10/11/21

Não há emergência climática


1. Uma terrível ditadura tomou conta do pensamento transformando-nos em autómatos silenciosos ou afirmacionistas ruidosos da extinção do mundo como o conhecemos.
A pressão dos media, das redes sociais, da rua ou do grupo de amigos não permite outra veleidade que não seja pensar da mesma maneira. A opinião pública e a publicada convergiram no mesmo sentido: "Há uma emergência climática. O homem está a destruir o planeta".
Vivemos dias sombrios em relação ao espírito crítico, à testabilidade e refutabilidade, em relação a outros modos de pensar, à leitura dos dados, para podermos pensar o futuro do planeta onde todos responsavelmente querem viver num mundo saudável. 
O que me continua a espantar é a facilidade da manipulação dos espíritos, a facilidade com que se criam estes movimentos que controlam os media, as universidades... e que tentam impor o pensamento único através do cancelamento, das ameaças e das interferências nas carreiras de académicos que não são da linha das alterações climáticas antropogénicas, defendidas pelas instituições, como a ONU/IPCC, media...
Esta nova forma de censura, o cancelamento, tem hoje mais poder do que qualquer censura local alguma vez teve no mundo: A mundialização do cancelamento nem sequer necessita de uma ditadura governamental para dizer quem fala e quem fica calado.

2. Tentei partilhar um texto chamado “não há emergência climática" ("There is no climate emergency") no Facebook mas o FB não deixou que fosse partilhado sem censura prévia. 




O texto do site CLINTEL diz simplesmente: “Uma rede global de 900 cientistas e profissionais preparou esta mensagem urgente. A ciência do clima deve ser menos política, enquanto as políticas do clima devem ser mais científicas. Os cientistas devem abordar abertamente as incertezas e exageros em suas previsões do aquecimento global, enquanto os políticos devem contar desapaixonadamente os custos reais, bem como os benefícios imaginários de suas medidas políticas."

(5-2-2022. Reparei que a imagem que aqui estava foi substituída por esta treta, como no site CLINTEL donde tinha sido partilhada. Chama-se isto censura?)



Aqui estão os pontos específicos sobre as mudanças climáticas destacados na carta: 
1. Fatores naturais e antropogénicos causam aquecimento. 
O arquivo geológico revela que o clima da Terra variou desde que o planeta existe, com fases naturais de frio e calor. A Pequena Idade do Gelo terminou recentemente em 1850. Portanto, não é surpresa que agora estejamos passando por um período de aquecimento.

2. O aquecimento é muito mais lento do que o previsto. 

3. A política climática depende de modelos inadequados. 

4. O CO2 não é um poluente. É um alimento vegetal essencial para toda a vida na Terra. A fotossíntese é uma bênção. Mais CO2 é benéfico para a natureza, tornando a Terra mais verde: CO2 adicional no ar promoveu o crescimento da biomassa vegetal global. Também é bom para a agricultura, aumentando o rendimento das safras em todo o mundo. 

5. O aquecimento global não aumentou os desastres naturais. 

6. A política climática deve respeitar as realidades científicas e económicas. 

7. Não há emergência climática. Portanto, não há motivo para pânico."

Talvez só por isso, estes críticos do pensamento único mereçam ser ouvidos e analisados. Porque não há emergência climática. 



Até para a semana.







08/11/21

"Não posso adiar o amor"

Não posso adiar o amor 
Coro de Câmara do Conservatório de Música de Cascais
Direcção - Rui Teixeira
Música - Miguel Jesus; Poema - António Ramos Rosa
Gravação realizada na Igreja da Conceição Velha
20/Junho/2021


Não posso adiar o amor


Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

 

António Ramos Rosa,  Viagem Através de uma Nebulosa 



 

05/11/21

Provedores, observadores ... e outros tutores




Há provedores para tudo. O que se pode fazer para não ter um provedor se não se estiver interessado em ter provedor, por exemplo, do leitor, da RTP, da RDP ? Provavelmente nada. Excepto uma coisa: não os ler ou não os ouvir.
proliferação de provedores sectoriais é um problema que não é novo. 
Depois há os observatórios. Para tudo e todos os gostos. A quantidade de observatórios portugueses !
Há-de chegar o tempo em que cada português vai ter um observatório !
Como não chegam os observatórios há também as  fundações. O observatório observa a fundação ou a fundação fundamenta o observatório ?


