22/11/23

Além do Princípio de Mateus


No domingo passado (19-11-2023), o Evangelho falava da conhecida parábola dos talentos. (Mateus 25:14-30)

Jesus diz-nos que o reino dos céus é semelhante  a um homem que, ao sair de viagem, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens.  A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um; a cada um de acordo com a sua capacidade. Em seguida partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos, aplicou-os, e ganhou mais cinco. Também o que tinha dois talentos ganhou mais dois. Mas o que tinha recebido um talento cavou um buraco no chão e escondeu-o aí.

Quando foi necessário prestar contas, o que tinha recebido cinco talentos trouxe outros cinco,  o que recebeu dois ganhou mais dois.

O que tinha recebido um talento apresentou apenas o que tinha  porque teve medo e escondeu o seu talento no chão.

O senhor elogiou os outros servos e a este, negligente, criticou-o e mandou dar aquele talento ao que já tinha dez, dizendo: “Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado”. 

 

As palavras desta parábola são duras e sem tolerância para o que tinha menos talentos. Este parágrafo também é conhecido como Princípio de Mateus. 

Os talentos, ou se quisermos as capacidades ou aptidões, as virtudes e as  forças são qualidades físicas e mentais, diferentes, que nós temos. 

Uma questão importante é, então,  sabermos  os  talentos que temos e o que vamos fazer com eles.


Sabemos que vivemos num mundo assim, com esta realidade: há uma “distribuição desnivelada” dos talentos, na área financeira ou em qualquer outra área. *

Em 12 Regras Para a Vida - Um Antídoto Para o Caos, Jordan Peterson refere que tanto no mundo animal (no mundo das lagostas, por ex.),  como nas sociedades humanas, o vencedor leva tudo, em que aquele 1% do topo tem tanto dinheiro quanto os 50% da base, e em que as 85 pessoas mais ricas têm tanto dinheiro quanto as outras 3,5 mil milhões juntas. (p. 29)

Esse mesmo princípio brutal de distribuição desnivelada aplica-se em qualquer contexto em que exista produção criativa. 

A maioria dos artigos científicos é escrita por um grupo pequeno de cientistas. Uma pequena proporção de músicos produz quase todas as músicas comerciais gravadas. Um número pequeno de autores vende todos os livros...

Nas relações amorosas é bem conhecida a canção dos ABBA, The winner takes it all. (O vencedor leva tudo).

 

Então o que nos resta é enterrar os nossos poucos talentos, uma vez que (pensamos nós) não somos assim tão talentosos?

Pelo contrário. Compete a cada um fazer render os seus talentos, trabalhando tanto quanto permitam as suas capacidades e aptidões, para que eles se possam traduzir em algo de positivo.

Para isso, é necessário haver vontade para mudar. Mudar a nossa postura corporal, levantarmo-nos e erguermos as costas... Estas são atitudes que aumentam a serotonina e então “podemos aguentar as dificuldades de pé, mesmo durante a doença da pessoa amada, mesmo durante a morte dos pais, e permitir a outros que encontrem força a nosso lado, quando de outra forma seriam tomados pelo desespero. Fortalecidos desta maneira, embarcaremos na viagem das nossas vidas... (p. 54)

 

 

Até para a semana.

 

 

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* Este princípio é também conhecido como a Lei de Price, em homenagem a Derek J. de Solla Price, o pesquisador que descobriu a sua aplicação à ciência, em 1963. O princípio pode ser executado se fizermos um gráfico em forma de L, com o número de pessoas no eixo vertical, e a produtividade e os recursos no eixo horizontal. O princípio básico fora descoberto muito antes. Vilfredo Pareto (1848-1923), um polímata italiano, notou a sua aplicabilidade à distribuição da riqueza no início do século XX, e o princípio parece  ser verdadeiro para cada sociedade já estudada, independentemente das formas de governo de cada uma. (J. P. idem, p. 29-30)

 




Rádio Castelo Branco





 

15/11/23

Lideranças


Não me admira, e creio que não surpreende ninguém, que tenhamos chegado aqui. Os fundamentos não eram fiáveis. Este ciclo de poder foi constituído com base no poder pelo poder. A "geringonça" foi constituída por forças tão diferentes politicamente em que interessou apenas o poder. Porém, há princípios que se devem sobrepor na política, como a liberdade, a democracia, a democracia parlamentar, os direitos humanos, o relevo do social e do indivíduo.

