30/06/24

Construir



Manuel Cargaleiro (Mata dos Loureiros – Castelo Branco)

“Quando um artista encontra o seu caminho, é a grande felicidade” - Cargaleiro (Entrevista à RTP)

1927-2024

29/06/24

“Não me fales nesse tom de voz”

 








 

A voz é um instrumento elementar e imediato de que o ser humano dispõe para comunicar com os outros, com o mundo. Nem sempre da melhor maneira. Temos essa experiência. Quando alguém nos irrita começamos a falar mais alto e terminamos a gritar. Basta estarmos mais nervosos para ficamos com a voz mais trémula ou até chegamos a perdê-la (afonia de conversão).

Ou seja, modificamos a voz de forma automática e inconsciente quando estamos em situações dominadas por  emoções como  raiva, surpresa ou felicidade.

Quando alguém vive em conflito com outra pessoa, o que acontece frequentemente num casal, o tom de voz denuncia esse conflito. Na comunicação interpessoal temos o hábito de ir levantando a voz até chegar ao grito para transmitir a nossa razão. E o hábito muitas vezes passa a ser: falar aos gritos.


“O resultado de uma pesquisa sobre a forma de nós comunicarmos (A. Mehrabian, citado por Xavier Guix, Ni me explico, ni me entiendes, pag. 49) concluiu que a comunicação por palavras corresponde a 7%, o tom de voz a 38% e a linguagem corporal a 55%,  quer dizer, o corpo fala mais alto que a voz e que as palavras.“

De facto, a voz é um elemento fundamental da comunicação. “A nossa voz faz ressoar os nossos dados internos. A voz revela tudo de nós ainda que  não nos demos conta disso. Os problemas que com frequência temos com a voz, alguns inclusive crónicos, têm uma relação directa com conflitos emocionais não resolvidos.” (idem)


Levantar a voz é uma forma de reagir emocionalmente à fala, às atitudes e comportamentos do outro. E aqui aparecem todos os tipos de voz possíveis que levam à escalada nos decibéis e nos conteúdos mais agrestes ou, pelo contrário, à desescalada e podemos ter uma conversa com as interações que os adultos devem ter (estado Eu Adulto, em Análise Transacional).

Se não houver nenhum problema fisiológico ou uma perturbação  da fala, o resto são problemas emocionais.

Conhecemos as pessoas pelo seu tom de voz. Nesse tom de voz há traços da idade, sexo, personalidade e, obviamente, estado emocional do indivíduo. 

“Eu conheço esta voz de algum lado”, ou então, como verificamos quando se faz autoscopia, podemos ficar impressionados e incrédulos, pela primeira vez, com a nossa voz. “Este sou eu?” “Horrível !” “Eu falo desta maneira?”

A voz é, de facto, única e nem sempre é agradável e melodiosa  mas “rouca”, “gasta”, “irritante”, “cansada”, com disfluências e “bengalas linguísticas” ... 


Os filhos conhecem a voz dos pais, ou os alunos do professor, conforme as suas emoções e adivinham o que se vai seguir na comunicação entre eles: que mensagem se quer transmitir pela palavra, tom de voz e comunicação não-verbal (gestos, olhares, expressões faciais), tornando cada indivíduo único e diferente  dos demais.


É importante saber que a nossa voz é única e que podemos melhorar a nossa comunicação com os outros. Os nossos comportamentos estão ligados à nossa voz. Por vezes, temos dificuldade em controlar a nossa voz porque não somos capazes de controlar as nossas emoções. 

Na vida social, na relação familiar, na educação das crianças, o domínio da voz é fundamental. Então, comecemos por controlar as nossas emoções melhorando o tom de voz tantas vezes desagradável para os outros. Claro que não é fácil...

