A Justiça, em granito, em frente ao Supremo Tribunal Federal, Brasília, de Alfredo Ceschiatti
Perante os factos mais inverosímeis do quotidiano, costumamos dizer que já nada nos surpreende. Mas não é verdade. Estamos sempre a surpreender-nos. E é de espanto que se fazem os nossos dias.
Assistimos com frequência ao aparecimento de regimes ainda mais autoritários do que aqueles que caíram com as supostas “primaveras” políticas e sociais transformando-se nos piores “invernos” para as populações, com as "revoluções" da América latina transformando-se em regimes ditatoriais...
As políticas têm implicações directas na vida das pessoas e devem garantir a defesa da vida, a segurança do dia a dia, a tranquilidade e uma vida com alguma qualidade mas em vez disso assistimos todos os dias, à destruição de famílias, de cidades, da cultura…
As democracias são ameaçadas todos os dias pelo terrorismo externo, mas também pelas oligarquias internas, que António Barreto ("Moral e política") chama de “tribos políticas”, que numa atracção fatal pela perpetuação no poder, usam todas as artimanhas para essa manutenção.
"O que se passa no Brasil, com Lula da Silva à beira de ser nomeado ministro, a fim de evitar ser preso por corrupção, e um juiz federal a tentar impedir aquele gesto, merece toda a atenção. Não para resmungar, mais uma vez, contra a “falta de valores” e a “ausência de moral”, mas sim para perceber o modo como as tribos políticas transformam em virtude não só as suas ideias, como também os seus interesses, os seus crimes e os seus roubos.
No Brasil ou na Venezuela, em Portugal ou em Itália, políticos ou banqueiros, empresários ou sindicalistas, assumem a sua mentira e a sua corrupção como actos legítimos na defesa dos seus interesses e pontos de vista que são obviamente lícitos, contra os dos outros, que os combatem com meios evidentemente ilegítimos. Um governante que mente e rouba, um banqueiro que esconde e desfalca, um empresário que corrompe e disfarça, um gestor que favorece e dissimula ou um deputado que falsifica e engana, tem todo o interesse em demonstrar que os seus inimigos são, não a lei nem as instituições democráticas, mas os opositores, os outros partidos, as outras classes sociais, as outras nacionalidades.
Por isso, os envolvidos nestes casos procuram, na imprensa, nas televisões e na rua, ganhar as batalhas que nunca venceriam na justiça. Por isso há bandidos que tentam vencer, com
a política, o que nunca obteriam com a lei. Por isso, os grandes delinquentes consideram que a justiça e os magistrados estão “ao serviço do inimigo”.
Na América Latina e na Europa, lá como cá, não estamos diante de mais uma escaramuça, mas sim de um grave conflito de cujo resultado depende a democracia. A vitória desta última só pode ser ganha com a justiça. Não chegam as maiorias políticas. Nem os poderes sociais e económicos. Nem a força da rua."
A justiça é um dos pilares da democracia, o último da sua defesa. Mas deixem-me meter Cristo nisto tudo que tinha e tem uma pergunta a fazer: “quando o sal se tornar insípido, com que se salgará?”
É por isso que a justiça não pode perder a sua independência e a sua força face a qualquer poder, político ou não.
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