03/12/10

Disciplina

Um dos problemas que mais afecta a escola e a sala de aula está quase sempre relacionado com problemas de comportamento: a indisciplina. São alunos que têm dificuldade em distinguir entre a sala de aula e o recreio, entre a sua vontade e a dos outros, entre os seus limites e os limites dos outros.
Não é fácil lidar na escola e na sala de aula com alunos indisciplinados. O que se faz com um aluno que, por exemplo, no tempo de uma aula, vai à casa de banho, fala constantemente com os colegas, mexe, lê, escreve no trabalho do colega, mexe na colega, põe a cabeça no ombro da colega, levanta-se várias vezes da cadeira, diz, inclusive, que é hiperactivo e que toma medicação, desculpabilizando de alguma forma o que está a acontecer, faz intervenções descontextualizadas...
Este comportamento é suficiente para rebentar com qualquer tentativa de haver uma aula com um mínimo de aproveitamento. Imagine que são dois alunos com estas características ou  imagine que ainda tem alunos com outros problemas...
Normalmente, são alunos com comportamento de manipulação do ambiente da sala de aula, dos colegas e dos professores mas que não estando classificados como comportamento patológico, são destruidores da relação pedagógica e de um ambiente favorável às aprendizagens.
Falando com professores, sujeitos a este quotidiano, verifico que muitas vezes é difícil encontrar estratégias que funcionem com estes alunos.
É fácil sugerir as estratégias que vêm nos manuais. Mas o desfasamento das soluções vindas de psicólogos e técnicos que não estão no terreno, na escola, a milhas da realidade, faz com que não sejam eficazes.
Os professores têm que lidar e ultrapassar, diariamente, o problema. Não é um projecto, não é um programa sobre disciplina ou uma intervenção pontual sobre o assunto.
A compreensão deste fenómeno não pode excluir a participação dos pais que estão de boa fé e querem compreender o que se passa com os filhos porque a disciplina começa em casa e começa desde muito cedo.
Com alguma experiência, de alguns anos, já não me atrevo a propor simplesmente ao professor: tem que arranjar estratégias.
Sabemos que esse problema não se resolve de uma vez. A educação destes alunos faz-se todos os dias e é um projecto a longo prazo e com muitas repetições.
Perante alunos desobedientes, que apresentam aqueles comportamentos ou outros e que pura e simplesmente não ouvem o que se diz, alguns professores podem ter a tentação de quererem resolver o problema com medidas drásticas.  Mero engano. Estas medidas nada resolvem.
Fico apreensivo e lamento quando um professor diz que perdeu a cabeça e tomou medidas dessas. Mas, não concordando, também tenho cada vez mais dificuldade em julgá-lo.
Brazelton, fala-nos de formas de disciplinar as crianças e do que vale a pena experiementar, do que pode ser útil utilizar e do que é inútil experimentar.
Vale a pena experimentar:
- Os avisos podem ajudar a crianças a estabelecer limites em relação a actividades de que não quer prescindir.
- O silêncio às vezes é a melhor estratégia.
- Ir fazer uma pausa num determinado lugar da sala.
- Repetir as coisas da forma certa, dar a oportunidade a criança de fazer bem.
- Reparar o mal feito: pedir desculpa, pagar o que partiu, devolver o que roubou, repetir a acção de forma correcta.
- Planear alternativas dado que muitos comportamentos problemáticos são previsíveis e podem ser discutidos previamente.
- O humor pode ser uma forma agradável de ajudar a criança a controlar o seu comportamento
Algumas vezes é útil:
- Retirar os brinquedos.
- Cancelar convites para brincar ou adiar actividades agradáveis
- Proibir televisão ou jogos de computador
- Ignorar o mau comportamento
- Sair de cena - a criança pode gostar de ficar sozinha sem a presença do adulto.
- ter uma tarefa adicional para reparar o que fez errado.
- Suspensão da mesada
São inúteis medidas como:
- Castigos corporais
- Vergonha, humilhação.
- Lavar a boca com sabão.
- Comparar as crianças umas com as outras.
- Suprimir comida ou usá-la como recompensa.
- Deitar mais cedo ou fazer uma sesta extra.
- Retirar o afecto, ameaçar com o abandono.

(Brazelton, T. B. e Sparrow, J. D. (2008). A criança e a disciplina, 10ª Ed., Queluz de Baixo: Editorial Presença.)

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