 





23/06/24

“Acredito porque é absurdo”

Tudo não passaria de uma questão fútil e sem sentido, que não me levaria a escrever uma linha sobre o assunto, não fosse o quererem envolver as pessoas numa aceitação tácita de todos os disparates que querem promover. “O que é que isso te incomoda? Cada um faz o que quer, cada um é como quer"; "A ideologia de género é de tal modo absurda que não vale a pena gastar um segundo a falar do assunto"... É verdade que essa é a atitude de muita gente tolerante e tudo isso pode estar bem assim... 

O problema é quando fazem propaganda nas escolas impondo, de forma obrigatória, esta ideologia, contra os direitos das crianças e contra a vontade dos pais. De facto, há milhares de assinaturas de pais de alunos que não querem ver aprovada esta legislação. Falam de “Abuso e perigo”: pais não querem alunos a escolher nome, género e WC.

Como já vimos, a ideologia de género usa uma linguagem de frases feitas e é feita de irracionalidade. Por isso, interessa-lhes retirar a família, os pais, muitos professores, do assunto, e levar a “mensagem” à escola. Chegar à escola é o objectivo de qualquer propaganda. E as escolas têm vindo a ser inundadas de propaganda quer interesse ou não aos alunos, ou seja, semear o seu pensamento absurdo nas mentes infantis, ainda não suficientemente desenvolvidas, ainda sem capacidade crítica para contestarem essas falsidades.

Mas se é o próprio que deve saber e decidir quem é, não precisa da ajuda dos pais ou dos professores para isso, porque será que precisa destes “formadores” e de sessões de esclarecimento nas escolas? É que, como toda a gente sabe, assim asseguram que não há outras interferências dos pais ou dos professores, e até podem denunciar quem se oponha... Sabem bem que o caminho é envolver-se cada vez mais nos meandros da burocracia do estado, levando a incluir nos currículos esta matéria sem sentido. No meio da igualdade de género, lá vem a ideologia de género. Ora a primeira é para defender e a segunda para contestar.

António Damásio veio reiterar, em “O erro de Descartes”, que nós somos uma unidade corpo-mente e que um não existe sem a outra.
Pois não senhor, agora temos que aceitar que afinal o corpo pode ser separado da mente. Sendo homem, pode-se ser mulher, se se quiser, e vice-versa. Para quem nega a biologia, é interessante ter que aceitar a biologia para o conseguir, através dos bloqueadores da puberdade e de tratamentos hormonais.

Felizmente, cada dia que passa temos mais provas sobre um dos maiores absurdos do nosso tempo: a ideologia de género. Como refere J.-F. Braunstein (A Religião Woke), estes fanáticos não acreditam apesar de ser absurdo, acreditam porque é absurdo. (p. 21) E quem defende posições contrárias à ideologia de género está sujeito a ser censurado, desprestigiado, prejudicado...*

Quero, finalmente, dizer que este assunto devia ser assumido por todos os partidos. E todos os partidos deviam lutar pelos direitos das crianças, inclusive que as deixem viver em paz a sua infância. 
E, se fosse assim, nunca a legislação que foi aprovada no Parlamento, poderia ter lugar numa democracia, livre e racional.

Desejo umas boas férias a todos os pais que me ouvem. E, juntamente com os filhos, aproveitem viver este tempo de maior presença afectiva, depois de um ano de intenso trabalho.
Boas férias!


___________________________


* Alguma literatura que tem vindo a ser publicada. Embora não haja tradução em português, pode-se conhecer do que tratam através das sinopses, vídeos, artigos, que estão disponíveis na internet :
- Dora Moutot e Marguerite Stern, Transmania - Enquête sur les dérives de l' idéologie transgenre, (2024); 
- Abigail Shrier, Irreversible Damage - Teenage Girls and the Transgender Craze, (2021);
- Miriam Grossman, Lost in Trans Nation - A Child psiquiatrist's Guide Out of the Madness, (2023);
- Miriam Grossman, You are teaching my Child What? - A Phisician expose the Lies About Sex Education and How They Harm Your Child, (2009);
- Caroline Eliacheff e Celine Masson, La Fabrique de L' Enfant transgenre - Comment protégé les miners d'un scandal sanitaire, (2022);
- Maria Keffler, Detrans, & Detox - Getting Your Child Out of the Gender Cult, (2021)
- Mary Margaret Olohan, True Stories of Escaping the Gender Ideology Cult, (2024)




