Leio em DaNação (22-8-2010), de Luís Costa:
"Encerrar uma escola numa cidade — ou até numa aldeia que tem outros aglomerados populacionais muito próximos e com bons acessos — não é a mesma coisa que fechar uma escola numa aldeia situada nas montanhas, longe das estradas nacionais, longe da sede do concelho ou de outra localidade onde se constrói um centro escolar. No primeiro caso, será apenas uma questão de distância, uma diferença de minutos no percurso quotidiano das crianças, que não tem repercussões individuais nem sociais significativas. Neste contexto sim, valerá a pena andar mais um ou dois quilómetros para ter uma escola com melhores equipamentos. No segundo caso, tudo muda de figura. As distâncias são, na perspectiva da criança, esmagadoras: há o frio; há a neve; há o tempo de levantar e de sair de casa com o cantar do galo; há um local estranho cheio de estranhos, longe do regaço materno; há o tempo de chegar a casa com a aldeia já mergulhada nos mantos nocturnos; há uma violenta fissura rasgada na infância. Neste caso, a criança é literalmente arrancada como uma raiz e transplantada a seco. Neste caso, as repercussões do encerramento da escola — quer a nível individual quer a nível social — são arrasadoras. Neste caso, encerrar a escola é, a prazo, encerrar a aldeia, como quem corta um olmo com séculos de existência apenas para ganhar um lugar de estacionamento. Encerrar uma escola numa aldeia destas é um execrável acto político, uma aberração pedagógica e um crime social."
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