Podemos começar por fazer perguntas importantes: "como se faz um homem?" (1) ou "quem nos faz como somos" (2), para podermos ensaiar uma resposta a "como se constrói um sujeito democrático?".
É disso que andam à procura no Ministério da Educação e é por isso que os currículos são matéria pouco estável do sistema educativo. O que se passa entre nós parece sugestivo com as alterações curriculares da "formação cívica" ou da "área de projecto".
Provavelmente o homo politicus não vem nos genes mas tudo aquilo que somos depende de factores que interagem com a genética.
Se podemos dizer que o homem deve o que é aos genes e à cultura, até que ponto a cultura pode influenciar as nossas decisões?
O que origina que irmãos optem por partidos diversos, um que apoia o governo e outro a oposição, se tiveram educação semelhante e estiveram incluídos na mesma cultura?
Mas mais grave é quando há indivíduos que se afastam completamente dos princípios culturais e éticos sociais e familiares e se transformam em indivíduos pouco democráticos e ditadores?
Como se forma um Hitler, como se forma um Mandela ?
Como se produz socialmente um sujeito democrático ?
São os amigos , a escola, a família ? Será que é possível a partir da educação democrática, de uma escola democrática, vir um dia a “abolir” as ditaduras e a política ter uma base de convergência/divergência dentro de estruturas democráticas ?
Como é possível que alguns dos actuais ditadores, educados em universidades inglesas ou americanas se transformaram em líderes sanguinárias?
Será que são as condições económicas que determinam as opções das escolhas politicas?
É o facto de não haver desenvolvimento, crescimento, que torna os sujeitos antidemocráticos ou isso leva a que todos optem pela democracia ?
Porque será que em períodos de crescimento económico as desigualdades se tornam ainda maiores entre as pessoas?
Os países com riquezas naturais, têm gerado mais desigualdade ou equidade para os seus cidadãos ? Não continuam os seus cidadãos entre os mais pobres do mundo?
O progresso económico, o crescimento, tem sido apontado como o milagre para resolver a questão da equidade.
Por exemplo, o facto de o Brasil ter sido "o pais de maior crescimento económico do globo entre 1930 e 1980 (período no qual deixou de ser uma das mais pobres sociedades do globo para chegar a ser a oitava economia global), sem que as taxas de desigualdade, marginalização e subcidadania jamais fossem alteradas radicalmente "(Jessé Sousa), podia alertar-nos para o facto de que não é então este aspecto determinante para alterar a equidade entre os cidadãos de um determinado país.
A equidade não significa inexistência de diferenças pessoais, sociais e culturais mas que apesar delas podemos ter uma base de “disciplina e autorresponsabilidade” (Jessé Sousa), que possa permitir a igualdade de direitos e deveres de todos os cidadãos.
1 Fafe, J. F.(1975). Reflexões sobre a formação dos homens, XX/XXI. Lisboa: Iniciativas Editoriais.
2 Pio-Abreu, J. L. (2007). Quem nos faz como somos, 3ª Ed.. Lisboa: Dom Quixote.
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