19/09/10

Entrada na escola – alunos sobredotados

Em relação às crianças sobredotadas põe-se o problema da entrada na escola antes de terem completado a idade prevista para esse efeito. Para elas também se colocam problemas particulares de integração.
A criança sobredotada é aquela que possui aptidões superiores que ultrapassam nitidamente a média das capacidades das crianças da sua idade, apresenta traços de personalidade excepcionais (Ajuriaguerra) e determinadas características do ponto de vista das aprendizagens escolares: ler antes de serem escolarizadas, superiores em matérias abstractas e conteúdo verbal, superioridade no cálculo. Preferem actividades abstractas, amigos mais velhos, etc.

São sobredotados "os alunos cujo potencial intelectual está em nível superior, tanto no raciocínio produtivo como no crítico, de modo que se possa imaginar que serão futuros solucionadores de problemas, os inovadores e os críticos da cultura, se lhes forem proporcionadas experiências educacionais adequadas" (Lucito)
Este raciocínio produtivo pode ser divergente (fluência, flexibilidade, singularidade, elaboração, detalhes) e convergente. É importante que os pais tenham atenção ao desenvolvimento da criança, e observem até que ponto ele é diferente do de outras crianças da sua idade: a escolha dos amigos, os jogos, os interesses, a comunicação, a criatividade (pensamento divergente ).

Estas são algumas ideias gerais sobre o assunto. Na realidade, é necessário saber se estamos ou não perante uma criança sobredotada ou com precocidade excepcional.
Se for esse o caso, a criança poderá e deverá entrar mais cedo na escola ou poderá beneficiar de um processo de aceleração da escolaridade dado que a lei o permite e é benéfico para a criança.
Os pais e encarregados de educação devem informar-se na escola sobre o que fazer nestas situações.
O que deverá acontecer, nestas circunstâncias, é que as crianças sejam avaliadas pelo Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) que normalmente têm um psicólogo com competência técnica e formal para fazer avaliação nesta área.
É aliás a forma de o fazer.
Há um protocolo de avaliação das características consideradas necessárias para se equacionar a entrada precoce na escola ou a aceleração da escolaridade.
Um dos problemas, porém, é que no sistema educativo as coisas não se passam bem assim e estas situações são deixadas mais ou menos ao destino porque o despiste sistemático das crianças com estas características não se faz. Para isso era necessário que houvesse uma verdadeira rede de SPO o que, como sabemos, está longe de acontecer.

As sinalizações pouco têm a ver com sobredotação e estas crianças chegam à consulta por motivos bem diferentes: trazem queixas de problemas de comportamento, de atenção, às vezes de leitura e escrita, de situações de luto, pela dificuldade que os pais na sua educação, pelas perguntas fora do vulgar que fazem num contexto de adultos… e que são “apanhadas”, por acaso, no âmbito de uma avaliação psicológica.

Surgem também falsas sinalizações. Principalmente quando as crianças nascem nos primeiros dias do mês de Janeiro e não podem iniciar a escolaridade por não terem completado seis anos de idade no ano anterior. Obviamente que por muito que isso custe aos pais, não poderá ser alterada essa situação quando a avaliação não satisfaz os critérios estabelecidos.

Há por vezes professores atentos que descobrem algum sinal especial na criança: na visita ao museu é o aluno que faz as perguntas mais interessantes, tem particular interesse pela leitura, fica à noite muito tempo a ler a ponto de os pais terem que se zangar, interessa-se por questões científicas, etc.
Nesse caso convém informar o SPO de forma a poder avaliar essas características e, nesse caso, poder ser feito um programa de intervenção, se for caso disso, ou, pelo menos, haver uma mudança na atitude dos professores relativamente à compreensão do aluno.

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