Não ter isto em conta não é derrubar um muro, como foi dito pelo primeiro ministro demissionário, mas um limite, que  ultrapassado, nos leva para a incoerência ideológica e para uma prática  de interesses.

Por isso, esperava-se o fim deste ciclo mais cedo ou mais tarde, mas não que este desmoronamento político e moral dos líderes pudesse ter lugar numa sociedade livre e democrática.


As pessoas que formam um governo deviam passar por uma selecção mais profunda.

"O "revolucionário de profissão", o "agitador de ofício", o “politicante” deveriam ser figuras pertencentes a um passado de pesadelo e não à triste realidade de ontem, de hoje e de amanhã"… "O político do futuro devia ser, de modo particular, homem entre os homens: inspirar confiança e saber aquilo que dele se pretende, não em atenção a um credo político e oportunismos de momento mas de acordo com uma linha de conduta moral que é bem mais antiga que todas as chamadas conquistas da civilização moderna." (Andrea Devoto, A tirania psicológica, p. 410-411)

 

A tónica posta no indivíduo é fundamental porque mesmo que haja instituições democráticas, elas não fazem automaticamente um líder capaz. Como a inversa também pode acontecer.

O perfil de alguns políticos já fazia adivinhar esta instabilidade. Veja-se a insegurança com que as pessoas vivem pelo facto de não terem possibilidades de arrendar uma casa ou de pagar a prestação da respectiva habitação, veja-se insegurança na saúde com um SNS desorganizado, veja-se a escola que não há maneira de os alunos terem todas as aulas e os pais terem descanso...

Em qualquer outra chefia, exige-se um conjunto de características que na minha perspectiva deviam ser exigidas aos governantes mas na realidade parece que são dispensadas.

Há pelo menos sete aptidões psicológicas (Josef E. Klausnitzer, Como avaliar as suas qualidades de chefia,p. 222) da qualidade de chefia :

- energia física ou vitalidade, motivação de produtividade, energia psíquica ou poder de concentração,

- inteligência  e inteligencia emocional,

- capacidade de apreciação,

- capacidade de decisão,

- integridade pessoal,

- apresentação,

- poder de adaptação.

É ainda importante  a motivação ou tendência a chefiar...

"No mundo dos dirigentes verifica-se de vez em quando uma mescla de integridade e intrigas, honestidade e falta de escrúpulos, equilíbrio psíquico e ambição desmedida... Uma mera capacidade técnica, o estar na frente, o rótulo de superioridade colocado ante o nariz dos subordinadas: nada disto é chefia.” (Josef E. Klausnitzer, Idem, p. 222)


Este é todo um programa que não se aprende nas juventudes partidárias mas com trabalho e esforço na escola, onde se deve aprender política e psicologia política (Devoto, idem, p. 411), no emprego, no meio do povo.

 



Até para a semana 

 



 

Rádio Castelo Branco



08/11/23

O que é uma mulher




1. O jornalista Matt Walsh entrevistou pessoas por todo o mundo, para saber o que é uma mulher e o resultado pode ser visto no Youtube, no Documentário crítico sobre o género. O que é ser uma mulher? 

A entrevista também conta com  a opinião de Miriam Grossman, psiquiatra, e Jordan Peterson, psicólogo, que se atêm à realidade e desmontam opiniões e práticas discutíveis... 

Há quem ache que uma mulher é quem se identifica com uma mulher mas não sabe o que é essa pessoa com quem se identifica.

Matt Walsh vai para casa conforme J. Peterson lhe recomenda e pergunta à sua mulher: o que é uma mulher? A resposta: É um humano adulto fêmea.


