Daqui
A Autoeuropa era um dos sítios onde a encenação político-partidária era pouco provável. Pela lógica, seria o local ideal para falar de empresas e de exportações... Mas enganei-me.
Quase fiquei envergonhado com o descaramento do sr. primeiro-ministro que deu como adquirido que daqui a um ano estarão, ele e Marcelo, a almoçar na Autoeuropa. Ou seja, Marcelo já está eleito e ele, Costa, primeiro-ministro de um governo minoritário, também estará à frente do executivo.
Sendo assim para quê realizar eleições ? O povo vai votar para quê ?
Marcelo em vez de se distanciar desta posição não o fez. Aliás, não sabemos se se vai recandidatar e os motivos por que o faz.
O motivo que se conhece - a gente nunca sabe quais são os motivos reais - para justificar a saída da procuradora geral da república, Joana Marques Vidal, foi que Marcelo defendia mandatos mais longos e únicos.
Podemos perguntar se fez alguma coisa para aplicar esta posição ao seu próprio cargo, um mandato único de 6 anos, por ex.. Que se saiba nada foi feito.
Todos sabemos que um presidente, após eleição, é presidente de todos os portugueses. Com Marcelo não é diferente. Mas todos sabemos também qual foi a base eleitoral que o levou ao mais alto cargo da Nação quando foi necessário lutar contra as ideias “do homem novo” de António Nóvoa.
A cooperação institucional é sempre de elogiar mas aquilo a que assistimos é a uma concordância completamente desproporcionada com Costa como aconteceu recentemente no diferendo com Centeno.
Marcelo bate-se pela verdade. Foi para isso que foi eleito. Mas qual é a verdade sobre Tancos, a verdade sobre os incêndios de 2017?
A verdade sobre o novo banco, sobre a TAP?
Sobre as PPP rodoviárias ruinosas, as PPP da Saúde que têm resultados positivos?
A verdade sobre o interior e a coesão territorial? A redução dos preços das scuts afinal podem esperar que a covid passe. A coesão vem a seguir.
A verdade sobre as carreiras dos professores e pessoal de saúde ?
A verdade sobre a austeridade que Costa diz que não há e não quer mas a carga de impostos nunca foi tão elevada como nos dois últimos anos?
A verdade sobre a reforma política e eleitoral?
...
Desde o mergulho no Tejo, nas vitórias e também nas derrotas, aprecio a vertente afectiva da personalidade de Marcelo. É genuína e uma das suas mais valias. A sua formalidade-informalidade permanentes é de elogiar, a sua capacidade cognitiva é de relevar ... e nisso não há surpresas na sua actuação...
Mas Marcelo e Costa também sabem que os partidos à sua esquerda aceitam a democracia e o parlamento como mal menor... e que com eles não haverá medidas estruturantes necessárias ao país e ao regime democrático e parlamentar.
É por isso que as pessoas deixam de votar. Porque não querem fazer parte duma encenação em que o espectáculo já esta montado.
A covid não explica tudo! O "teatro" da Autoeuropa foi enjoativo. E não é possível ficarmos indiferentes a estes “técnicos de representação permanente “ *.
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* A expressão é de Pedro Santana Lopes
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