24/01/19

Etarismo


Como contraponto à inclusão que é o processo de vida desejável de qualquer sociedade, coloca-se  o problema das muitas formas de discriminação.
Talvez uma das mais actuais e violentas formas de discriminação embora sem se lhe dar essa devida conotação  seja o etarismo.
Por etarismo entende-se a discriminação etária, discriminação geracional. É um tipo de discriminação contra pessoas ou grupos baseado na idade.(1)
"Quando este preconceito é a motivação principal por trás dos atos de discriminação contra aquela pessoa ou grupo, então tais atos constituem-se discriminação por idade". O etarismo embora possa existir em relação a todos os grupos etários, é, sem dúvida em relação aos idosos que assume uma maior expressão. Os idosos  são rotulados de lentos, fracos, dependentes e senis.(Wikipedia)
Pode haver muitas formulações: “é  velhinho, coitadinho”,  não incentivar os netos a beijar os avós;  maus tratos e abandono; os velhos vistos como peste grisalha e ameaça das futuras gerações; a proibição do acesso dos “cotas” a determinados eventos…

Um estudo da Organização Mundial de Saúde que envolveu 53 países coloca Portugal no grupo dos cinco piores no tratamento aos mais velhos, com 39% dos idosos vítimas de violência. (2)

O Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, tem vindo a interessar-se pelo estatuto dos cuidadores informais e na Assembleia da República discutiu-se a criminalização da violência contra os idosos.
Como sabemos, as propostas dos deputados do CDS-PP e do PAN para criminalizar o abandono de idosos nos hospitais e unidades de saúde foram rejeitadas  no Parlamento. (3)
Também penso que o problema é mais social do que criminal. ("Quem cuida dos idosos?", Felisbela Lopes, JN, 9/2/2018). Mas todos sabemos que o país está envelhecido e torna-se mais urgente não fechar os olhos às necessidades destas pessoas e criar respostas adequadas.

Não deixa de se ser hipócrita quando se criminaliza o abandono e a violência sobre animais domésticos e continuamos a ignorar o que se passa com os idosos. O excesso de sensibilidade vai a questões como não se dever cantar “atirei o pau ao gato” mas podemos humilhar um idoso.

Mesmo quem não lê a Bíblia,  não deixará de concordar com as palavras sábias de uma  das leituras da liturgia recente do  Livro Ben-Sirá (I Sir 3):
"Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados."

Estou convicto de que a criação de Comissões de Promoção e Protecção da pessoa idosa  e do estatuto do cuidador informal podia ajudar  a melhorar este estado de coisas. No entanto, ainda não passou de  projecto.
Felizmente que em alguns municípios começam a ser criadas estas comissões e, por outro lado, como em Castelo Branco, a sociedade civil começa a organizar-se no sentido da coordenação das estruturas de apoio a pessoas idosas (Reconquista, 29/11/2018) como é o caso da "Rede integrada de apoio à pessoa idosa" ou da “Unidade de Apoio ao Cuidador Informal” (UACI). Os cuidadores informais zelam pelos próprios dependentes contribuindo "para que renunciem ao abandono , mau trato, falta de cuidado e até violência para com os idosos e/ou incapacitados evitando desta forma internamentos hospitalares recorrentes ou a falta de assistência em fim de vida pela família", como referem as criadoras da associação. (Reconquista, 3/1/2019)

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(1) "O termo etarismo - É uma tradução do vocábulo “ageism”, cunhado pelo médico gerontologista Robert Neil Butler em 1969, surge para descrever as formas de intolerância dirigidas a grupos etários. Outras versões menos frequentes são os termos “idadismo” (Lima, 2010); “etaísmo” (Koch Fho, et al., 2010), e “edaísmo” (de Santa Rosa, 2008). A primeira definição do conceito compreendia o preconceito somente contra as pessoas com mais idade, descrevendo-o como “um processo de estereotipação sistemática e discriminação contra pessoas por elas serem velhas” (Butler, 1969 citado em Macnicol, 2006, p. 7). Definições mais amplas, como em Palmore (1999, p. 4), passam a considerar também os jovens como alvos de estereótipos e discriminação: “[...] qualquer prejuízo ou discriminação contra ou a favor de uma faixa etária”. ("Etarismo nas organizações", Nereida da Silveira

(2)"Estamos no topo da Europa como o país que menos investimento tem para os idosos. É um estudo que está publicado e ao qual não podemos ficar alheios, para desempenharmos a nossa função de defesa de direitos humanos, de defesa dos direitos dos idosos e de defesa da cidadania", Antonieta Dias, médica e vice-presidente da Comissão de Protecção ao Idoso.

