
Manuel Cargaleiro (Mata dos Loureiros – Castelo Branco)
Manuel Cargaleiro (Mata dos Loureiros – Castelo Branco)
A voz é um instrumento elementar e imediato de que o ser humano dispõe para comunicar com os outros, com o mundo. Nem sempre da melhor maneira. Temos essa experiência. Quando alguém nos irrita começamos a falar mais alto e terminamos a gritar. Basta estarmos mais nervosos para ficamos com a voz mais trémula ou até chegamos a perdê-la (afonia de conversão).
Ou seja, modificamos a voz de forma automática e inconsciente quando estamos em situações dominadas por emoções como raiva, surpresa ou felicidade.
Quando alguém vive em conflito com outra pessoa, o que acontece frequentemente num casal, o tom de voz denuncia esse conflito. Na comunicação interpessoal temos o hábito de ir levantando a voz até chegar ao grito para transmitir a nossa razão. E o hábito muitas vezes passa a ser: falar aos gritos.
“O resultado de uma pesquisa sobre a forma de nós comunicarmos (A. Mehrabian, citado por Xavier Guix, Ni me explico, ni me entiendes, pag. 49) concluiu que a comunicação por palavras corresponde a 7%, o tom de voz a 38% e a linguagem corporal a 55%, quer dizer, o corpo fala mais alto que a voz e que as palavras.“
De facto, a voz é um elemento fundamental da comunicação. “A nossa voz faz ressoar os nossos dados internos. A voz revela tudo de nós ainda que não nos demos conta disso. Os problemas que com frequência temos com a voz, alguns inclusive crónicos, têm uma relação directa com conflitos emocionais não resolvidos.” (idem)
Levantar a voz é uma forma de reagir emocionalmente à fala, às atitudes e comportamentos do outro. E aqui aparecem todos os tipos de voz possíveis que levam à escalada nos decibéis e nos conteúdos mais agrestes ou, pelo contrário, à desescalada e podemos ter uma conversa com as interações que os adultos devem ter (estado Eu Adulto, em Análise Transacional).
Se não houver nenhum problema fisiológico ou uma perturbação da fala, o resto são problemas emocionais.
Conhecemos as pessoas pelo seu tom de voz. Nesse tom de voz há traços da idade, sexo, personalidade e, obviamente, estado emocional do indivíduo.
“Eu conheço esta voz de algum lado”, ou então, como verificamos quando se faz autoscopia, podemos ficar impressionados e incrédulos, pela primeira vez, com a nossa voz. “Este sou eu?” “Horrível !” “Eu falo desta maneira?”
A voz é, de facto, única e nem sempre é agradável e melodiosa mas “rouca”, “gasta”, “irritante”, “cansada”, com disfluências e “bengalas linguísticas” ...
Os filhos conhecem a voz dos pais, ou os alunos do professor, conforme as suas emoções e adivinham o que se vai seguir na comunicação entre eles: que mensagem se quer transmitir pela palavra, tom de voz e comunicação não-verbal (gestos, olhares, expressões faciais), tornando cada indivíduo único e diferente dos demais.
É importante saber que a nossa voz é única e que podemos melhorar a nossa comunicação com os outros. Os nossos comportamentos estão ligados à nossa voz. Por vezes, temos dificuldade em controlar a nossa voz porque não somos capazes de controlar as nossas emoções.
Na vida social, na relação familiar, na educação das crianças, o domínio da voz é fundamental. Então, comecemos por controlar as nossas emoções melhorando o tom de voz tantas vezes desagradável para os outros. Claro que não é fácil...
há uma linha subtil que tu partisteno medo desmedido mas contenteuma causa cruel que não se sentemas é a vida a terra que tu vistese logo o vento vário não resistee a história ferida se desmentenão aqueças a dor da tua mentenem a luz que nos olhos te subsistee se rires do pó o dissolver-teem tanta coisa a cor que se mudouna água tédio médio de só ver-tecorta as linhas maiores do que ficouna sede de partir e de perder-teno chão como uma fonte que secou
Melo e Castro
Correndo o risco de parecer paternalista, Crescer juntos é um livro de Carlos Gonzalez que recomendo a todos os educadores e, em particular, aos pais e professores.
"Crescer juntos” é uma forma saudável de educar, adequada ao desenvolvimento das crianças e dos alunos mas também dos pais e de instituições como a escola. “Crescer juntos” significa que os pais estão implicados no processo educativo dos filhos assim como a escola e as instituições da sociedade.
Saber como exercer a parentalidade ou qual é a melhor forma de exercer a autoridade ou de como as teorias psicológicas podem ser usadas na educação dos filhos, tendo em conta o desenvolvimento resultante do crescimento e maturação, faz parte de uma forma natural de educar que não exclui a intervenção do adulto na aprendizagem de ambos.
Mas as grandes questões que se colocam aos pais sobre a educação dos filhos passam por questionar diagnósticos como a perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) ou outras formas desajustadas de classificar ou rotular as crianças como “crianças índigo” ou “crianças orquídea”...
