14/10/10

A cegueira dos rácios

Os rácios utilizam-se em quase tudo. Utilizam-se na vida financeira e na gestão dos recursos humanos.
Um rácio mais não é do que o quociente entre duas grandezas geralmente extraídas directamente da informação da gestão contabilística ou da gestão dos recursos humanos de uma organização..
Às vezes parece que os rácios são uma “bola de cristal” para resolver os problemas da organização e para se ter igualdade no tratamento das várias organizações.
Mas os rácios deviam ser simplesmente um instrumento de apoio da gestão, para sintetizar os dados e comparar o desempenho da organização e a sua evolução no tempo.
Convém alertar que este instrumento tem bastantes limitações, devendo ser usado com prudência, sob pena de se tirarem conclusões no mínimo com pouco significado, senão mesmo incorrectas. Pelo que a sua aplicação posterior pode trazer disfuncionamentos à organização.
E é o que acontece: os rácios são muitas vezes aplicados de forma cega.
Veja-se o que se passa com os recursos humanos no sector de educação.
O início deste ano lectivo foi bastante atribulado no que diz respeito aos auxiliares de acção educativa agora designados por assistentes operacionais. Enfim…
O que acontece é que não são contempladas correctamente as necessidades de auxiliares para as escolas.
Assistimos a manifestações de auxiliares a pedirem mais pessoal para as escolas, vimos manifestações de pais a pediram mais auxiliares para tomarem conta dos filhos. (Exemplos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7).
Nas escolas que recebem alunos com necessidades especiais este problema torna-se ainda mais complexo.
Não é a mesma coisa quando temos 5 alunos com necessidades educativas especiais (NEE) ou quando temos 50 alunos com NEE.
E mais. Cada aluno é um caso muito específico. Há alunos que podem necessitar de um auxiliar quase a tempo inteiro.
Imaginemos, por exemplo, o caso da paralisia cerebral. Há alunos que conseguem ter uma autonomia pessoal nos auto-cuidados muito significativa e há outros alunos em que a autonomia é muito reduzida ficando dependentes do auxiliar de acção educativa na alimentação, na higiene, na locomoção, etc.
Os rácios tratam apenas dados quantitativos. Mas por trás de cada rácio quantitativo e frio há situações concretas e humanas.
Em educação estamos a lidar com estas situações humanas. Isto é, são crianças e jovens que têm problemas especiais e que têm direito a estar na escola e por isso têm de ter um apoio educativo que não se coaduna com os rácios cegos definidos para todas as escolas de todo o país.

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