Como bem lembra António Barreto, temos também os Estrategas (Grande Angular - Estratégias, 23 de Outubro de 2021).
"Já houve outras modas. Foram os Planos, Nacionais ou Integrados. Sem falar nos de Fomento, invenção portuguesa para fugir à má fama dos planos soviéticos. Os planos mantiveram-se ao longo do tempo, mas hoje estão em perda de importância. Vieram depois os Programas e os Projectos. E finalmente os Observatórios. Criaram-se para tudo, desigualdades, violência, crime, droga, justiça, família, cultura… Há cerca de uma década, contavam-se 85 Observatórios (nacionais, regionais, municipais e sectoriais), geralmente recheados de amigos. Os resultados desta incansável actividade são por vezes interessantes, mas em maioria são medíocres. Os Observatórios dedicam-se à propaganda, mais do que à observação."

"Agora, são as Estratégias! A complexidade da vida social, a preocupação em dar a entender que as autoridades têm ideias e a obsessão com a aparência fizeram com que os governos desenvolvessem esta lucrativa actividade: a da elaboração de estratégias. Estas têm todas as vantagens. Parecem inteligentes e competentes. Recorrem a numerosas contribuições disciplinares. Prometem mundos sem responsabilidades práticas. Conseguem calar as reclamações. Sugerem que o destino está sob controlo. Ocupam muita gente a elaborar, escrever e reunir. Permitem a contratação de amigos, familiares, agências de comunicação e empresas de consultoria. Assim é que, para quase todos os problemas nacionais, há estratégias. Pode mesmo dizer-se que a grande estratégia consiste em… elaborar estratégias!"

Segue-se uma lista de várias dezenas de estratégias... com destaque para esta:
A Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação – Portugal + Igual” (ENIND) .




03/11/21

Os nossos Santos

"Todos os Santos" - 1911 - Wassily Kandinsky (1866-1944)



 

1. Em 31 de Outubro comemora-se o Halloween ou dia das bruxas que é também conhecido por “véspera do dia de todos os santos”, como a origem da palavra - All Hallows Eve” - dá a entender.

Há várias histórias sobre esta celebração. Uma delas conta-nos que a origem é  uma festa celta (Samhain) que tinha lugar quando chegava o inverno, com o frio e com a natureza adormecida, depois do tempo de fertilidade  do Verão, e havia que manter a esperança na renovação. Era uma festa com muita comida e diversão. Nesta festa os celtas recordavam os antepassados... e acendiam o “primeiro fogo”, que celebrava a vida. (A história do Dia de Todos os Santos. Que quase morreu com o Halloween)

 

2. Como na tradição celta, os católicos acreditam que "a vida não acaba apenas se transforma.” 
É muito bonita a descrição que o Padre Feytor Pinto, recentemente falecido, nos dá da celebração deste tempo mágico e dos mistérios que envolve.
“A magia de Novembro. Todos os anos o outono invade as nossas vidas, com a nostalgia que o caracteriza, com o silencio dos fins de tarde, como um “mistério” que torna diferente de todas as outras estações do ano, o outono é transição, é passagem de um estilo de vida para outro estilo que obriga até a abrir as gavetas e a substituir o vestuário e os acessórios.”
“Sinais de outono... O cair da folha... ; as manhãs tornam-se frias... ; o sol empalidece... ; a noite chega mais cedo... ; Mas também há pessoas que nos deixam: o mês de Novembro traz consigo a partida de muitos amigos cuja idade não aceitou o solavanco do tempo, ou cuja doença precipitou o fim.
São as luzes e sombras do Novembro de sempre...”
Este tempo é “um cruzamento de mistérios...
O mistério da morte...
O mistério do além na eternidade...
O mistério da saudade...
O mistério das recordações. Quando se evoca as pessoas que partiram, partilha-se inúmeras palavras, gestos, acontecimentos, reveladores de que elas ficam bem vivas no coração de quantos são ainda peregrinos;
O mistério dos símbolos. É na linguagem simbólica que a relação se estabelece mais profundamente; as lágrimas exprimem sentimentos, as flores falam da vida e da beleza; os círios transmitem luz; sentimentos, beleza e luz revelam a relação que afirma a vida de quantos partiram ao encontro de Deus.
Tantos mistérios, mas uma única certeza: os que morreram continuam vivos no coração dos seres humanos e a ressurreição de Cristo é a garantia desta vida para sempre.”
Quem são então os santos ? 
“ São santos os que nos precederam na fé e de quem devemos aceitar o testemunho;
São santos os nossos protectores e que por nós foram escolhidos por terem o nosso nome ou por nos tocar mais o seu carisma;
São santos os nossos familiares...
E até cada um de nós deve ser santo..."

