18/02/16

Música e emoções

A música está presente durante toda a nossa vida e marca os momentos simbólicos particulares e sociais, os melhores mas também os piores. Alegra-nos ou entristece-nos conforme os sentimentos que vivemos e temos a faculdade de escolher o que queremos ouvir de acordo com esses momentos.
Quando somos crianças, a música liberta-nos do medo, numa canção de embalar ou quando passamos num local ermo e desconhecido, assobiamos para o espantar.  Ao longo da vida, a música é capaz de nos transportar para os mais diversos ambientes, com os sentimentos e emoções que eles compreendem.
“Tal como as emoções puras, a música avoluma-se e suspira, comporta-se com violência ou sossega e nessa medida tem um comportamento tão semelhante ao das nossas emoções que muita vezes parece simbolizá-las, espelhá-las, comunicá-las aos outros e, assim, libertar-nos dos múltiplos inconvenientes e imprecisões das palavras. Uma passagem musical pode fazer-nos chorar ou provocar a subida da nossa tensão arterial”. *

Rachmaninoff - Concerto para piano nº. 2, Op. 18 ; 
Arthur Rubinstein, piano; Chicago Symphony Orchestra, Fritz Reiner, cond.

“As investigações mais recentes revelaram que a música ao actuar sobre o sistema nervoso central, aumenta os níveis de endorfinas, os opiáceos próprios do cérebro, assim como os de outros neurotransmissores, como a dopamina, a acetilcolina e a oxitocina. Das endorfinas descobriu-se que dão motivação e energia perante a vida, que produzem alegria e optimismo, que diminuem a dor, que contribuem para a sensação de bem estar e estimulam os sentimentos de gratidão e satisfação existencial. ** 
Qualquer expressão musical, desde os mantras ao assobio, repetidos vezes sem conta, que não nos sai da cabeça, tem essa característica fundamental de nos acalmar. O que leva a música a “encorajar a meditação é o facto de ela criar um ruído branco interior, cancelando barulhos exteriores, transformando a nossa cabeça numa caixa à prova de som".
Muitos dos rituais culturais e religiosos têm também essa finalidade. Principalmente aqueles ligados às tradições mais antigas de que temos vários exemplos nas nossas aldeias. Nesta altura do ano, “o terço cantado pelas ruas" ou a “encomendação das almas”, são disso exemplo.
No caso do terço cantado pelas ruas, a repetição da mesma música, enunciada por um grupo e repetida por um segundo grupo, as vozes masculinas, dão o sentimento de tristeza, de dor e de sofrimento que juntamente com a letra, falam da história que aconteceu há mais de 2000 anos mas que também é do tempo actual e de cada um de nós.
Nos últimos anos, temos motivos de orgulho pelo facto de terem sido reconhecidas pela Unesco como património cultural imaterial da Humanidade duas formas de expressão musical que são bem o espelho emocional da população: o fado e o cante alentejano.
Também é interessante que Idanha-a-Nova tenha sido reconhecida como a primeira localidade portuguesa a entrar no grupo de Cidades Criativas da Música.


Aproveitar estas condições e viver a música que está inscrita nas nossas raízes artísticas e culturais mais profundas será a melhor forma de exprimirmos as nossas emoções e ao mesmo tempo de podermos aproveitar dos seus efeitos terapêuticos. A música pode acalmar o coração inquieto do homem. 
___________________________

* Ackerman, Diane, Uma história natural dos sentidos, p. 218.
 
**  Punset , Eduardo, El viaje a la felicidad, p. 215.





Sem comentários:

Enviar um comentário