(3) Além do abandono de idosos, o CDS-PP queria criminalizar a rejeição ou condicionamento da entrada de um idoso numa instituição de acolhimento quando ele se recusasse a doar o seu património ou a pagar valores superiores à mensalidade estipulada. Também previa o agravamento das penas dos crimes de difamação, injúria e burla quando a pessoa for indefesa em função da idade.



17/01/19

Esperança: Dar uma oportunidade à paz

 
 «O que me espanta, diz Deus, é a esperança. E disso não me canso»

"Ano novo, vida nova", desejo com maior significado para a vida de cada um de nós para este ano que começa e esperança de mudança serena e equilibrada apesar da nossa humana fragilidade.
Hoje queria deixar três notas aos nossos ouvintes:

1. A minha participação na Rádio Castelo Branco (RACAB) foi suspensa a partir de  Setembro passado devido a alguns problemas de saúde que não me permitiram as melhores condições físicas, e o tempo disponível, para continuar a dar a minha “Opinião” sobre questões da actualidade principalmente as relacionadas com a psicologia e a educação.

2. Joaquim Martins, colaborador  da RACAB durante vários anos, faleceu em Dezembro. A propósito, escrevi no facebook:“Um grande agradecimento por tudo o que era Joaquim Martins, como Director ou como Presidente do Conselho Pedagógico da Escola Afonso de Paiva. Tanto nos conselhos pedagógicos como nos projectos educativos em que, com colegas do ensino especial, participei como psicólogo escolar do SPO, tive sempre a aprovação, o apoio e a sua compreensão. Vários anos, no painel "Opinião" da RACAB, à quarta-feira, e em que eu colaboro à quinta-feira, mesmo na diversidade de opiniões, mostraram-me o ser humano extraordinário que era Joaquim Martins. Obrigado e até sempre”

3. Todos os anos, a grande maioria dos portugueses vive  esta tradição do Natal e Ano Novo cada um à sua maneira. No entanto, este é um tempo com razões de sobra para reflexão de todos.
Em 1 de Janeiro, celebramos a paz mesmo que a guerra continue em muitos locais aumentando a desconfiança entre povos e  falta de esperança para muitas pessoas.
De facto, em 1 de Janeiro de 2019, foi comemorado  o 52º Dia Mundial da Paz que foi iniciado por Paulo VI em 1968. A propósito deste Dia Mundial da Paz  o Papa Francisco (mensagem de 8 de Dezembro de 2018) recorda-nos que "a boa política está ao serviço da paz".
Particularmente curiosa é a referência a Charles Péguy para quem a paz se parece com a esperança, é como uma flor frágil, que procura desabrochar por entre as pedras da violência.
Na verdade, escreve Péguy:  «O que me espanta, diz Deus, é a esperança./ E disso não me canso./ Essa pequena esperança que parece não ser nada./ Essa esperança menina./ Imortal.»
E a mensagem de Francisco continua: "Como sabemos, a busca do poder a todo o custo leva a abusos e injustiças. A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à colectividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição."
Recorda-nos as «bem-aventuranças do político», propostas pelo Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:
Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.
Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.
Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que realiza a unidade.
Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.
Bem-aventurado o político que sabe escutar.
Bem-aventurado o político que não tem medo.
Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito. Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras."
 
Em 2019, vai haver eleições. Ou seja, vai haver mais uma oportunidade e esperança para a justiça, a paz e os direitos humanos.

26/12/18

De Josefa de Óbidos a Chiara Lubich


ver detalhe da imagem
Josefa de Óbidos, Adoração dos Pastores - óleo sobre tela (1669) - Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa.


"Aquele menino !

Quando Te rezamos, Jesus, no nosso coração, quando Te adoramos na Sagrada Eucaristia do Altar, quando conversamos Contigo, presente no Céu, e a Ti dizemos o nosso obrigado pela vida e em Ti lançamos o arrependimento das nossas faltas e de Ti invocamos as graças de que necessitamos, pensamos-Te sempre adulto, Senhor.
Ora eis que, luz sempre nova, em cada ano, de novo volta o Natal e como uma renovada revelação mostras-Te menino, acabado de nascer, num berço, e uma onda de comoção nos invade. E já não sabemos formular palavras, nem ousamos pedir, nem nos sentimos com coragem de ser um peso para tão minúsculas forças, embora omnipotentes.
O mistério faz-nos calar e o silêncio da alma em adoração confunde-se com o de Maria que, perante o testemunho dos pastores que ouviram o celeste canto dos anjos «conservava todas estas coisas, meditando-as no Seu coração»
O Natal ...: aquele Menino sempre nos aparece como um dos mistérios mais profundos da nossa fé, porque é o princípio da revelação do amor de Deus por nós, que depois se manifestará em toda a Sua divina, misericordiosa e omnipotente majestade."
(Chiara Lubich, Saber perder, p.108-109)



