06/02/16

Orçamento «tira do "lete" e põe no "caféi"»

Há várias formas de austeridade. Como já aqui escrevi, por diversas vezes, há uma austeridade virtuosa, a da sobriedade, a de um mundo sustentável, que devia ser a de todos, as famílias e países.
Se bem me lembro, num programa "prós e contras" sobre a austeridade foi perguntado a um pescador que estava na assistência o que pensava sobre austeridade, e a resposta resumiu aquilo que muitos portugueses pensam e praticam: "na minha casa sempre houve austeridade".

Aumentar impostos para sustentar, reverter, o consumismo, supondo que leva ao fim da austeridade, é mera ilusão alimentada pelo populismo que há-de dar votos. Essa palavra horrível - austeridade - por artes mágicas, tipo "bater o pé a Bruxelas", "exigir", "ser mau aluno", "não pagamos"... pode desaparecer com um orçamento que cumpra as promessas feitas a todos, aos assinantes da posição conjunta e ao conjunto da Comissão Europeia, aos que (con)correm por dentro e aos que olham de fora, desde que o mágico-chefe diga as palavras certas: "vamos mudar de página, acabou a austeridade".

Então, oh maravilha, os aumentos de impostos, as taxas, deixam de ser penalizadoras, e, com alegria, sentimos que, finalmente, o poder protege os mais fracos, mas ao sabor do seu gosto pessoal, chamado "recomposição fiscal": tira imposto de um lado e põe imposto no outro, tira o iva da restauração e põe no imposto de selo das transacções bancárias, tira o corte de salários da função pública e aumenta na gasolina, no iuc e no imposto automóvel, tira o iva de 23% do hamburger com batatas fritas mas deixa-o ficar na água com gás...

É, afinal, um orçamento clássico da dita esquerda, tirar a uns, os ricos, para dar a outros, os pobres? Nem por isso; agora dá a uns com uma mão e tira dos mesmos (a classe média, seja lá o que isso for) com a outra.

É o orçamento «tira do "lete" e põe no "caféi"». Como no tempo em que a Ana Faria "brincava aos clássicos" e os Queijinhos Frescos cantavam:
"Onde tás ó Zéi / Vem estudar p'raqui / Estou no balancéi / E a lição já liiii / E o que fizeste ao 'i'? / Tirei-o do 'lete' e 'púzio' no 'caféi'!"


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