12/03/21

Da utopia à distopia




1. Viver num país livre é também viver essa pequena grande diferença que existe entre os países: os que podem e os que não podem comemorar o que quiserem.
Poder comemorar é uma manifestação normal de qualquer pessoa, grupo, religião, partido... sobre o que se quiser.
O que nós sabemos é que nos países democráticos podemos fazê-lo e nos países de partido único ou nas ditaduras, onde a oposição é perseguida e dizimada, isso não é possível.
Todos os homens têm direito à liberdade. E esta não seria apenas uma utopia para enganar os cidadãos.
Há lugares utópicos onde podemos viver e lugares distópicos onde nos controlam a vida: qualquer movimento, qualquer pensamento, qualquer manifestação escrita, qualquer palavra, qualquer comemoração.

2. Há dias, Portugal acordou com bandeirolas por todo o lado. O partido comunista português comemorava então o centésimo aniversário de existência. 
Tem liberdade para o fazer. Coisa que não é possível a outros, como acontece nos países do socialismo real. 

3. E, por isso, esta comemoração é da ordem da distopia, onde não há nada de novo e que não saibamos há muito tempo.
A publicação d' O Capital de Marx é de 1867 e o Manifesto do partido comunista, de Marx e Engels, de 1884, que no parágrafo final para além do jargão “Proletários de todos os países, uni-vos” refere também que “Os comunistas não ocultam as suas opiniões e objetivos. Declaram abertamente que os seus fins só serão alcançados com o derrube violento da ordem social existente."
Entre um e outro, Leão XIII escreveu, em 1878, a carta encíclica “Apostólica muneris” e posteriormente, em1891, a “ Rerum novarum".
Mais tarde, já com os efeitos nefastos e dolorosos no terreno, em 1937, Pio XI escreveu a "Divini redemptoris", "sobre o comunismo ateu". *

4. Para a "Rerum novarum", o capital e o trabalho têm interesses harmónicos e não antagónicos e “O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado...
Elas têm imperiosa necessidade uma da outra: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital. A concórdia traz consigo a ordem e a beleza; ao contrário, de um conflito perpétuo só podem resultar confusão e lutas selvagens”. (pag 22) 

5 A distopia (John Stuart Mill, 1868) é caracterizada pelo controle opressivo de toda uma sociedade, pela desagregação social, ou por condições económicas, populacionais ou ambientais degradadas. 
O século 20 foi marcado por mudanças tecnológica, científicas e sociais, com duas guerras mundiais sangrentas e regimes totalitários violentos. 
1984, de George Orwell, e Admirável Mundo novo, de A. Huxley, mostram-nos como se tem caminhado na direção errada.
Porém, às “fascinadoras promessas” socialistas como lhe chama Pio XI, seguiram-se os "dolorosos efeitos" que, como sabemos, se fizeram sentir por todo lado a começar pela Rússia e pelo México.

6. Em 25 de Abril de 1974, a liberdade trouxe toda a esperança num mundo diferente, utópico, onde todos podemos comemorar tudo.



Até para a semana com muita saúde.



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* O assunto é tratado em outras cartas encíclicas, como a "Quadragesimo anno" (1931), de Pio XI, a "Mater et Magistra" (1961), de João XXIII...








 

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