(Kaufman et al. 1969)
Periodocamete, "assistimos" a reformas curriculares. As bases de justificação em que assenta qualquer reforma curricular nem sempre são evidentes. Pelo contrário, são até fonte de grande controvérsia, consensos, pseudo consensos e compromissos.
Kaufman (1969) * há muitos anos definia os três pilares do currículo: a sociedade a servir, o sujeito a ensinar e o conhecimento a ensinar.
A sabedoria para efectuar uma reforma curricular não depende desta ou doutra governação mas da capacidade que os governantes possam ter para perceber quais são as mudanças da sociedade e da cultura que justificam a mudança curricular.Mas, em primeiro lugar, para se mudar é porque se parte da constatação de que a escola não está a trabalhar bem. Mesmo que digamos que temos uma escola para todos, obrigatória e inclusiva. Ou será que os governantes anteriores consideram que fizeram um bom serviço na educação?
Em segundo lugar, é necessário saber que o universo do conhecimento é, sem dúvida, de uma grande complexidade. Seria simplismo não perceber que nos últimos 10 anos houve mudanças profundas na sociedade da informação e do conhecimento.
Então caiu-se naquilo que é hoje a escola: cada vez mais áreas a incluir no currículo. Como o tempo não é ilimitado algumas vão-se arrumando na formação cívica ou noutras áreas, como foi o caso da educação sexual.
E todos os dias surgem mais propostas para criar novas disciplinas e/ou novas áreas em que é preciso educar o aluno: a defesa do consumidor, a economia e utilização da banca, a segurança rodoviária, a protecção civil, a educação para a saúde, o ambiente, os media, etc.
Claro que teríamos que chegar a este ponto, como está a fazer agora Nuno Crato. Era de prever que a escola deveria cingir-se aos conhecimentos fundamentais ao serviço do futuro cientifico e técnico (Oliveira, F. (Org.), Eduquês: um flagelo sem fronteiras - o caso Lafforgue), sendo o grande motivo desta reforma: as medidas mais importantes passam por reforçar as áreas disciplinares fundamentais.
Outras medidas podem trazer algo de novo:
- No campo das artes, afirmar a identidade de disciplinas que se reúnem sob a designação de Expressões (Educação Visual, Educação Musical, Educação Física e Educação Tecnológica);
- A duração das aulas fica ao critério da escola. Do mal o menos. Um erro é sempre um erro. E este foi um erro da anterior reforma. As aulas de 90 minutos são um erro, dado o que sabemos da capacidade de atenção dos alunos e dos dados fornecidos pela biologia relativamente à capacidade de atenção dos alunos e à maturação do sistema nervoso central (SNC).
Parece que a escola vai poder optar por vários tipos de tempos. Já é um progresso.
Obviamente que pode haver disciplinas onde faça sentido haver dois tempos: na educação física , em EVT (EV/ET).
Por outro lado, há aspectos que devem ser fortemente criticáveis, como são as chamadas turmas de nível. Pois é. Sempre as criticámos. O que não fizeram outros.
E aqui entramos no reino da incoerência política dado que os anteriores governantes esqueceram-se rapidamente das medidas que tomaram, aliás mantidas pelo actual ministério:
- O que são os PCA (percursos curriculares alternativos)? O que são os PIEF ? O que são a maioria dos CEF ? O que são muitas turmas de escolas TEIP ? Não são turmas de nível ? Claro que são.
É por isso que é mais honesto, em primeiro lugar, verificar que não há soluções assim tão fáceis para resolver o insucesso escolar, nem cá nem em países mais desenvolvidos.
Depois valerá a pena fazer um currículo juntos, encontrar consensos, de forma a poder estabilizar o sistema que bem precisa.
* Referido por A. Carrilho Ribeiro, 1996, Desenvolvimento curricular, fig. 9.
Este esquema apresenta uma visão das fontes do currículo em qualquer sociedade. Nele se inclui o professor, presente nestes três pilares, enquanto integrante da relação pedagógica, vinculação com a sociedade, com o conhecimento e a cultura.
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