A minha escola
está virada ao sol e à chuva
aos calores do Verão
e aos rigores do Inverno.
Aos dias escuros do desânimo
sucedem dias claros de esperança.
Pela porta da minha escola
entram marés de alunos
e alunos de marés.
Trazem da cidade os sons
e as suas formas de estar,
trazem o toque e o sotaque
das cores vivas das diferenças.
Crescem nela ervas daninhas
que levam tempo a secar.
Às vezes fica suja
da civilização do consumo
e os caixotes do lixo
nunca são suficientemente grandes
para as sobras dos bolsos e das mochilas.
Quando há festa
nota-se um brilho maior
nos olhos dos meninos
que só se apaga nas paredes velhas
nos pátios tortos
nas carteiras gastas de tanta idade.
A minha escola está virada às palavras
que povoam os livros, os quadros,
as paredes, o WC, as carteiras …
Palavras bonitas e difíceis
de namoros infantis: João love Catarina
palavras de paixão que não se dizem
palavras de ofensa para a mãe
palavras manhosas que andam pelo ar do recreio
em cada remate à baliza
em cada encontrão
palavras de desculpa e gratidão
palavras tristes sublinhadas com lágrimas
palavras de encontro e desencanto
de cansaço e de esperança.
Palavras.
A Joana anda apaixonada
o Pedro do 5º abandonou a escola
o João teve a primeira nega da vida
a Rita fugiu de casa
o Francisco anda triste.
Mas em cada regresso a casa
o António leva sem saber
lá no fundo de um caderno
um pedaço do seu futuro.
A minha escola passou-me
com o tempo, tanto trabalho,
que me deixou viciado.
E agora, 50 anos de vida,
não sei como me hei-de ir embora.
Carlos Teixeira
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