04/03/10

Gestão de carreiras absurdas

Na administração pública há carreiras completamente absurdas, como, por exemplo, a dos técnicos superiores.
Vejamos. Se um trabalhador for avaliado como excelente, isto é, se em todos os anos da sua vida de trabalho for avaliado com excelente, são necessários 56 anos de trabalho para chegar ao topo da carreira. Mas se o trabalhador for muito bom, isto é, se for classificado com muito bom, precisa de 70 anos de serviço para chegar ao topo da carreira. Se for considerado bom trabalhador precisa de 140 anos para chegar ao topo da carreira…
Então para quem é uma careira destas ?
A avaliação de desempenho individual serve para posicionar o trabalhador nesta carreira absurda. Portanto, é fácil concluir pela falta de seriedade de tudo isto.
Segundo C. Dejours (1) , nos últimos anos, três ferramentas de gestão mudaram profundamente o trabalho:
- a avaliação individual do desempenho,
- a exigência de “qualidade total”,
- e o outsourcing.
Vamos falar hoje, apenas, da avaliação de desempenho individual.
A avaliação de desempenho individual é um instrumento que modificou totalmente o mundo do trabalho.
A máxima “cooperar internamente para competir externamente” deixou de fazer sentido.
A avaliação de desempenho individual pôs em concorrência não só os serviços e as empresas mas também os indivíduos.
“As pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: “O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho.” Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe…”
Foi doloroso assistir ao que se passou em Portugal quando se defendia a avaliação de desempenho como a única forma de avaliação na função pública, com maior evidência no caso da avaliação de desempenho dos professores, como se não houvesse amanhã, com a perturbação que isso causou e continua a causar nos serviços e nas escolas.
Porém, em outros países há empresas e alguns patrões que começaram a abandonar a avaliação de desempenho individual.
"Esses patrões estavam totalmente fartos dela. Essas pessoas (como acontece por cá nas empresas e na administração) o que mais odiavam no seu trabalho era ter de fazer a avaliação dos seus subordinados e que essa era a altura mais infernal do ano".
Além disso, não servia para nada: apenas para semear injustiças…e colher ódios.
Os bons resultados, a produção e a produtividade de uma empresa, estão, assim, ligados à cooperação dentro da empresa, ao ambiente de confiança mútua, de lealdade, onde ninguém tem medo de dizer o que pensa e não à avaliação de desempenho individual.

(1) Christophe Dejours ver aqui

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