21/12/18

Tempo de brincar


António Pinho Vargas - Dinky toys - album "A Luz e a Escuridão" (1996)


A infância, tempo de brincar. Para a criança, brincar é aprender. Não só no Natal mas sempre. Tempo de legos e de playmobil que já foi de meccano e dinky toys. Mudam os brinquedos mas não muda a luz que lhe vemos no olhar.

Amar ou odiar, criar ou destruir

Marc Antoine Charpentier , Te Deum Le Parlement de Musique, dir. de Martin Gester







03/12/18

Era uma vez em Paris

J’ai deux amours - Madeleine Peyroux

"J'ai deux amours
Mon pays et Paris"


Erik Satie - Once Upon A Time In Paris (Gymnopedie No.1)



Por outro lado,

"Ce que nous avons vu à l'intérieur de l'Arc de triomphe saccagé." "«Gilets jaunes» : les images de l'Arc de Triomphe saccagé." (Le Figaro)

"A violência que ocorreu no sábado em Paris durante a manifestação dos "coletes amarelos" provocou 133 feridos e 412 pessoas foram detidas, das quais 378 ficaram sob custódia policial, segundo dados deste sábado da polícia francesa.
Entre os 133 feridos, 23 são polícias, detalhou a sede da polícia de Paris." (TSF)

Macron (ou seja lá quem for o presidente) será  capaz de levar à justiça os "profissionais da destruição"?


30/11/18

Orçamento «tira do "lete" e põe no "caféi"» - parte 4

1. O quarto* e último orçamento do governo minoritário do dr. Costa, grande artista suspenso no trapézio dos amigos pessoais e dos amigos de ocasião, vai ser estatisticamente  aprovado.
A fraude pós-eleitoral, como referiu Rui Ramos, tem assim o seu epílogo, porque convém não esquecer que não ganhou as eleições e, além disso, esta maioria de esquerda, politicamente, é um erro de consequências desastrosas para o socialismo democrático e, portanto, para o país (depois da fonte luminosa, seria absolutamente impensável).

2. Como nos orçamentos anteriores, o de 2019 segue o mesmo princípio: tira de um lado, principalmente por via dos impostos indirectos e cativações, e, pelo outro, distribui pelas causas e exigências dos outros trapezistas, os da esquerda velha e os da esquerda infantil.

3. Politicamente, a palavra-chave deste governo foi, desde o início, reverter**. No entanto, é um governo que à conta de tanta reversão acabou a reverter-se a si próprio. Como provam algumas minudências como as seguintes:
- A transferência do Infarmed para o Porto, cinco vezes afirmada mas bastou uma para a negar.
- A licenciatura de 5 anos equiparada a mestrado afinal já não vai avançar.
- Na justiça fica Joana, mas afinal sai Joana. Apesar da estratégia de Marcelo ser obscura, a de Costa é límpida. Se a questão é a da limitação de mandatos, devia aplicar-se no futuro depois da alteração da legislação e já agora que se aplicasse a outras instituições. Como sabemos, nas autarquias houve aquela lei que proibiu mais do que três mandatos na mesma a autarquia… mas, infelizmente, vieram depois explicar que podia haver outros mandatos, no limite até ao fim da vida, desde que fosse noutra autarquia mais longe ou ali ao lado.
- Nas reformas antecipadas a teoria era de que podia ser aos 40 anos de serviço e aos 60 de idade, mas afinal não é bem assim.
- Em Tancos o ministro da defesa tem toda a confiança do primeiro-ministro mas no dia seguinte sai ele e mais três. Na maior trapalhada de que há memória depois do PREC ou de que não há memória de haver outra igual. Além do mais, num sector onde se devia lidar com cuidado que, como diz Marcelo, a democracia e as forças armadas têm alguma relação.
Mas fica o enigma de Costa: "um dia se saberá o que cada um dos que aqui estão sabe sobre o assunto" (referia-se no parlamento a Tancos)
- Palavra de primeiro-ministro de que o ministro da saúde não está de saída do governo. Em entrevista ao jornal Expresso, António Costa diz que a demissão de Adalberto Campos Fernandes não iria resolver os problemas na Saúde. Pois não, de facto a saúde há muitos anos que não vivia momentos tão dramáticos.
- Para a ERSE vai o deputado indicado pelo partido mas afinal não vai, vai outro por mérito do parlamento.
- Dez anos depois de 2009 vai haver aumentos para toda a função pública mas não vai ser bem assim porque só há 50 milhões para distribuir. E isso não chega para aumentos e promoções. Nem vale a pena pensar nos professores.
- Sim, porque na educação não sabem fazer as contas da contagem do tempo de serviço e revertem a decisão do orçamento do ano passado. Não perceberam o valor real, nem simbólico, dos 9 anos, 4 meses e 2 dias.
- O automóveis ficam mais caros, o mesmo acontece com os combustíveis, quer dizer a gasolina, afinal, baixa mas o gasóleo não.
- O iva da electricidade baixa, afinal baixa só para os contadores. Além disso, não se queixem, podem sempre "contratar uma potência mais baixa".
- O imposto da protecção civil, era inconstitucional em Lisboa, mas vai passar a ser aplicado em todo o país, ou já não vai ser outra vez, porque o parlamento não deixa.
- Sobre essa coisa "incivilizada" das touradas, eles têm todas as (pro)(contra)posições.
- ...

