07/05/19

O mexilhão

Helena Matos, Blasfémias


Helena Garrido, Observador,  6/5/2019, "A lição do caso dos professores"
"O caso da carreira dos professores nada tem a ver com economia. Pura táctica política. Quem quiser levar a sério as contas públicas tem de generalizar um travão financeiro plurianual."
"... Infelizmente o que se fez até agora em matéria orçamental, mesmo sem os professores, pode já ser suficientemente preocupante. Nunca nos podemos esquecer que as receitas fiscais caem quando aparece uma crise e as despesas aumentam por causa dos apoios sociais, como o subsídio de desemprego. O custo social e político de cortar despesas em tempo de crise já o experimentámos e devíamos ter aprendido como é violento. Não aprendemos. Nem vamos aprender agora.

É frequente citar-se (também já o fiz) a redução do IVA da restauração como um dos grandes erros deste Governo, em matéria de desperdício de recursos. E não é porque será fácil aumentar de novo o IVA, sem grandes custos políticos. Mas o mais grave erro, com efeitos orçamentais e nos serviços públicos, foi a decisão de reduzir o horário de trabalho dos funcionários públicos de 40 para 35 horas semanais. Um dia um outro Governo voltará a ter de aumentar o horário de trabalho, com custos políticos.

O travão financeiro que o PSD e o CDS propõem, no caso das carreiras dos professores, deveria ser aprofundado e alargado a outras áreas. Basta olhar para o Programa de Estabilidade para perceber que este Governo também já comprometeu os orçamentos do seu sucessor (quem sabe se não é essa a maior preocupação, pensar que vai ser de novo Governo herdando o que fez nesta legislatura). Tudo o resto a que assistimos na última semana é táctica política, intelectualmente muito interessante e a dar a vitória a quem é melhor jogador. António Costa conseguiu ser a imagem do rigor orçamental e colocar os tradicionais partidos do rigor, PSD e CDS, no papel de irresponsáveis. É sem dúvida extraordinário.
Mas não é disso que precisamos. Não é isso que dará aos professores maior segurança sobre os seus rendimentos futuros, não são estas medidas que dizem aos professores que as suas carreiras nunca mais serão congeladas."
Nem aos professores nem a ninguém. O episódio - a ameaça de demissão - é uma treta mal encenada, a seguir à ópera-bufa das PPP na Saúde (Sofia Vala Rocha, "António Costa ama os hospitais privados", Sol). Mas não só. É muito mais grave do que isso. Os professores são apenas o "mexilhão" desta história que assinala o fim do revertério. Viram "o diabo" por aí?

Sem comentários:

Enviar um comentário