Rádio Castelo Branco



10/06/24

Re-Camões

                                


há uma linha subtil que tu partiste
no medo desmedido mas contente
uma causa cruel que não se sente
mas é a vida a terra que tu viste

se logo o vento vário não resiste
e a história ferida se desmente
não aqueças a dor da tua mente
nem a luz que nos olhos te subsiste

e se rires do pó o dissolver-te
em tanta coisa a cor que se mudou
na água tédio médio de só ver-te

corta as linhas maiores do que ficou
na sede  de partir e de perder-te
no chão como uma fonte que secou


Melo e Castro

 

06/06/24

A maldade e o tráfico de menores


Os avanços na protecção de menores têm servido para que a vida das crianças seja protegida e os seus direitos respeitados.
Apesar da legislação, em todo o mundo, continua a existir muita violência contra as crianças que deviam estar a salvo de abusos.
As estatísticas são terríveis em relação ao tráfico de pessoas no mundo em que uma grande percentagem são crianças.* As crianças representam 22 % das vítimas de tráfico de seres humanos. A maioria das crianças vítimas deste tráfico (quase 78%) são raparigas. (O tráfico de crianças, uma grave ameaça na UE, 2021)
O tráfico de pessoas constitui uma grave violação dos Direitos Humanos fundamentais e um crime grave

Enquanto andamos entretidos a fazer discursos sobre o tráfico de pessoas no passado, há adultos e crianças que estão a ser traficados, neste momento, para as piores formas de exploração a que as pessoas podem ser sujeitas.
"Diariamente, em várias partes do mundo, existem crianças que são compradas, vendidas e transportadas para longe de suas casas. O tráfico de seres humanos é um negócio multimilionário que continua a crescer em todo o mundo, apesar das tentativas de detê-lo." (Wikipedia)

Costumam ser identificadas algumas causas que podem levar ao tráfico de crianças. Segundo o Manual de Formação para a Prevenção do Tráfico de Crianças, não existe um conhecimento profundo sobre o tráfico de crianças, mas estão identificados alguns fatores macroeconómicos e geopolíticos, como: a pobreza, falta de educação, discriminação ou desigualdade de oportunidades, atitudes culturais, aliciamento, famílias disfuncionais, conflitos políticos, leis locais inadequadas...

O Papa Francisco no "Discurso Final no Encontro sobre a Proteção de Menores na Igreja", (in Vós sois a luz do mundo”, Paulinas, 2019, ou aqui), vem acrescentar à compreensão das causas deste fenómeno, o abuso de poder e o espírito do mal:
- Os abusos sexuais contra menores são sempre a consequência duma posição de inferioridade do indefeso abusado.

- O abuso de poder está presente também nas outras formas de abuso de que são vítimas quase 85 milhões de crianças: Exploração sexual, Exploração laboral, Servidão doméstica, Mendicidade, Atividades criminosas, Escravidão, Extração de orgãos...
 
- E acrescenta o Papa Francisco, “Perante tanta crueldade, tanto sacrifício idólatra das crianças ao deus poder, dinheiro, orgulho, soberba, não são suficientes meras explicações empíricas; estas não são capazes de fazer compreender a amplitude e profundidade deste drama. A hermenêutica positivista demonstra mais uma vez a sua limitação. Dá-nos uma explicação verdadeira que nos ajudará a tomar as medidas necessárias, mas não é capaz de nos indicar o significado. E hoje precisamos de explicações e significados. As explicações ajudar-nos-ão imenso no setor operativo, mas deixar-nos-ão a meio do caminho.
Qual seria então o significado essencial deste fenómeno criminoso? Hoje tendo em conta a sua amplitude e profundidade humana, só pode ser a manifestação atual do espírito do mal. Sem ter presente esta dimensão, permaneceremos longe na verdade e sem verdadeiras soluções.” (p. 29)

O problema tende a agravar-se. Os criminosos têm agora um recurso onde podem aplicar o seu espirito maléfico: a internet, com os jogos online e as redes sociais.