4. Explica Pacheco Pereira: "É o que acontece a Arlequim servidor de dois amos", em que "a sucessão de equívocos e imbróglios, devidos em grande parte à iniciativa de Arlequim que decide servir dois patrões, resolve-se como de costume no final da peça, acabando tudo em bem..."

5. Reversões e cativações, o neoliberalismo austeritário no seu esplendor. Em 3 anos, sem tróica, as cativações foram superiores às do tempo de P. Coelho.

6. Em 2015, Costa classificou o executivo de P. Passos Coelho como "o Governo do passa culpa", por "nunca assumir responsabilidades de nada", seja do "caos" do início do ano lectivo ou dos hospitais no pico da gripe, seja da "completa paralisação" dos tribunais por causa do colapso da plataforma Citius, seja no caso da alegada lista dos contribuintes VIP.
Depois dos incêndios de 2017, de Monchique 2018, de Tancos, de Borba, estamos conversados sobre a gravidade das situações e sobre quem nunca assume responsabilidades.

7. A gente também tem memória da "inventona" das "trapalhadas" de Santana Lopes, que, tendo o apoio de uma maioria na assembleia da república, por elas, Sampaio teve o acinte de dissolver. Para quê ? Para dar lugar a esse governo de Sócrates, de que o dr. Costa fazia parte, que levou o país à falência.

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* O primeiro; O segundo ; O terceiro.
** o governo do revertério, como lhe chama João Gonçalves.

16/11/18

Demain, c'est toi

Zaz - "Demain c'est toi"- "Effet miroir"

Je trace des chemins qui n'attendent que toi
 À toi, l'enfant qui vient, je précède tes pas 
Je murmure ton nom dans le souffle de ma voix 
Je t'offrirai le monde, que je ne connais pas 
Je t'ouvre grand mon cœur comme on ouvre ses mains 
Je t'espère des bonheurs aussi grand que les miens 
Demain, c'est toi 

J'apprends les alphabets de chacun de tes gestes 
Je te chante mes rêves d'espace et de Far West 
Je veux pour toi l'amour, le rare et le précieux 
Toute la beauté du monde à portée de tes yeux 
Les poings chauffés à blanc, je forge pour demain 
Un bonheur que je souhaite aussi grand que les miens 
Demain, c'est toi 

 Je te donne les clés qui ouvrent tous les coffres
 Je pulvérise les murs des prisons que l'on t'offre
 Je cours à l'infini pour ne pas te laisser 
Tout ce que je ne t'ai pas dit, c'est parce que tu le sais 
C'est parce que tu le sais 
À toi, l'enfant qui vient comme un petit matin 
Je t'espère des bonheurs aussi grands que les miens 
Demain, c'est toi


"Effet miroir" - novo álbum de Zaz. Em Demain c’est toi, "elle s’adresse directement à son bébé. Un morceau émouvant qui semble annoncer une heureuse nouvelle, ou peut-être que l’artiste se confie simplement sur ses envies de maternité ? Avec des mots doux et justes, cette délicate chanson est joliment accompagnée au piano."(RFM)