Há dias especiais na vida das pessoas como os dias de aniversário e os dias festivos.
Como refere Bettelheim, “Os dias de festa dão forma à nossa maneira de ver a vida tanto positiva como negativamente”.
A reacção de aniversário surge quando recordamos um dia em que ocorreu um acontecimento muito infeliz, como, por exemplo, a perda de alguém muito próximo.
E todos nós temos dias destes.
Estas vivências depressivas tendem a ser mais valorizadas na altura dos aniversários ou em dias festivos como o Natal. No Natal sentem-se com mais força as tragédias resultantes dos acidentes de trânsito, a falta de paz em muitas zonas do globo, a falta de paz nas famílias, a falta dos pais ou a falta dos filhos, real ou simbólica, devido a mortes, separações, ausências e abandonos.
É nestes dias que a força destrutiva das reacções negativas aumenta a importância dos dias de festa.
Por outro lado, “as reacções positivas de aniversário são muito menos espectaculares e portanto menos susceptíveis de ser observadas”.
Nestes dias, as relações interpessoais deviam ser pacíficas e sem conflitos. Mas é, exactamente, nestes dias que os conflitos estão mais presentes aumentado a ansiedade.
Há uma paradoxal melancolia dos dias de festa. O vazio das lembranças: Os avós, os pais ou os filhos desaparecem tornando mais dolorosos estes dias.
O poema de David Mourão Ferreira, "Ladainha dos póstumos natais", retrata bem estes acontecimentos da nossa vida:
Há-de vir um Natal e será o primeiro
Em que se veja à mesa o meu lugar vazio
…
Há-de vir um Natal e será o primeiro
Em que não viva já ninguém meu conhecido
…
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
…
O Natal é a celebração de um nascimento e, portanto, da existência e da presença de alguém.
O que é paradoxal, neste dia, é que se trata de comemorar a presença das ausências. É, então, uma lembrança de não existência e de perda.
As pessoas com dificuldades emocionais revelam mais as suas angústias muitas vezes traduzidas nas frases “detesto o Natal” ou “detesto fazer anos”.
Assim, nestes dias festivos como o Natal, pode acontecer que surjam reacções em que haja mais “ausentes” do que “presentes”.
Então, não devemos celebrar os aniversários, não devemos celebrar os dias festivos ?
A celebração destes dias pode ser uma forma de trazer felicidade a nós próprios e aos que nos rodeiam na medida em que podemos reviver de uma forma feliz um acontecimento infeliz do passado, da nossa infância.
É por isso que devemos arranjar belos dias especiais para os nossos filhos e gozar esses dias da forma mais feliz que pudermos.
Estas datas festivas podem ajudar os filhos a terem uma evolução positiva. Por outro lado, repara experiências negativas da nossa vida. Estes acontecimentos felizes podem ir colmatar até um nível muito profundo experiências muito infelizes do nosso passado.
(Bettelheim, B. (1994). Bons Pais - O sucesso na educação dos filhos, Venda Nova: Bertrand Editora.)
(Bettelheim, B. (1994). Bons Pais - O sucesso na educação dos filhos, Venda Nova: Bertrand Editora.)
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