20/05/20

Fátima, fados e bola

Santuário de Fátima, 13-5-2020


Amália Rodrigues - "Canção Do Mar"


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1. Antes do 25 de Abril, havia uma canção de protesto (1) que começava assim: “Cortejos e procissões,/Fátima, fados e bola,/ são estas as distracções/ dum povo que pede esmola...”. 
Fátima, fados e futebol era, ainda é, o ópio do povo, principalmente para os intelectuais de esquerda que revelavam também desta forma o seu fanatismo ideológico, como o pior dos fanatismos religiosos.

2. Em 1955, o sociólogo e filósofo Raymond Aron escreveu “O ópio dos intelectuais”, onde “fez uma análise fulminante dos mitos e ilusões que dominavam o pensamento que hoje seria chamado de “progressista”. 
Não deixa de ser curioso que, em 2018, foi inaugurada a “internacional progressista”.
Raymond Aron, a partir da tristemente célebre frase de Marx de que “A religião é o ópio do povo”, apontou as semelhanças do esquerdismo com uma religião fanática e fundamentalista. (2)

3. Desde então, o fanatismo e a intolerância tomou conta de intelectuais e académicos, impiedosos nas críticas às falhas das democracias, ao mesmo tempo que silenciam os regimes totalitários de esquerda e que mantêm em vigor os mitos de sempre: o mito da esquerda bondosa, o mito da revolução popular, o mito do proletariado, o mito do progresso.

5. A ironia de tudo isto é que, passado este tempo, nunca estes símbolos da vida dos portugueses foram tão fortemente desejados.
Fátima continua a ser o lugar de espiritualidade a que muitas pessoas se sentem atraídas, tenham muita ou pouca fé, sejam mais simples, letradas ou intelectuais.
O fado foi completamente reabilitado, por gente de esquerda, coitada da Amália molestada a seguir ao 25 de Abril!, e agora é, para a UNESCO, património imaterial da humanidade.
O futebol nunca esteve tão entranhado nos hábitos dos Portugueses. 

6. Na realidade precisamos de rituais (3), de vivências tradicionais que passam por estas manifestações. Precisamos de símbolos e de parábolas. Símbolos de paz, de tolerância, de superação, de sucesso, de fraternidade, de bondade, de perdão, de respeito pelos mais frágeis, crianças e velhos...
Precisamos de símbolos porque o "símbolo" é um elemento essencial do processo de comunicação, nas mais variadas vertentes do ser e do saber humano e que fazem parte do nosso património cultural e espiritual.
Esta crise sanitária, com a falta destas manifestações, veio revelar uma sociedade distópica e atípica. O isolamento social é perturbador do funcionamento psicológico, das manifestações afectivas entre seres que necessitam de relação interpessoal. 
Os símbolos unem as pessoas.
Com esta crise, todas essas manifestações, familiares, quotidianas, terminaram ou passaram a ser virtuais. A carga simbólica do isolamento, da solidão, do luto e do silêncio presentes na figura do Papa Francisco na Praça de S. Pedro ou no deserto do Santuário de Fátima, em 12 e 13 de Maio, foram extremamente expressivas desta necessidade humana.
Este pesado silêncio, este luto, nem sempre feito, nunca foi vivido por tanta gente ao mesmo tempo. Um tempo tão estranho como este está a ser vivenciado por milhões de pessoas. 

Por isso, com toda a racionalidade (4), voltaremos a Fátima, ao futebol e a cantar o fado.

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(1) Fiquei a saber que existe um Observatório da canção de protesto.
(2) O fanatismo político frequentemente praticado por intelectuais e militantes de esquerda espelha uma assimilação da fé religiosa no que ela apresenta de mais vicioso e perverso, a saber, sua inclinação para a violência justificada por um conjunto duvidoso de certezas fundamentalistas. (Sinésio Ferraz Bueno )
(3) Talvez por isso, os “progressistas”, precisem tanto de manifestações deste tipo, como o 25 de Abril, o 1º de Maio ou a “festa do Avante”!
(4) A questão de R. Aron é a de saber se é possível vislumbrar o “fim da era ideológica” e o triunfo do poder da razão. 










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