Até para a semana.

__________________________

* Escrevi sobre este tema em:
Para além da covid -19, a peste emocional (8-5-2020);
Tráfico de crianças (5-2-2020);
Maldade: o caso das crianças desaparecidas (10-12-17);
"Filhos do coração" (1-2-2017);
Os direitos da criança (10-5-2014).




Rádio Castelo Branco






02/06/24

Activas, proactivas, hiperactivas


A grande maioria das crianças são activas e nascem com competências motoras, cognitivas e emocionais que lhes permitem um desenvolvimento saudável. Esta é a constatação de psicólogos, educadores e pais na relação com as crianças. E sabemos que cada criança procura responder à interação com os adultos e com o meio, explorando tudo o que está à sua volta, primeiro o seu corpo e o da mãe e a pouco e pouco vai explorando tudo o que consegue tocar.

Todos os pais têm experiência do que acontece quando os filhos começam a andar e o que acontece às tomada eléctricas, às gavetas das mesas, às tralhas da casa de banho, em que a curiosidade e a proactividade fazem parte dos comportamentos da criança... enquanto está acordada.
Essa actividade e proactividade são fundamentais para o desenvolvimento da criança. Aliás sabemos que quando estão muito sossegadas é porque se passa alguma coisa.
Segundo Bion há três emoções fundamentais: Amor, ódio e epistemofilia. A criança, e os adultos, querem conhecer o que se passa no ambiente à sua volta.

Acontece que em confronto com as exigências da sociedade, em especial da escola, muitas crianças têm dificuldade em controlar alguns comportamentos motores e não estão facilmente adaptadas às condições e ao currículo que é suposto elas terem na escola. (1)
Acontece até que alguns comportamentos ultrapassam os limites das relações saudáveis com os colegas e com os professores.
Conhecemos casos de violência que não era suposto existirem na escola actual que se supõe ser mais evoluída do que a escola do passado.

De facto, nem sempre assim foi, e, antes, a autoridade e o poder do professor faziam com que as crianças fossem mais controladas. Claro que muito deste controle era um controlo exterior.
Com a "escola para todos", começaram a aparecer mais casos de comportamentos disruptivos.
Alguns podem configurar doenças, embora seja discutível como se chega a alguns diagnósticos como no caso das perturbações psicológicas. (2)
Bem sei que temos critérios para classificação dessas doenças referidos pelo Manual de diagnóstico e estatística de perturbações mentais – DSM - que já vai na 5ª edição. 

A perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) afecta cerca de 5% a 15% das crianças
Na Carolina do Norte foram diagnosticados 14% dos rapazes enquanto na Califórnia os casos ficaram nos 7%. (C. Gonzalez, Crescer Juntos, p.144)
Entretanto, muitos especialistas acreditam que a perturbação de hiperactividade é sobrediagnosticada, em grande parte porque os critérios são aplicados de forma imprecisa. 
Ora acontece que muitos destes critérios são avaliados em questionários, como a Escala de Conners, e respondidos por pais e por professores, o que revela um elevado grau de subjectividade nas respostas que são dadas.

Também não é de espantar que a idade da criança seja um factor a considerar. Quanto mais nova a criança mais instabilidade apresenta, ou seja, quanto mais maturação neurológica menos hiperactividade.

Ora se concordarmos que se trata de uma doença, só em casos verdadeiramente excepcionais devia haver medicação. (3) 
Há muito a fazer antes disso: Se as crianças tiverem mais actividade começarão a apresentar menos hiperactividade.

