01/12/15

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Um comentário às vezes é melhor, mais justo e mais objectivo, do que a opinião do(a) jornalista.

"Cavaco Silva nunca foi um homem simpático e de criar empatias. Os media (na sua maioria) e os chamados "intelectuais" sempre embirraram com ele. Isto devia ter-lhe sido fatal na carreira!
No entanto, Cavaco é, sem dúvida, o político mais bem sucedido no Portugal pós-25 de Abril. Muito mais do que M. Soares que, embora possa personalizar mais a opção da democracia e da Europa, é muito menos relevante nos actos concretos da organização e do desenvolvimento do país.
Votei nas primeiras eleições, de 1975, para a Assembleia Constituinte, pelo que tenho já idade para analisar, com equilíbrio, os trajectos e as evoluções das diversas personagens. 
Cavaco ganhou em 1985 (em minoria) e em 1987 e 1991 (com maioria absoluta) porque os eleitores queriam estabilidade, desenvolvimento e "menos revolução". Cavaco correspondia a essa necessidade. Era esfíngico, vertical, de poucas falas, transmitia a ideia de saber o que queria e... de saber mandar.
Os 10 anos de maioria absoluta foram, indiscutivelmente, os anos do desenvolvimento e das infraestruturas (a política do betão, recordam-se?). Recordo que, nessa época, havia muita gente sem electricidade, sem água canalizada, sem saneamento básico e esgotos, sem estradas alcatroadas. Não havia uma autoestrada entre Lisboa e o Porto, quanto mais uma que ligasse o Minho ao Algarve...
Aproveitando os fundos da então CEE, Portugal pareceu, durante alguns anos um grande estaleiro. Foram os anos de maior crescimento consecutivo do PIB. Cavaco deu o subsídio de férias e de Natal aos reformados (ainda não tinham, nem com o Prec!), subiu os salários mínimos e da função pública, mandou construir o Alqueva e a Ponte Vasco da Gama. Foi ele que introduziu o IRS e o IVA. Chegou, também a Auto-Europa.
Foi uma política de investimento público maciço e de modernização, pois era isso que o país necessitava. Não havia comparação possível entre o Portugal de 1985 e o de 1995! Cavaco saiu com o país financeiramente equilibrado e com uma dívida pública abaixo do 60%.
O problema foi que, os governos seguintes (nomeadamente o de A. Guterres) quiseram fazer exactamente a mesma política (do betão... e do juro baixo!) e, em vez de apostarem noutro modelo de desenvolvimento - exportações, por exemplo), levaram-nos "suavemente" até à bancarrota de Sócrates em 2011.
A eleição de Cavaco a PR, em 2006, foi quase uma inevitabilidade pois não havia nenhum "peso-pesado" para lhe disputar a eleição. Os seus dois mandatos de PR, se é que se pode comparar, foram claramente inferiores aos de 1º ministro (cargo que lhe encaixava no seu estilo).
Um primeiro mandato sem grandes problemas, no seu estilo institucional (Sócrates tinha maioria absoluta) e um segundo cheio de crises que, em boa verdade, não foram por ele provocadas, e que todos conhecemos bem: Sócrates minoritário, Troika, 4 anos de maioria absoluta de Passos Coelho, governo minoritário de Costa... que perdeu as eleições..
Cavaco, no entanto, e mesmo a contragosto, deu posse a Costa. Não andou, como Mário Soares, 4 anos a perseguir o 1º ministro (Cavaco!), nem a derrubar um governo com maioria parlamentar de Santana, como Sampaio (maioria parlamentar como agora, é muito curioso...!) para deixar Sócrates no poder.
Conclusão: tirando factos laterais (come bolo-rei com a boca cheia, diz que ganha pouco, etc), nada há de grande mal na actuação de Cavaco como PR. 
Cumpriu perfeitamente o seu papel... não percebo a sanha e o ódio a que o votam!"



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