2. Nunca me interessou o concurso das misses não era agora que isso me ia interessar. Mas não deixa de ser curioso ser  um dos temas de momento.

Miguel Sousa Tavares com José Alberto Carvalho estão a ser trucidados nas redes sociais sobre a posição que tomaram no comentário semanal.

Também  Joana Amaral Dias foi chamada de transfóbica  e até se põe em dúvida a sua formação académica ... 

O que é que está errado no que disse JAD? O que é uma mulher ? O concurso das misses é a  eleição de uma mulher? Ou de alguém que se identifica com uma mulher? Ou as duas coisas? Então digam à gente que é assim.


3. Aprendi na universidade que o ser humano era bio- psico-social, e, fora da universidade, que também era cultural e espiritual. É isto que nos faz como somos, ou dito de outro modo, são os genes e os memes. J. L. Pio Abreu explica isso em quem nos faz como somos

Estes são os factores que moldam a nossa personalidade. Para compreendermos uma pessoa temos que levar em conta todos eles. O que não é fácil.

Negar a biologia não me parece que tenha sentido se nos colocarmos numa posição racional. Cada um pode pensar que é aquilo que entende. Não será por isso que a realidade deixa de ser o que é, nem a genética se altera por grande que seja a minha vontade de ser outra coisa mesmo que seja outra coisa socialmente aceite

O que não é aceitável é que haja vantagens ou desvantagens, visíveis ou invisíveis, à partida,  de alguém, seja em que situação for, para quem disputa um concurso ou um lugar ou um emprego.


4. Leio A Religião Woke, de Jean-François Braunstein, e fico estarrecido. Se o problema teve origem nas universidades ele hoje está por todo o lado. E  isso diz respeito a cada um de nós. Temos o direito de não concordarmos com o wokismo e o dever de dizer não. Nas famílias e nas escolas.


5. O senhor ministro da educação acha que as crianças não são propriedade dos pais e que o estado lhes dá a educação que entender. Está enganado.

Há muito que aprendi com Khalil Gibran que os “Teus filhos não são teus filhos”. Mas se não são propriedade dos pais muito menos  são propriedade do estado. 

E o que também sei é que os filhos são da responsabilidade dos pais, pelo menos até aos 18 anos. E essa capacidade e responsabilidade o sr. ministro da educação não lhes pode tirar.

 

Até para a semana.

 



Rádio Castelo Branco






30/10/23

Pela Paz



Daniel Barenboim,  Beethoven - Sonata No. 8 Op. 13 (Patética) 
I. Grave -- Allegro di molto e con brio 0:19
II. Adagio cantabile 9:46
III. Rondo: Allegro 15:11

24/10/23

Bésame mucho


É o título de um livro do pediatra Carlos Gonzalez sobre a criação dos filhos com amor. 
Há muitas ideias feitas e preconceitos sobre as crianças e sobre a educação das crianças e mesmo teorias de educação e aprendizagem, simplesmente dependentes da vontade dos adultos, sem qualquer fundamento que nos permita chegar a compreender o que se passa com alguns comportamentos das crianças. Podem ser mesmo perniciosas para o seu desenvolvimento.

