09/03/10

Os cinco na casa abandonada

          
Falar de indisciplina na escola? Talvez falar de alguns alunos que frequentam a mesma escola e que podemos incluir no contexto real da indisciplina:
M. 12 anos, vive com a avó, o pai nunca se interessou por ele, não o conhece. Diagnóstico: perturbação de oposição, absentismo, dificuldades de aprendizagem, terceira matrícula no 5º ano.
J. 13 anos, vive com a mãe "o meu pai é um drogado, separou-se da minha mãe”. Diagnóstico: perturbação do comportamento, absentismo.
J. 12 anos, “não sei se estão separados ou não, mas só vejo o meu pai no fim de semana”. Diagnóstico: défice de atenção com hiperactividade, absentismo, risco de abandono.
M. 11anos, líder na escola, vive com os pais, os colegas têm receio de lhe desobedecer. Diagnóstico: problemas de comportamento: ameaça ou intimida outros, lutas corporais, pequenos furtos na escola e em estabelecimentos comerciais.

Não se sabe muito bem porquê nem como mas acabaram por se conhecer e passado pouco tempo verificaram que tinham algo em comum, não se sabe bem o quê, talvez a linguagem fosse mais acessível, talvez porque tinham insucesso escolar semelhante, isto é, um número de negativas semelhante, a todas as disciplinas menos nas expressões, talvez porque tinham comportamentos parecidos e se encontravam com frequência quando eram postos fora da da sala de aula, talvez porque a acção do líder os tinha vinculado pelo medo “se não o podes vencer junta-te a ele”. Talvez , no fundo, tivessem algum objectivo: Ter um grupo de amigos, vaguear pela cidade, por aí…

Por sua inciativa faltavam com frequência às aulas. Contrariamente ao que se pode pensar, passar o portão da escola, para eles, não é difícil: falsifica-se a assinatura do encarregado de educação, salta-se o gradeamento, ou arranja-se um esquema qualquer.

Segue-se a atracção por sítios de aventura, onde se corre algum risco e onde se desafia o medo, o seu próprio medo e o medo dos outros. Os sítios secretos por onde se passa, onde só alguns passam, os adultos não cabem nesse sítios, no meio das silvas, nos buracos estreitos…

Uma particular atracção pela casa abandonada, onde ninguém fala, em princípio não se encontra ninguém ou ninguém se encontra e onde se ouve apenas os seus próprios passos, os passos dos colegas e ruídos estranhos… O que esconde aquela casa, que segredos por trás das portas, que quartos misteriosos, que rostos se escondem por ali, talvez o espírito do visconde, antigo proprietário da casa, ainda vagueie por aqueles corredores...

A respiração é ofegante, a cada passo novo desafio. É preciso forçar a porta para se passar. Aquela casa já teve gente. Onde estarão todos ? Todos mortos ? A casa ainda tem paredes mas já não funciona como casa.

Os quatro fazem, de vez em quando, o percurso destes sítios abandonados da cidade pelo desafio da descoberta, aventura e enfrentamento do medo.
A aventura enfrenta o medo mas descobre-se que o caminho está errado, às vezes demasiado tarde. Ou não. Como nas histórias de Enid Blyton, no que tem de aventura, mas diferente no que tem de abandono.

Falta ainda um elemento: o cão Tim. Na questão da indisciplina é para aí que o debate tem estado voltado, mas talvez seja o momento de nos preocuparmos com os alunos.

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