Há métodos educativos discutíveis em relação à alimentação, ao sono, à aplicação de castigos. O que é um castigo? O que é a “cadeira de pensar”? O que é ensinar pelas consequências ? Quando se deve medicar uma criança?
Por estas razões, e muitas outras que não referimos aqui, a presença dos pais na escola, individualmente, ou através das Associações de Pais, é cada vez mais importante. E ao contrário da desconfiança mútua que pode, por vezes, existir, deve haver maior colaboração e cooperação. Pais e professores trabalham para o mesmo objectivo: o desenvolvimento integral dos filhos e educandos.
Os pais têm uma palavra a dizer sobre o currículo: disciplinas, programas, manuais, actividades e projectos, avaliação...
Estive dos dois lados, como psicólogo (SPO) e professor e também como pai e representante da Associação de Pais da escola dos meus filhos e foi o que procurei fazer. Nessa altura como agora, a palavra de ordem deve ser: "sempre ao lado dos pais, sempre ao lado dos professores, para estar sempre ao lado dos alunos”.
Não faz sentido o que se vê/lê nas redes sociais: a divisão entre pais que educam e professores que ensinam, ou seja, os meninos devem vir educados de casa e a escola poderá então fazer o seu papel de instrução.
Em algum momento, pode haver maior intervenção dos professores no currículo escolar mas os pais não podem ser descartados. O currículo envolve tudo o que faz parte da educação e instrução do aluno.
A família tem papel fundamental na educação dos filhos mas nem sempre as crianças têm um lar, uma família, e, por diversas razões, as crianças são entregues a instituições.
Também há crianças que nem sempre têm uma família mentalmente saudável. Quem as deve educar? Com certeza, ambas as instituições.
A escola às vezes tem que ensinar as competências mais básicas da educação: a higiene, as refeições, o reforço alimentar, saber ser e estar, resolver conflitos com os colegas e adultos...
Para estas crianças a escola é o primeiro e último recurso. E a escola devia ter orgulho em fazer esse papel. Mesmo quando os recursos são insuficientes e a escola não faz mais porque humanamente não pode.
Até para a semana.
Constituição da República Portuguesa
PARTE I - Direitos e deveres fundamentais
TÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias
CAPÍTULO I - Direitos, liberdades e garantias pessoais
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Artigo 37.º - (Liberdade de expressão e informação)
Neste mundo tão complexo que é o nosso, o papel dos pais na educação dos filhos é cada vez mais importante. É por isso necessário que os pais estejam atentos a tudo o que tem implicações na vida dos seus filhos.
Carlos Gonzalez em Crescer juntos - Da infância à adolescência com carinho e respeito, fala-nos sobre os pais que crescem com o crescimento dos filhos.
É um livro pré-pandemia que começa por perguntar: “Quem são os pais de hoje?" E a resposta é: “Não sabemos”.
Mas sabemos que houve mudanças na sociedade, com implicações na educação dos filhos. CG refere algumas dessas mudanças: mais dúvidas, culpa, solidão, idade, número de filhos, stress, divórcio, TV. (p. 11-42)
Vejamos algumas dessas implicações.
Há mais dúvidas. As mães antes tinham mais certezas e o conhecimento sobre a educação dos filhos era feito directamente. A realidade é que hoje em dia as mães procuram respostas em livros e revistas ou junto de peritos, pediatras, enfermeiros psicólogos e educadores...
Parece que muitas mães se sentem culpadas pela forma como educam os filhos e há sempre gente disposta a questionar porque é que a mãe faz de uma determinada maneira e não faz de outra...
Ora nós sabemos que não há apenas uma, mas muitas formas diferentes, igualmente válidas, de educar uma criança.
Hoje em dia os pais também estão mais sós do que antigamente, em que era habitual a convivência com os tios, primos, avós, etc. Os avós sempre colaboraram na educação dos seus netos mas era uma colaboração “em paralelo” em que se partilhava o trabalho, responsabilidade e a mesa da família, havia sempre algum adulto em casa ... agora trata-se de uma colaboração “em série”, a criança passa da casa dos pais, para casa dos avós, para a escola... muitas vezes sem comunicação.
Antigamente não havia televisão. A minha geração viu todo o desenvolvimento que os meios de comunicação social tiveram nos últimos 70 anos.
A televisão não deve ter um papel preponderante dentro da família. Infelizmente parece ter lugar destacado em muitas famílias.
Quanto ao uso do telemóvel sabemos a luta que as famílias e as escolas têm que travar para o uso racional deste aparelho. Começamos agora a ter a noção dos prejuízos que um aparelho feito para a comunicação e relação provoca no isolamento social e das consequências do mau uso que os adolescentes lhe dão.
Por isso faz sentido que estejamos atentos, porque sabemos que há outros “educadores externos” à família e, havendo maior diversidade de perspectivas educativas, o papel dos pais ganha mais relevo na educação.
Até pra semana.