Começa por questionar se há crianças boas e crianças más. Muitas vezes respondemos quase automaticamente aos comportamentos desajustados das crianças com “és mau” ou fazemos comparações: “Vês, o teu irmão porta-se tão bem e tu és mau". Para muitos pais e educadores as crianças devem ser disciplinadas pelo facto de serem crianças. Já em relação aos adultos não dizemos nem fazemos o mesmo. 
É isso que CG evidencia neste livro: o desenvolvimento faz-se naturalmente e as crianças precisam de fazer as aprendizagens daquilo que lhes está a acontecer pela primeira vez: aprender a andar, aprender a falar, aprender a dormir sozinhas, aprender a comer, a controlar os esfíncteres, a estar atentas...
Claro que há aprendizagens que podem ser feitas de muitas maneiras mas nem todas respeitam a criança. (Capítulo 3 – Teorias que não defendo). Continua a haver quem ache que a disciplina se aprende com métodos aversivos e punitivos, com correctivos, com mergulhá-las em água fria, para acabar com as birras, deixá-las chorar até se calarem, sem proximidade, sem contacto, sem colo... *
Estas atitudes e comportamentos dos educadores são reforçados pelas crenças: "de pequenino se torce o pepino", "quem dá o pão dá a educação", a palmada pedagógica...
Diz CG: "A nossa sociedade não trata as crianças com o mesmo respeito com que trata os adultos. Quando falamos de um adulto, as considerações éticas têm sempre uma importância primordial, tendo prioridade sobre a eficácia ou a utilidade.” (p. 25)
É, por isso, que os castigos e as punições, inclusive as físicas, como bater numa criança, são ainda tolerados e justificados com explicações de que “até é para bem da criança”.
Claro que se aprende pelo castigo e pela punição, apenas porque a criança é pequena e o adulto tem fisicamente poder sobre a criança, e também se aprende o medo dos pais, a revolta, a injustiça, o ódio.
Questões como dormir na cama dos pais, dar colo quando chora, ou quando nos pede, ou quando faz uma birra...** pode ser que não nos ocorra a linguagem do afecto e em vez disso surja o castigo ou a punição física como imediata resposta a aplicar.

Para CG “educar mal" significa “criar mal"; isto é, com pouco carinho, poucos abraços, pouco respeito, poucos mimos. É impossível educar mal uma criança por lhe dar muita atenção, muito colo, consolá-la muito quando chora ou brincar muito com ela.” (p. 66-67)
Os pais sabem, talvez melhor do que ninguém, como educar os seus filhos. Também sabem que surgem dificuldades ao longo do desenvolvimento e, por isso, se o solicitarem, devem ser ajudados. 
E não nos podemos esquecer de que “os dias mais felizes da nossa infância são aqueles em que os nossos pais (ou os nossos avós, irmãos ou amigos) nos fizeram felizes." (p. 243)


Até para a semana.

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"Todos os castigos são inúteis", diz o pediatra do contra, Carlos Gonzalez 

19/10/23

A culpada mais desejada


 

Será impossível num mundo de culturas diferentes chegar a entendimentos comuns, de forma a podermos viver e conviver, mesmo que com conflitos, sem necessidade de usar armas para nos aniquilarmos mutuamente ?
O choque de culturas "nem sempre conduz a lutas sangrentas e a guerras devastadoras, constitui também uma oportunidade para um desenvolvimento fecundo e prometedor” (p.110). Quem nos fala assim é Karl Popper (Em busca de um mundo melhor). E continua: “Creio que a nossa civilização ocidental, apesar de tudo o que, com razão se lhe possa censurar, é a mais livre, a mais justa, a mais humana, a melhor de que temos conhecimento na história da humanidade. É a melhor porque a mais predisposta ao aperfeiçoamento."(idem)
Esta predisposição acontece um pouco por todo o mundo: “Por toda a parte na terra, os homens têm criado novos universos culturais, nas artes na economia... os universos da moral, do direito, da protecção e do auxílio às crianças, aos doentes, aos incapacitados e outros necessitados." (idem)

Mas também sabemos que a liberdade, valor fundamental social e individual, tem de ser limitada pela  ordem.  E o mesmo se passa com todos ou quase todos os valores que desejaríamos ver implementados... 

Como a paz que é mais urgente do que nunca. No entanto, não se trata de uma paz passiva tem que ser uma paz de luta, como no caso de Mahatma Gandhi, lutador da não violência.

Freud escreveu Considerações sobre a guerra e sobre a morte (1915). Na primeira parte reflecte sobre a desilusão da guerra, no caso, uma desilusão sobre a primeira Guerra Mundial.
Escreve Amaral Dias: “De acordo com Freud se houvesse uma guerra esta seria ou deveria ser uma guerra civilizada, ou seja, uma guerra em que, como ele refere, se teria cuidado com as mulheres e as crianças e ambas as partes envolvidas na guerra dariam imunidade aos feridos que deveriam ser retirados da contenda, bem como ambas dariam uma particular atenção aos médicos e aos enfermeiros.” (p.138)

O que Freud idealizou foi o modelo de sociedade  civilizada...

