14/02/18

Pais com autoridade


As famílias ao longo das várias gerações confrontam-se sempre com o problema da  educação dos filhos 1, procurando conseguir uma  vida psicologicamente equilibrada num contexto de  bem-estar.
A questão é particularmente importante quando as crianças são desobedientes e  indisciplinadas e, ao contrário de pensar que a autoridade é um dom da natureza, um talento particular, e que não há nada a fazer, o  pedagogo ucraniano Anton Makarenko 2  defende que  a autoridade pode ser organizada em cada família. 3 O problema é que os pais organizam esta autoridade em bases erradas.
Podemos resumir alguns desses tipos errados de  autoridade:
A autoridade opressiva, é a espécie de autoridade mais terrível . O pai manifesta toda a sua cólera por qualquer coisa, mesmo sem importância, anula o papel da mãe, leva as crianças a afastarem-se, fomenta a mentira infantil, a cobardia e a crueldade.
 A autoridade distante  mantém as criança à distância e interage o menos possível, as ordens são transmitidas pela mãe que funciona como intermediária.
A autoridade vaidosa ou arrogante, os pais consideram-se as pessoas mais importantes da sociedade  e transmitem aos filhos esta ideia arrogante.
autoridade pedante.  Uma ordem transforma-se em lei.  As crianças não podem perceber que o papá se enganou e que não tem firmeza. Mesmo que esteja errado mantém o que disse….
autoridade racional. Neste caso os pais enchem a vida da criança de sermões, de conversas edificantes e discursos enjoativos…
autoridade afectuosa é uma forma de autoridade muito difundida  mas  errada e perigosa. As palavras de ternura, os beijos, as carícias, os testemunhos de afecto chovem literalmente sobre a criança. Esta autoridade  pode fazer egoístas, hipócritas e mentirosos. E muitas vezes as primeiras vítimas deste egoísmo são os pais.
A autoridade afável. Neste caso a obediência depende das  concessões, doçura, bondade dos pais. O pai e a mãe são o anjo bom. Uns pais de ouro. Temem toda a espécie de conflito, preferem a paz do lar, prontos a qualquer sacrifício desde que tudo vá bem. Nesta família as crianças começam muito cedo a mandar nos pais.
A autoridade amigável. Para os pais os filhos são os seus  amigos. Claro que os pais são amigos dos filhos  mas devem continuar a manter  a autoridade educativa. Se esta amizade for  levada ao extremo, são as crianças que  começam a educar os pais.
A autoridade corrupta é a forma mais imoral de autoridade, aquela onde a obediência se compra pura e simplesmente com prendas e promessas...
Esta atitude não se pode confundir com as formas de encorajamento, prémios por realizarem uma actividade realmente difícil, para recompensar bons estudos mas não quando se trata de cumprirem o seu dever como no trabalho escolar, p.ex.
Em geral, a educação será errada quando os pais não se preocupam em adquirir qualquer espécie de autoridade... Um dia punem o filho por um aspecto sem importância, no dia seguinte fazem-lhe uma declaração amorosa, a seguir punem de novo...
Também é errado o pai optar por um tipo de autoridade e a mãe por outro. Os filhos neste caso aprendem a ser diplomatas e a andar com rodeios entre o pai e a mãe.
Também acontece que há  pais que não têm qualquer atenção aos filhos e apenas pensam na sua tranquilidade.
Para Makarenko a verdadeira autoridade dos pais numa família deve basear-se, em primeiro lugar, na sua condição de cidadania, de pai e de ajuda e, em segundo lugar, na responsabilidade porque respondem pelos filhos face à sociedade e, por outro lado, essa responsabilidade é também exigida aos filhos.
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1 Pais com autoridade. Baumrind definiu vários estilos parentais.
2 Anton Makarenko, Oeuvres en trois volumes, Le livre des parents - Articles sur l'éducation - III, Ed. du Progrès, Moscou (“O livro dos pais - Artigos sobre a educação”). No artigo "Sobre autoridade dos pais" (p. 369-378) descreve vários tipos de autoridade parental e coloca a questão sobre a verdadeira autoridade dos pais e como se organiza.
3 Após a chamada revolução de Outubro, na Rússia, Makarenko refere "família soviética". O que é interessante é que a educação dos filhos e o bem-estar da família é idêntico em qualquer parte do mundo e tem extraordinária actualidade.

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