08/05/20

Para além da covid-19, a peste emocional


o setimo selo jof e mia
"O Sétimo Selo" - A vida e a finitude mas também a esperança  na cura e na salvação.



Fome, peste e guerra são os males que a humanidade ou cada um de nós mais  teme. Ao longo da história fomos vivendo com estes cavaleiros do apocalipse, adormecidos, que aparecem quando menos esperamos.
Nos últimos tempos, houve grandes melhorias na vida das pessoas e reinava algum optimismo: em relação à fome com milhões de seres humanos a saírem da miséria, a guerra passou por uma fase de alguma distensão (détente) ou de confinação a alguns países  e a peste fazia parte das memórias de há cem anos. Mas o encontro com a morte de que nos dá conta Ingmar Bergman n' "O Sétimo Selo" está aí de novo. Podemos adiar o xeque-mate e entreter a morte durante algum tempo mas ela reaparece para nos recordar a nossa fragilidade.
"O Sétimo Selo” passa-se durante a grande praga de peste bubónica, conhecida como Peste Negra. Chegou à Europa em 1347 através de barcos genoveses vindos da Crimeia. A peste que tempos antes assolara a Ásia chegava por via da rota da seda e atacava os comerciantes italianos. Em pouco tempo, devido às pulgas dos ratos e à insalubridade das cidades, a doença alastrou-se a toda a Europa e países mediterrânicos.
As semelhanças com a covid-19 não deixam de ser surpreendentes. A peste actual fez o mesmo percurso de contaminação e veio trazer para primeiro plano a angústia e sofrimento. 

Como então, actualmente, no meio destes medos terríveis da pandemia, os seres humanos e a sociedade, criam os seus próprios problemas.  
Se há problemas que não podemos resolver de imediato, há outros que não se entende porque continuam a existir nas sociedades. 
O que é paradoxal, ao contrário do que acontece com a covid-19, é termos soluções para acabarmos com eles ou pelo menos minimizá-los, e muito pouco fazermos para isso.

Como as grandes catástrofes, nascem dentro de nós ou dentro de portas, casas ou países: a peste emocional (Reich) faz parte do quotidiano, e manifesta-se    
- pela violência doméstica
- pelo abuso de menores
- pela falta de apoio aos sem abrigo
- pelo tráfico de seres humanos 
- pelos dramas causados pela toxicodependência
- pelos grandes negócios da corrupção, do tráfico de armas e de drogas.
- ...
Dois exemplos:
Somos confrontados com frequência com a informação de abuso e violação  de menores como aconteceu esta semana com  mais uma violação de uma menor pelo próprio pai.
E o que faz o poder e a sociedade para além de nos indignarmos ?

O Sr. Presidente da República fez do apoio aos sem-abrigo uma bandeira.
Há em Portugal mais de 4000 pessoas a viver na rua ou em centros de abrigo temporário espalhados pelo país. Quase metade vivem em Lisboa. Os espaços para acolher estas pessoas são insuficientes, com o problema agravado por esta pandemia. Não seria possível haver respostas sociais e psicológicas que dessem aos sem-abrigo condições mínimas de vida digna? 

A peste emocional é um doença que pode ser tratada. É necessário reconhecer que ela existe e procurar ajuda ou levar ajuda a quem precisa.
Até para a semana, com muita saúde.








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