25/03/16

Ciência, tradição e cultura


1. Uma das experiências mais interessantes que tenho vindo a verificar, entre as pessoas que têm uma pequena quinta ou horta, é a da partilha. Normalmente, há sempre quem plante em excesso, de forma que as dádivas dos vizinhos permitem que não seja preciso gastar dinheiro em sementes ou plantas novas.
Um livro cheio de boas ideias e actividades práticas para realizar. A ideia fundamental é reciclar, não desperdiçar, ser criativo e ter estilo.
Os cenários da nossa vida ficam muito mais agradáveis e a natureza menos agredida.
Aprende-se todos os dias com a natureza, o tempo, a fragilidade, a riqueza da natureza que tantas vezes nos passa ao lado. É um mundo maravilhoso de complexidade que a maior parte (?) de nós desconhece como verificamos, por exemplo, em The seed site.
É uma óptima terapia, como aqui escrevi para todas as pessoas e, para os mais velhos, uma boa alternativa aos bancos do jardim ou à esperança de orçamentos milagrosos que, dizem "eles", viram a página da austeridade!
O livro tem uma dedicatória: "À minha avó, uma inspiração na jardinagem." Muitas destas aprendizagens resultaram da observação que fizemos com os nossos pais e avós. A tradição começou na aprendizagem com as gerações anteriores. A cultura começou por esta parte, pela cultura agrícola (séc XI) que mais tarde (séc.XVI) passaria a ter o sentido figurado de cultura de espírito (Dicionário temático Larousse, Sociologia, pág 58).


2. A relação entre cultura, ciência e tradição é uma das melhores formas de compreensão do mundo em que vivemos e, esta visão do ser humano, integrada e ecológica, possibilita percursos de vida mais felizes. A tradição tem,  afinal, grande importância para uma vida de qualidade. O saber fazer e saber estar, o modo de viver dos nossos pais e avós somado aos instrumentos de trabalho da actualidade podem ser o segredo para uma vida com qualidade.

Um projecto interessante, já com alguns anos, tem vindo a promover a ligação, o diálogo, entre Ciência, Tradição e Cultura que pelos vistos é possível e necessário.


No âmbito deste projecto, em 15 de outubro de 2014, ocorreu o encontro improvável entre Marcelo Rebelo de Sousa e Rosalia Vargas, no Cineteatro Avenida, em Castelo Branco. Falaram sobre Ciência, Tradição e Cultura e de como estas podem e devem ser promovidas, desde os mais jovens aos menos jovens e em que medida os meios de comunicação social e as instituições as podem promover.

Falaram da experiência infantil da modelagem do barro e da vontade de fazer novamente essa experiência.
Infelizmente, nas nossas escolas este tipo de experiências tem vindo a ser esquecido. As muflas que havia nas escolas desapareceram ou jazem em armazéns à espera da inutilização. Diga-se o mesmo de outras artes: carpintaria, mecânica, tecelagem... Face a este esquecimento curricular, ganha maior importância tudo o que pode ser feito pelas associações culturais ou por projectos como é o caso do Centro Ciência, Tradição e Cultura. O que era mesmo interessante era que fosse dado o lugar na educação que estas artes merecem, tendo em conta o significado que o diálogo ciências-artes pode ter na formação dos alunos, não apenas em relação à aprendizagem dessas artes mas à estratégia que é subjacente à motivação para as aprendizagens, à ligação com a cultura. É o que verificamos sempre que há festa na escola: são as artes que dão o toque estético de como a escola vive a cultura e a integração na comunidade.
O que era mesmo interessante era que o desejo do agora Presidente da República se tornasse numa experiência enriquecedora para as aprendizagens de tantos alunos.

3. A tradição é também o tema deste número de Inverno da Epicur. Do Editorial "O que ainda é do que já foi", a frase de Gustav Mahler: "A tradição não é o culto das cinzas, mas a preservação do fogo" e a escrita de Filipa Melo "É verdade que grande parte das vezes se consome tradição como se consome novidade: não por serem ricas em potencalidades ou evocativas mas porque estão à mão, como um hábito que nos dispensa de pensar. E, no entanto, a ligação aos clássicos e à tradição só faz sentido se significar culto, preservação ou recuperação do afeto. Se de algum modo for parte viva, estimulante, de nós e do presente."
Todo o desenvolvimento humano (psicológico, social, económico...) tem que ver com estas formas de ser e estar. Não se pode fazer à custa do esquecimento da tradição tanto mais que, como sabemos, são cada vez mais apreciados os produtos tradicionais, mesmo contra o excesso de padronização europeia, porque muitos deles têm em conta o respeito pela natureza e pelas suas regras. O desenvolvimento da ciência também tem estes limites do humano e apenas quando eles estão garantidos o justificam.

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