25/03/21

O neutro falso


                            

 

1. Sou do tempo em que a Comissão da condição feminina  publicava textos sobre isso mesmo, a condição feminina, do tempo em que os estereótipos sexuais marcavam excessivamente a cultura e, tão importante ou mais importante do que isso, um tempo em que eram as condições de vida que marcavam o nosso quotidiano de homens, mulheres, raparigas e  rapazes.  O acesso à educação e ao mundo do trabalho influenciou e influencia a modificação das relações entre homens e mulheres.

Tem sido uma lenta e necessária mudança para que todos possamos estar em condições de igualdade nas oportunidades que nos são dadas, à partida,  numa  sociedade  em que não pode haver ignorados ou excluídos.

 

2. Dos vários trabalhos que começaram a colocar este tipo de questões, podemos referir dois: Ivone Leal escreveu “O masculino e o feminino em literatura infantil, de 1982, sobre a literatura infantil tão marcada por estereótipos sexuais, pelo sistema de crenças e valores que por sua vez influenciam o nosso presente e  futuro.

O estudo  de Maria Isabel Barreno, O falso neutro – um estudo sobre a discriminação sexual no ensino,  de 1985, evidencia o funcionamento do ensino no uso destas diferenças nos planos de estudo, programas e livros. Embora a igualdade esteja constitucionalmente garantida acontece que na prática o feminino era desvalorizado.
Por isso, impunha-se a necessidade de alterar as imagens transmitidas pelos diversos instrumentos de gestão educativa: planos, programas, manuais escolares, etc ....

3. Surg
e agora, embora não inesperadamente, a agenda ideológica politicamente correcta dos "guiões da linguagem" dita neutra e dita inclusiva. 

Não se trata de evolução social mas tão só de ideologia  que pretende alterar e desconstruir os fundamentos da nossa vida social. E, ao mesmo tempo, de excluir os outros que passaram a ser acusados de fóbicos.

É-nos exigida uma linguagem  neutra e inclusiva... Mas não é neutra nem inclusiva porque desde  logo é uma linguagem imposta que exclui todos os que não se revêem nessa ditadura da linguagem. 

Além disso, muitas vezes é ridícula, como no caso dos "camarados e camaradas", no uso da @ em vez do "a" ou do "o", e, como se trata de uma coisa impronunciável, do uso de "e" em vez do "a" e do "o", etc.

Não faz qualquer sentido, nem tem qualquer fundamento, como lembrava Francisco José Viegas que referia Claude Lévi-Strauss: “o género gramatical não tem a ver com o género natural”.

A imposição de uma linguagem é uma tendência que atinge instituições como a ONU, Comissão Europeia, Conselho económico e social (CES), algumas escolas...

 

4. Foi assim que passámos do falso neutro ao neutro falso. O neutro falso é ditatorial, é violência e exclusão de toda a gente. E eu, que defendo a inclusão, não sou neutro e, portanto, sou um dos excluídos.

 


 







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