30/06/16

Foi por ela

 
Foi  por ela - Fausto

O resultado do referendo na Grã-Bertanha "disse" que a maioria dos cidadãos britânicos decidiram sair da União Europeia. Dito de outro modo, este resultado mostrou, de facto, que a maioria dos britânicos não está interessada num futuro comum.  Mais uma vez se prova que a falar nos desentendemos e voltamos aos tempos de Yalta e à primazia dos interesses, como se dizia aqui.
Seja qual a for a opinião que cada um tem sobre este acontecimento, uma coisa é certa, como escreve António Barreto:
"Não há quem possa compensar o que desaparece. Ninguém, nenhum país poderá preencher o vazio agora criado. O que a União europeia perdeu, de facto, não tem substituição. Perdeu uma das nações mais antigas e influentes do mundo e da história. Talvez o povo com o maior apego à liberdade que se possa imaginar. A mais antiga e experiente democracia do mundo. O único país que não conheceu, nos últimos séculos, a ditadura. A mais consolidada tradição de autonomia individual perante o Estado…"
Como referimos, Dorothy Tennov propõe três etapas para construção do futuro comum: a fusão, a construção do ninho, a negociação das margens respectivas de liberdade e intimidade individual. 
Como acontece no amor, parece-me que também as sociedades que querem construir um futuro comum vão encontrando maiores dificuldades nas etapas dessa construção. Certamente, a negociação das margens de liberdade será sempre difícil de concretizar à vontade de cada um. Mas esse é o caminho do amor.

Inicialmente, parecia uma coisa natural. Para quem viajava pela Europa ou ia apenas ali a Espanha. Fazia sentido que houvesse comunicações, liberdade de circulação, relações comerciais comuns, até uma moeda comum. 
Nesta fase de fusão não nos demos conta de que o processo era pouco democrático, mas era preciso entrar e assim foi, com pompa e circunstância, como nas grandes cerimónias. Lá estão as placas comemorativas na calçada em frente aos Jerónimos, em Lisboa. 
Foi por ela, uma canção de Fausto, exprime bem esta fase da fusão. 
“Foi por ela que amanhã me vou embora
ontem mesmo hoje e sempre ainda agora
sempre o mesmo em frente ao mar também me cansa
diz Madrid, Paris, Bruxelas quem me alcança
em Lisboa fica o Tejo a ver navios
dos rossios de guitarras à janela
foi por ela que eu já danço a valsa em pontas
que eu passei das minhas contas foi por ela 
Esta fase, a fusão, fica bem expressa nos últimos versos:
“foi por ela que eu deixei de ser quem era
sem saber o que me espera foi por ela” 
Pouco importava o desconhecido que, em todo o caso, parecia um mar de rosas. Na segunda fase, a construção do ninho, "devem assumir-se novos compromissos para garantir infraestruturas adequadas à vida em comum e se e necessário muda-se de local de trabalho, de lugar geográfico. O amor expressa-se menos com beijos e carícias e mais com cuidados, trabalho e contratos que cimentam uma plataforma comum sustentável." (E. Punset)
Os erros cometidos nesta fase têm consequências a longo prazo e foram talvez esses erros que fizeram com que seja tão difícil estabelecer os limites da terceira fase: a delimitação negociada dos campos respectivos de liberdade. 
Depressa nos esquecemos o que de bom se fez nos países após a adesão à União Europeia, os aspectos negativos tem sempre outro impacto . E são esses que sobressaem. 
É nessa perspectiva que estamos.
Mas mesmo com todos os defeitos desta União Europeia, este é um dos melhores sítios para se poder viver com dignidade, liberdade, democracia e justiça. 
Estamos quase a ir de férias esperemos que tudo fique mais claro com o repouso que merecemos. Boas férias. 

Sem comentários:

Enviar um comentário