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(1) "... há crianças muito calmas e há crianças muitíssimo irrequietas, difíceis de controlar. Alguns estudos sugerem que uma em cada dez crianças é muito difícil de educar, por irrequietude, mas apenas uma em trinta virá, no futuro, a apresentar hiperactividade." («Crianças pré escolares "supra activas"» Centro Distrital de Desenvolvimento da Criança, Hospital Amato Lusitano)

(2) Sobre «O conceito de "doença" (C. González, Crescer Juntos, p. 145 a p. 151). «O campo da psiquiatria é particularmente propenso ao surgimento de doenças »; «... a hiperactividade é precisamente uma das doenças "inventadas" (ou pelo menos enormemente exageradas)...»

(3) Há opiniões que consideram que a medicação é a primeira opção (idem, p.154). Porém, desde há  muito, se defende o contrário.  Eduardo Sá: "As crianças excessivamente medicadas estão em perigo e deviam ser protegidas pelas comissões (de proteção de crianças e jovens) tal como as outras". (Jornal do Fundão, 12-6-2008)


22/05/24

Educar é crescer juntos (2)


 

Correndo o risco de parecer paternalista, Crescer juntos é um livro de Carlos Gonzalez que recomendo a todos os educadores e, em particular, aos pais e professores. 

"Crescer juntos” é uma forma  saudável de educar, adequada ao desenvolvimento das crianças e dos alunos mas também dos pais e de  instituições como a escola.  “Crescer juntos” significa que os pais estão implicados no processo educativo dos filhos assim como a escola e as instituições da sociedade.

Saber como exercer a parentalidade ou qual é a melhor forma de exercer a autoridade     ou de como as teorias psicológicas podem ser usadas na educação dos filhos, tendo em conta o desenvolvimento resultante do crescimento e maturação, faz parte de uma forma natural de educar que não exclui a intervenção do adulto na aprendizagem de ambos.


Mas as grandes questões que se colocam aos pais sobre a educação dos filhos passam por questionar diagnósticos como a perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) ou outras formas desajustadas de classificar ou rotular as crianças como “crianças índigo” ou “crianças orquídea”...

Há métodos educativos discutíveis em relação à alimentação, ao sono, à aplicação de castigos. O que é um castigo? O que é a “cadeira de pensar”? O que é ensinar pelas consequências ? Quando se deve medicar uma criança?


Por estas razões, e muitas outras que não referimos aqui, a presença dos pais na escola, individualmente, ou através das Associações de Pais, é cada vez mais importante. E ao contrário da desconfiança mútua que pode, por vezes, existir, deve haver maior colaboração e cooperação. Pais e professores trabalham para o mesmo objectivo: o desenvolvimento integral dos filhos e educandos. 

Os pais têm uma palavra a dizer sobre o currículo: disciplinas, programas, manuais, actividades e projectos, avaliação...

Estive dos dois lados, como psicólogo (SPO) e professor e também como pai e representante da Associação de Pais da escola dos meus filhos e foi o que procurei fazer. Nessa altura como agora, a palavra de ordem deve ser: "sempre ao lado dos pais, sempre ao lado dos professores, para estar sempre ao lado dos alunos”.


Não faz sentido o que se vê/lê nas redes sociais: a divisão entre pais que educam e  professores que ensinam, ou seja, os meninos devem vir educados de casa e a escola poderá então fazer o seu papel de instrução.  

Em algum momento, pode haver maior intervenção dos professores no currículo escolar mas os pais não podem ser descartados. O currículo envolve tudo o que faz parte da educação e instrução do aluno.

A família tem papel fundamental na educação dos filhos mas nem sempre as crianças têm um lar, uma família, e, por diversas razões, as crianças são entregues a instituições. 

Também há crianças que nem sempre têm uma família mentalmente saudável. Quem as deve educar? Com certeza,  ambas as instituições. 


