Esquema proposto pela Neuropsicologia Cognitiva para interpretar as
diferentes etapas do tratamento da informação durante a leitura (C. Caldas)
diferentes etapas do tratamento da informação durante a leitura (C. Caldas)
As dificuldades escolares das crianças têm gerado alguma confusão no que se refere a situações mais complexas da aprendizagem. É o que se passa com a dislexia.
Nem sempre a informação que se encontra na internet é esclarecedora. Mas também nem todas as pessoas que falam destes assuntos nos esclarecem.
Isto tem alguma explicação para ser assim. No estado actual dos nossos conhecimentos há diversas teorias explicativas e nem todas são coincidentes.
Apesar de estar definida nas perturbações da aprendizagem, trata-se de um conceito não estabilizado.
Para efeitos práticos, um dos cuidados a ter neste assunto como nos assuntos da psicologia diz respeito ao profissional consultado.
Os pais devem saber se se trata de um psicólogo, isto é, dito de outra forma, se se encontra inscrito na Ordem dos Psicólogos, condição para se poder exercer a psicologia.
Não é uma mera questão corporativa. Trata-se de garantir uma avaliação rigorosa e fidedigna.
Depois é necessário saber se o psicólogo faz avaliações e intervenções nesse campo.
Mesmo assim podemos estar perante relatórios de psicólogos que seguem diagnósticos diferentes e propõem soluções diferentes. Porque não usamos os mesmos instrumentos de avaliação porque partimos de concepções teóricas diferentes.Muitos destes relatórios levantam imensas dúvidas e levam a suspeitar que quem avaliou as crianças não teve em consideração todos, os critérios necessários, ou, pelo menos, os mais importantes, para que o diagnóstico seja efectivamente rigoroso.
Sabemos que há determinados modelos teóricos que levam a que a criança seja caracterizada como disléxica quando não cumpre rigorosamente alguns critérios para que isso aconteça.
Há no entanto alguns consensos a que podemos chegar. Já referimos aqui alguns critérios fundamentais.
A dislexia é um problema neurológico em que se pode atenuar a dificuldade da leitura mas vai permanecer ao longo da vida. É uma dificuldade específica de aprendizagem.
Para além da teoria fonológica que parece ser a mais consensual, actualmente, não se pode concluir por um défice fonológico em todos os disléxicos mas concluir-se que existem várias dislexias.
S. Casalis, e A. Padioleau (1), referem as teorias seguintes:
- Fonológica - parece ser esta capacidade a mais severamente atingida nos disléxicos e parece estar em jogo mais a linguagem oral do que a visão. Ora descobriu-se, nos disléxicos anomalias anatómicas em certas regiões do córtex implicadas na linguagem. O postulado da teoria fonológica é então o seguinte: Os problemas da leitura nos disléxicos poderiam vir duma má representação ou dum tratamento inadequado dos fonemas.
- Visual – mantém-se hoje esta perspectiva. Parece que alguns disléxicos têm uma visão menos sensível aos contrastes. E quando se lhes pede para seguirem um alvo em movimento, fazem-no com dificuldade. A sua visão periférica parece estar afectada com défices na persistência visual. É, no entanto, difícil saber se estes problemas estão na origem das dificuldades de leitura.
- Temporal (P. Tallal) – esta perspectiva chama a atenção para a dificuldade em distinguir os sons que se sucedem rapidamente. Os disléxicos não seriam capazes de perceber as variações rápidas na palavra.. Não há, no entanto, consenso relativamente a esta teoria.
- Motora - esta perspectiva (R. Nicholson) defende que é ao nível do cerebelo que está a origem dos problemas de dislexia e os disléxicos têm performances reduzidas a nível do equilíbrio, da sincronização e dos automatismos.
Em conclusão, continua a investigação acerca deste assunto, embora a perspectiva fonológica seja a que merece maior consenso.
Quando as dificuldades são muito graves deve analisar com o director de turma ou com o professor titular de turma se o aluno deve ou não ser incluído nas necessidades educativas especiais.
Esta inclusão deve ser feita até final do 6º ano, a fim de que o aluno possa beneficiar das adequações especiais de avaliação nos exames nacionais.
Caso contrário, não poderá beneficiar dessa situação.
A avaliação completa será efectuada pelo psicólogo, em equipa com professor e os pais para poderem responder às necessidades da criança.
Às vezes, as crianças não aprendem porque não querem; às vezes não aprendem porque não podem e elas são as primeiras a sofrer com isso. Quando isso acontece, merecem todo o nosso apoio.
(1) S. Casalis, e A. Padioleau (2003), «Dyslexies plurielles», Science et Vie, nº 222, pag. 108-113.
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