05/12/12

Da experiência de ouvir à aprendizagem de escutar





A educação sensorial é o ponto de partida para que o desenvolvimento atinja os seus objectivos.
Também para Piaget, a experiência é um dos factores de desenvolvimento. Sem ela todo desenvolvimento fica comprometido. Para se chegar à experiência lógico–matemática temos primeiro que desenvolver a experiência física que se processa a partir dos órgãos dos sentidos: a visão, a audição, o paladar, o olfacto e o tacto.
A experiência infantil ligada à natureza é uma experiência fundamental:
O bebé precisa dessa experiência física para ir construindo a sua pele psicológica de modo a que possa incorporar os dados da natureza nas suas estruturas cognitivas e por outro lado, processar igualmente os dados que vêm do seu próprio organismo.
No caso da audição, praticamente todas as tarefas a exigem, com particular relevância na linguagem. A maioria das pessoas nasce com a capacidade de ouvir. No entanto, as pessoas ouvem mas nem sempre escutam. Os dois termos, ouvir e escutar (hearing e listening) não significam a mesma coisa.
Os bebés têm capacidade para ouvir. Nascem com particular sensibilidade para determinados sons, para a música e para ritmo que lhe está associado desde muito cedo.
Mas esta capacidade inata de ouvir tem que ser desenvolvida pela experiência auditiva em todas as situações da vida, no sentido de se tornar capacidade de escuta.
Os alunos “ouvem” de maneiras diferentes e por motivos diferentes ao longo do dia de escola. Eles podem ouvir e escutar: o Director, o DT, professores, os amigos, histórias, regras do jogo, avisos, etc.
Podemos dizer que 45 por cento do dia de um aluno é gasto ouvindo e os alunos adquirem 85 por cento do conhecimento, ouvindo (Associação Internacional de escuta).
O treino da escuta é essencialmente informal, embora algumas pessoas possam treinar a escuta formalmente (segundo a mesma associação apenas 2% da população já recebeu instrução formal de escuta), deve ser feita para melhorar essa capacidade
Escutar é difícil porque envolve outras capacidades como por exemplo a capacidade de atenção, a capacidade para reconhecer os pontos importantes ou insignificantes do discurso, o contexto em que se fala, a linguagem corporal que acompanha, a entoação com que se dizem as frases.
Alguns alunos manifestam dificuldades na capacidade de atenção e por isso devem ser encaminhados para terapia. Usamos com eles programas de treino da atenção e reflexividade.
A escuta é muitas vezes inactiva, estamos presentes quando alguém fala, mas não absorvemos qualquer informação, estamos apenas fisicamente mas não mentalmente.
A comunicação entre as pessoas é difícil e, por isso, as reacções a uma entrevista, geram em cada comentador reacções diferentes, levado ao extremo quando se trata de ajuizar o que foi dito, consoante a cor politica. É normalmente uma escuta selectiva em que se ouve o que se quer ouvir e não o que está sendo dito.
Pelo menos em determinados settings, como entre pais-filhos, professores- alunos, psicólogo-cliente, médico-doente, a escuta na comunicação deve ser a escuta reflexiva que envolve escutar activamente, interpretar o que se diz e observar como está sendo dito e implica escutar o outro profundamente, interessar-se seriamente pelo que ele diz.
Escutar é uma competência poderosa mas é necessário que seja aprendida desde o berço. 

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