A escola às vezes tem que ensinar as competências mais básicas da educação: a higiene, as refeições,  o reforço alimentar, saber ser e estar, resolver conflitos com os colegas e adultos... 

Para estas crianças a escola é o primeiro e último recurso. E a escola devia ter orgulho em fazer esse papel. Mesmo quando os recursos são insuficientes e a escola não faz mais porque humanamente não pode.



Até para a semana.






 Rádio Castelo Branco 

19/05/24

Obviamente, pode! O resto é censura



Constituição da República Portuguesa


PARTE I - Direitos e deveres fundamentais

TÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias

CAPÍTULO I - Direitos, liberdades e garantias pessoais

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Artigo 37.º - (Liberdade de expressão e informação)



1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações. 
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura. 
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei. 
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos.



17/05/24

Educar é crescer juntos


Neste mundo tão complexo que é o nosso, o papel dos pais na educação dos filhos é cada vez mais importante. É por isso necessário que os pais estejam atentos a tudo o que tem implicações na vida dos seus filhos.

As consequências da pandemia devido ao isolamento social  manifestam-se não só a nível das aprendizagens como a nível emocional. Podemos já dizer que “não ficou tudo bem”  e que “nada vai ser como dantes”.

Muitas mudanças porém já se faziam sentir e a peste emocional (W. Reich) existe no coração dos homens mesmo sem pandemia. O que mudou no interior da família, o que mudou na parentalidade?

Carlos Gonzalez em Crescer juntos - Da infância à adolescência com carinho e respeito,  fala-nos sobre os pais que crescem com o crescimento dos filhos.

É um livro pré-pandemia que começa por perguntar: “Quem são os pais de hoje?" E a resposta é: “Não sabemos”.

Mas sabemos que  houve mudanças na sociedade,  com implicações na educação dos filhos. CG refere algumas dessas mudanças: mais dúvidas, culpa, solidão, idade, número de filhos, stress, divórcio, TV. (p. 11-42)

Vejamos algumas dessas implicações.

Há mais dúvidas. As mães antes tinham mais certezas e o conhecimento sobre a educação dos filhos era feito directamente. A realidade é que hoje em dia as mães procuram respostas em livros e revistas ou junto de peritos, pediatras, enfermeiros psicólogos e educadores...


Parece que muitas mães se sentem culpadas pela forma como educam os filhos e há sempre gente disposta a questionar porque é que a mãe faz de uma determinada maneira e não faz de outra...

Ora nós sabemos que não há apenas uma, mas  muitas formas diferentes,  igualmente válidas, de educar uma criança.

 

Hoje em dia os pais também estão mais sós do que antigamente, em que era habitual  a convivência com os tios, primos,  avós, etc. Os avós sempre colaboraram na educação dos seus netos mas era uma colaboração “em paralelo” em que se partilhava o trabalho, responsabilidade e a mesa da família, havia sempre algum adulto em casa ...  agora trata-se de uma colaboração “em série”, a criança passa da casa dos pais, para casa dos avós, para a escola... muitas vezes sem comunicação.

 

Antigamente não havia televisão. A minha geração viu todo o desenvolvimento que os meios de comunicação social tiveram nos últimos 70 anos.

A televisão não deve ter um papel preponderante dentro da família. Infelizmente parece ter lugar destacado em muitas famílias.

 

Quanto ao uso do telemóvel sabemos a luta que as famílias e as  escolas têm que travar para o uso racional deste aparelho. Começamos agora a ter a noção dos prejuízos que um aparelho feito para a comunicação e relação provoca no isolamento social e das consequências do mau uso que os adolescentes lhe dão.

 

Por isso faz sentido que estejamos atentos, porque sabemos que há outros “educadores externos” à família e, havendo maior diversidade de perspectivas educativas, o papel dos pais ganha mais relevo na educação. 

 

 

 

Até pra semana.



 

 

Rádio Castelo Branco