Para Freud “a guerra traz aos homens civilizados uma desilusão que por sua vez nos introduz numa dupla questão: o Estado que deveria de ser o guardião dos padrões morais, revela a sua baixa moralidade e os indivíduos civilizados demonstram a sua brutalidade.” (p.139)

E aqui chegados vemos o que falta fazer para que as relações entre culturas passem da hipocrisia.


Apesar de todas as críticas que são feitas à Europa civilizada, muitas que,  certamente, têm razão de ser, porque será demandada por milhares de pessoas que sofrendo as vicissitudes que conhecemos, enfrentando o desconhecido, estão dispostas a todos os riscos ? 

Certamente porque podem usufruir desses valores que nos são comuns que foram construídos ao logo de muitos séculos.

A desilusão de que fala Freud vem de quando não se entendem os valores da liberdade e da paz que passam pelo conflito de ideias, de palavras e de argumentos, das lutas que valem a pena, e nunca da guerra.

 


Até para a semana.




Rádio Castelo Branco






15/10/23

Ser Pai - um testemunho

  

"Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai”. (Freud)

A frase atribuída a Freud, ganha ainda maior relevo na medida em que também para Freud "a criança é  o pai do homem".


As relações entre  pai e filho  com todas as emoções que foram construídas ao longo dos anos, principalmente emoções positivas, são de grande riqueza e complexidade para o desenvolvimento saudável, para o equilíbrio mental e auto-estima de que necessitamos para viver. É, por isso, que ser pai é muito mais que ser progenitor. É este vínculo que se estabelece para sempre.

 

Nos tempos actuais, é notória a falta de respeito de alguns filhos para com os pais, quando  os mais velhos são atirados para fora da família e de sua própria  casa, quando são privados até do bem-estar que conseguiram construir ao longo de muitos anos. 

Podemos falar muito de como deve ser o relacionamento entre pai e filhos, sobre a parentalidade, sobre a educação... No fim, é determinante o exemplo dos pais. A modelagem funciona e através dela são aprendidos os valores evidenciados e praticados pelos pais. 

A melhor forma de sabermos como os pais educaram está no testemunho dos filhos. Sem dúvida que o orgulho dos filhos mostra bem como a educação que receberam dos pais, mesmo que não seja completamente perfeita nem de acordo com todos os critérios dos educadores encartados, é de  resultado eficaz.


É um achado encontrar nas redes sociais alguma novidade que nos faça pensar duas vezes, emocionar genuinamente e estar solidário com as pessoas que a escrevem. Mas acontece. Fui surpreendido com uma descrição que os filhos fazem do seu pai que preenche estes requisitos.

Permitam-me que partilhe este texto que tirei do Facebook do João Gonçalves. Não pude deixar de me sensibilizar pela forma como os filhos se referem ao seu pai. Há esperança, afinal, e nem tudo se perdeu na voragem da egoísmo reinante.

 

Não sabemos exatamente por onde começar.

Descrever o nosso pai é um pouco difícil nestas horas e acima de tudo, pelo seu caráter complexo, levaria muito tempo a escrever. 

O nosso pai foi um bom cristão, um grande jurista, um homem corajoso, íntegro, fiel aos seus valores, inteligentíssimo, cultíssimo, com bom gosto, com jeito para fotografia, com algum jeito para a pintura, muito jeito para escrever mas acima de tudo foi um grande PAI que nos amava muito!

É indescritível o amor do meu pai por nós. Só descrevendo os sacrifícios inimagináveis realizados tanto por ele e pela minha mãe, para que nós pudéssemos ter um futuro digno (e conseguiram!), é que se poderia compreender. 

O nosso pai foi, é e sempre será o nosso anjo da guarda! 

