegada da escola para todos os alunos havia de se chegar a este ponto.
O que é estranho é poder imaginar-se que as coisas eram de outro modo.
Teoricamente, poderíamos pensar que de acordo com as teorias behavioristas, conforme diria Watson "dêem-me uma criança e farei dela o que quiser", poderíamos  fazer aprender a leitura e escrita a todas as crianças.
O mesmo se passa na teoria de instrução de Bruner que adoptando a metodologia por ele preconizada se chegaria  a essa situação.
No estado actual dos nossos conhecimentos, isso não é verdade, efectivamente.
O que acontece é que para se poder atingir as competências da leitura e da escrita é necessário que se tenha atingido um nível de desenvolvimento cognitivo que o permita fazer. Isso não acontece com determinados alunos.
Mesmo quando se coloca o desafio de ser capaz de ensinar a ler e a escrever um aluno com estas características, acaba-se, ao fim de quatro anos de escolaridade por se chegar à conclusão que isso não vai acontecer.
Pode-se modificar o contexto: estratégias, metodologias, actividades, etc. que, de facto, ainda não temos forma de conseguir ultrapassar esta dificuldade.

É necessário, por isso, a presença de pessoal especializado na escola para a realização de um diagnóstico diferencial. Sem isso, é andar às escuras, e as tarefas da aprendizagem são mera perda de tempo.
Outra questão é responder à pergunta: então o que faz um aluno destes no 8º ano? Não devia permanecer no 2º ano de escolaridade até saber ler e escrever ?
A experiência ensinou que este sistema não era solução e que não era por isso que os alunos aprendiam.
Não estamos a falar de alunos com dificuldades de aprendizagem. Mas de alunos que necessitam de currículos práticos onde a leitura e a escrita sejam meramente funcionais. 
É por isso que não é solução todos os alunos frequentarem o mesmo currículo no 5º ano de escolaridade, quando já se provou que o aluno não aprendeu a ler nem a escrever, às vezes com várias retenções que não serviram para nada .
A partir do 7º ano isso não faz qualquer sentido.
E o que dizer da escolaridade obrigatória de 12 anos para estes alunos ?
É injusto e ignorante acusar a escola de não fazer aprender estes alunos. Antes de acusar a escola  é necessário saber primeiro o que se passa.



2 comentários:

  1. papo furado bobeira nao disse nada

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  2. bobeira paspo furado precisa ensinar ensinar eter perseveramnça

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