19/12/12

Os sentidos do Natal


O Natal é uma época extraordinária para os sentidos. A luz, o madeiro, os doces, as filhós, o tronco de natal, os cânticos, os sabores, os cheiros, as tradições, o calor da lareira, o frio da rua…
É um dos acontecimentos sociais mais importantes do ano porque se junta a nossa família dos afectos. Na ceia de Natal estamos com aqueles que amamos. Mesmo quando ausentes estão presentes com as saudades que deles sentimos
Na festa de Natal a alimentação é, principalmente, hedónica e simbólica. Comer é muito mais do que comer. Isto é, comer é muito mais do que a parte energética. É muito mais o prazer do convívio e dos símbolos presentes.
As escolhas alimentares estão directamente ligadas a regras sociais, culturais e à nossa personalidade.
São experiências passadas, inconscientes, que fizeram parte do nosso desenvolvimento e foram experiências agradáveis ou desagradáveis.
Somos muito determinados nos nossos gostos: gostamos ou não gostamos de determinado alimento. 
E é assim desde a infância. Matty Chiva (“Le gout et l' autre: sensation, émotion et communication dans la prime enfance”, 1980), concluiu que o gosto começa por ser um reflexo gusto-facial (se colocamos um alimento amargo na boca da criança muito pequena ela fará uma careta) e à medida que vamos saboreando vários alimentos o comportamento vai-se transformando em comunicação com o outro tornando-se cada vez mais uma interacção cultural, com a socialização e aprendizagem, que se realiza na mesa familiar.
É uma festa para os sentidos porque a variedade de alimentos, de cores, de sabores, de cheiros diferentes constituem uma oportunidade extradordinária para a criança efectuar e treinar a aprendizagem do paladar, de sabores novos e diferentes. Geralmente o aumento da aceitação de um novo alimento está sujeito a várias apresentações desse alimento. Os pais nem sempre são persistentes para que a criança possa fazer essa aprendizagem.
A alimentação da criança é muitas vezes um processo complicado e é necessário saber que a criança é muito selectiva em relação aos sabores. Porque está a fazer aprendizagens em relação aos seus gostos. É por isso que gostos se discutem e começam a discutir-se desde muito cedo. 
O Natal é uma festa para os sentidos porque é uma festa da relação. É uma festa que se faz com o outro. 
Para construirmos um mundo com sentido, precisamos de um mundo que seja coerente.
Natal continua a ser a festa da família e das recordações. Mesmo na ausência da família. A família real muitas vezes já não existe ou está ausente mas a recordação está bem presente. E pode existir numa recordação encobridora sugerida por um harmonioso quadro familiar de Natal. Como uma memória reparadora da falha, da ausência, do vazio.
A vida faz sentido quando temos afecto, uma identidade, pertencemos a alguém e a algum sítio, vivemos em paz e temos um espaço afectivo seguro. 
Neste Natal, é apenas isto que estão a pedir as nossas crianças.
O Natal é uma festa para os sentidos porque é o retorno à infância e à degustação. É bom não perdermos o sabor dos alimentos simples e diferentes, o olfacto das coisas naturais e o brilho colorido das luzes da infância .

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