Temos dificuldade em nos afastarmos das noticias que nos deixam estupefactos com a violência gratuita que um pouco por todo o mundo assassina indiscriminadamente inocentes e espalha o terror. Em Madrid, Londres, Paris, Bruxelas, essa Europa que com valores humanistas, é violentada por aqueles que tem acolhido ao longo dos tempos.
A violência terrorista sobre pessoas e ou instalações não é apenas física mas também psicológica, incutindo medo de forma a obter efeitos psicológicos não apenas nas vítimas directas mas também no resto da população. Acontece ainda que o medo é revivido sempre que um novo acto terrorista é perpetrado, como nas perturbações de stress pós-traumático (Joan Cook).
Vivemos em sociedades complexas e estes fenómenos têm que ser analisados com cuidado, tendo em conta os vários contextos relacionados como o processo de radicalização e com a globalização. A globalização é a “a intensificação à escala mundial, de relações sociais que ligam localidades distantes de tal forma que os acontecimentos locais são influenciados por acontecimentos que ocorrem a muitos quilómetros de distância e vice-versa”. 1
Por outro lado, temos que pensar que vivemos numa sociedade onde as pessoas perigosas não têm um rótulo, um perfil ou se fazem anunciar. Gente perigosa está no meio de nós: psicopatas, pedófilos, violadores, assassinos, e também radicais e fundamentalistas. 2A radicalização dos jovens tem tocado especialmente alguns países que deixaram de forma descontrolada criar espaços que tornam o fenómeno mais intenso. Certamente os estados estão a lidar com estas situações o melhor que sabem mas também com os princípios políticos subjacentes que defendem. 3
A sociedade deve reagir a esta violência. Claro, a nível individual estamos a fazê-lo mas é necessário fazer mais também a nível colectivo e preventivo.
As respostas devem vir sobretudo da sociedade, das instituições existentes: apoio psicológico nas escolas, centros de saúde e de saúde mental, a formação e emprego, as polícias, a luta contra a propaganda nos meios de comunicação como a internet, porque a radicalização necessita da globalização para ser eficaz.
O que é ainda mais chocante é que o recrutamento se faz num período de desenvolvimento em que os jovens fazem o percurso da sua identidade, a crise da adolescência.5 O apoio que necessitam é completamente distorcido pelo fanatismo. É neste estádio que se adquire uma identidade
psicossocial: o adolescente precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua singularidade.
Um processo que pode começar como uma crise de adolescência, de ruptura com a família, como tantas vezes acontece, acaba por se transformar num grave problema pessoal, familiar e social.
Por seu lado, os pais, por vezes, não sabem como lidar com os filhos adolescentes, sentem vergonha dos comportamentos, e não pedem ajuda. E, infelizmente, quando soa o alarme é já tarde para agir.
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1 A. Giddens, citado por Manfred B. Steger, A globalização, Quasi, pag 19.
2 Dossier "Les patiens dangereux", Le cercle psy, nº 19.
3 Isto não tem nada a ver com as justificações do tipo "pôr-se a jeito". Nada justifica o terrorismo. Ou, pior ainda, é relacionar o terrorismo com políticas de direita.
4 Nem sequer há entendimento quanto ao controle de fronteiras. O tráfico de armas é um dos principais negócios a nível mundial.
5 Erik Erikson definiu um quinto estádio de desenvolvimento psicossocial: identidade/difusão de identidade.
2 Dossier "Les patiens dangereux", Le cercle psy, nº 19.
3 Isto não tem nada a ver com as justificações do tipo "pôr-se a jeito". Nada justifica o terrorismo. Ou, pior ainda, é relacionar o terrorismo com políticas de direita.
4 Nem sequer há entendimento quanto ao controle de fronteiras. O tráfico de armas é um dos principais negócios a nível mundial.
5 Erik Erikson definiu um quinto estádio de desenvolvimento psicossocial: identidade/difusão de identidade.
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