É com muito orgulho e honra que nós (João Oliveira, Pedro Oliveira e Maria Oliveira) dizemos que somos filho/a do António Augusto Alves de Oliveira! 

Obrigado Pai por todos os esforços e pelos sacrifícios incalculáveis ! 

A tua memória e a tua honra serão para sempre salvaguardadas por nós os 3 (+ mãe) até à morte. 

Até sempre Pai. Raul Xaves

Ps: o meu pai tinha o hábito de jogar o Euromilhões todas as terças e sextas, para ver se nos saía um milagre… 

Ao falar com o meu irmão hoje eu disse-lhe:

-Tivemos muita sorte em tê-lo como pai. 

Respondeu-me ele : eu sei, foi o nosso euromilhoes, e ele jogava essa merda todas as semanas e nós já o tínhamos…”

 

 


12/10/23

Para um pouco de paz...



Voltamos a fazer a pergunta: "Porquê a guerra?", que qualquer ser humano poderá fazer perante a tragédia das guerras que estamos a viver, mesmo de longe, e que nos vão deixando mais frágeis na nossa saúde psicológica e bem-estar.

Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP)*: A guerra afecta-nos a todos directa ou indirectamente. O horror da violência, do desrespeito pela dignidade e pelos direitos humanos, tem um impacto destruidor em muitas vidas e comunidades, gera sofrimento nas pessoas e nas famílias...
Todos reagimos de forma diferente a estes acontecimentos perturbadores e cada um de nós tem capacidades e formas diferentes de lidar com emoções e sentimentos desagradáveis. 
Algumas pessoas conseguirão mais rapidamente sentir maior controlo das suas emoções, outras demorarão mais tempo. Algumas pessoas conseguirão fazê-lo sozinhas, outras precisarão de ajuda. 

Ambas as reacções são respostas comuns à situação de crise que vivemos:
- É natural que nos sintamos “em choque”, que tenhamos uma sensação de “descrença” face ao que está a acontecer. Podemos ficar apáticos e “emocionalmente entorpecidos” com esta situação. 
- É natural que nos sintamos preocupados, ansiosos, stressados, assustados, angustiados, tristes, com medo. E também irritados, zangados, impotentes. Também podemos sentir dificuldade em concentrarmo-nos, em tomar decisões ou em dormir. 
- É natural que tenhamos receios e dúvidas acerca do futuro (Quanto tempo vai durar a Guerra? O que vai acontecer? Que consequências terá?). 

Apesar destas reacções e dificuldades que podemos sentir, 
- Também podemos adaptar-nos, podemos contribuir com aquilo que está ao nosso alcance: 
- Podemos aceitar as nossas emoções e sentimentos. É totalmente natural sentirmos muitas emoções e sentimentos diferentes. É perfeitamente razoável chorar, se sentirmos vontade de o fazer 
- Podemos utilizar estratégias de gestão da ansiedade e do stresse. 
- Limitar a nossa exposição a notícias. Não passar o dia a ver e ouvir as notícias e os telejornais...
- Consultar fontes credíveis de informação e combater a desinformação. Demasiada informação não é sinónimo de informação útil ou até, por vezes, factual e verdadeira. É importante consultar apenas fontes de informação credíveis e actualizadas e não ler apenas títulos ou rodapés...
- Evitar estereótipos. Ser ofensivo ou emitir juízos de valor sobre pessoas, comunidades são uma forma de aumentar a violência e favorecer a discriminação e a exclusão social. 
- Evitar pensamentos “catastróficos”. É preferível viver no presente, um dia de cada vez. Procurarmos ser flexíveis e criativos, adaptando-nos, às mudanças e desafios que esta situação de incerteza nos coloca. 
- Falar com familiares e amigos e reforçar as nossas relações. 
- Continuar a desenvolver a nossa vida como habitualmente.
- Desenvolver a nossa resiliência. 
- Manter as rotinas.
- Realizar actividades de lazer. 
- Investir no autocuidado. 
- Alimentar a esperança. 
- Apoiar e contribuir para ajudar quem está a sofrer mais com esta situação.
- Procurar ajuda médica ou psicológica, se necessário.

E, finalmente, podemos ter algum cuidado com as crianças explicando o que está a acontecer de forma que entendam a desgraça da guerra mas sem criar situações de ansiedade.


Até para a semana, com muita paz.

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Rádio Castelo Branco





01/10/23

Dia Mundial da Música

Khatia Buniatishvili - Erik Satie: Gymnopédie No.1


A data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, que agrega vários organismos e individualidades do mundo da música.

27/09/23

Memória e internet - o "efeito google" *


A nossa memória é fascinante. Ela acompanha-nos desde sempre. É a memoria filogenética. Vem com os nossos genes e vai sendo acrescentada e modificada pelas experiências da nossa vida, pelos estímulos ambientais, o meio físico e social, a cultura, a educação. Temos memórias únicas e pessoais que podemos recuperar sempre que quisermos, desde que não tenham sofrido alterações e perturbações. Mas esta memória está sendo confrontada (e ameaçada ?) com outra memória: a internet, o google, a inteligência artificial (IA)... Até que ponto a internet está a mudar os nossos cérebros, os processos mentais e, em particular, a nossa memória? Que efeitos poderá ter o google na nossa memória e suas consequências nos processos cognitivos? Até que ponto podemos beneficiar ou não com os assistentes digitais de memória? Será que eles mudam a nossa forma de memorizar?

Qualquer pessoa pode pesquisar um assunto, utilizando o google, pela extrema facilidade com que se obtêm respostas, mesmo que manhosas ou até erróneas. Esta facilidade tem uma vantagem: poupa-nos o esforço de aprender e recordar mas também tem um problema: a informação não é registada na nossa memória pessoal biológica e neuronal mas antes na memória externa digital e artificial.
“A navegação na internet implica uma atividade multitarefa intensiva pelo que a rede pressupõe um sistema de interrupção da atenção sustida e focalizada. Estamos constantemente a mudar de objetivos com a atenção dividida e a controlar a interferência de estímulos.” (Emilio García García (2022), Memória - Recordar e esquecer, Biblioteca de Psicologia, p. 129)
Todos temos esta experiência: começamos a navegar e depressa deixamos os objetivos iniciais da nossa pesquisa para irmos atrás das ligações que são propostas pela internet, das sugestões que vão aparecendo no ecrã, das informações mais recentes que desfocalizam a nossa atenção e acabamos pesquisando assuntos pouco ou nada relacionados com aquilo que nos interessava e acaba numa perda de tempo,...

O cérebro digital de um computador é muito diferente do cérebro vivo de uma pessoa, assim como a memória externa e artificial é muito diferente da memória pessoal biológica. “O cérebro humano está constantemente a elaborar informação reconstruindo as memórias. Quando trazemos à memória de trabalho uma memória guardada a longo prazo, estabelecem-se novas ligações num contexto de experiência distinto e sempre novo. O cérebro que recorda já não é o mesmo que elaborou as memórias.” (p. 128)

O "efeito Google" ou "amnésia digital", é então um comportamento cada vez mais comum: o de confiar o armazenamento de dados importantes aos nossos dispositivos e à internet no lugar de guardá-los na cabeça.
O problema pode ser mais grave do que se imagina: além de recorrer à internet para guardar informações, muitas pessoas têm a impressão de que os dados online fazem parte de sua própria memória.

O mundo actual condiciona-nos a consumir uma enorme quantidade de informações, e a memória biológica não consegue lembrar-se de tudo. 
Portanto, usar essas ferramentas como um complemento pode ser de grande utilidade, mas deve ser feito com muita responsabilidade.
Ainda não podemos tirar conclusões sobre se o "efeito google" muda o nosso cérebro, como acontece com a leitura, por exemplo, mas o tempo dirá como foi esta mudança. (p. 130)



Até para a semana.

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* Hoje comemora-se o 25º aniversário do Google (1998-2023).



Rádio Castelo Branco