3. Infelizmente, há uma grande distância entre a espiritualidade que marca este tempo e as mais recentes formas de comemorar o Halloween, principalmente a partir dos anos 50 (2), em que a história foi virada do avesso... (3)


Até para a semana.


_______________________

 

(1) Vítor Feytor Pinto, 100 entradas para um mundo melhor, Capítulo “Morte - A vida não acaba, apenas se transforma”, Lucerna, pg 148 -151

 

 

(3) Nos Estados unidos, nesta noite, as crianças mascaram-se de criaturas assustadoras – como bruxas, fantasmas ou zombies, por exemplo – e também elas tocam à campainha dos vizinhos em busca de comida. Dizem “doçura ou travessura” e os vizinhos decidem se abrem a porta. Mas se não o fizerem com recompensas (leiam-se doces), habilitam-se a ver ovos atirados contra a janela na manhã seguinte. (A história do Dia de Todos os Santos. Que quase morreu com o Halloween) 


A origem das tradições pagãs e cristãs do Halloween pouco tem a ver com as actuais  celebrações. Como em outras festas, também nesta o consumismo tem desvirtuado a sua origem e originalidade. No caso do H., segundo  Bruno Bethelleim, o desvirtuamento tem consequências sobretudo na ambivalência que está presente nesta festa. As crianças por um dia também podem assumir o papel do adulto e podem castigar  o adulto com a "travessura" se não cumprir com a tradição de oferecer a "doçura" respectiva.

Como sabemos a ambivalência consiste em sentimentos de amor e ódio em relação a uma pessoa. Praticamente todas as pessoas já experimentaram esse conflito de sentimentos. O objecto do seu afecto e desafecto pode ser um colega de trabalho, um namorado ou até um professor ou os pais.

A importância desta festa infantil é a possibilidade de a criança compreender  que mesmo ao mostrar o lado mais sombrio da vida pode ser aceite. Pode ameaçar com travessura se não lhe derem uma doçura. Os adultos devem entrar no jogo fazendo de conta que estão muito assustados pelos seus disfarces (Bruno Bettelheim, Bons Pais - o sucesso na educação dos filhos, pag. 628).  

Passa-se o mesmo quando a criança nas brincadeiras connosco agita um brinquedo monstruoso, mesmo que pequeno mas enorme na realidade ou feroz, imitando um som assustador - Grrrrrrrrr ... Claro que o adulto deve mostrar medo com tão veemente susto. Se não se assusta acaba a brincadeira...


Infelizmente, como diz Bruno Bettelheim, o que aconteceu com esta festa foi a perda deste significado quando passou a ser uma festa em que também os adultos passaram a usar disfarces e a assustarem-se uns aos outros, a brincarem uns com os outros (não digo tanto, como BB, de que foram crianças que não tiveram brincadeiras quando eram crianças... ) ou pior, a assustarem as crianças.

Então a história ficou de pernas para o ar e passaram a ser os adultos a assustar as crianças havendo casos graves com crianças muito pequenas (basta pesquisar na internet).

A tradição das doçuras e travessuras deixou de existir e o objectivo é apenas fazer o disfarce mais horrível e assustar as crianças em vez de serem estas a amedrontar os adultos. 

A festa também se estragou quando os adultos passaram a não ser confiáveis por  oferecerem “doçuras” que fazem mal às crianças ou podem ser perigosas (basta pesquisar na internet)...

 

 











27/10/21

Tempo para bons tratos

  

Daqui



A perspectiva positiva do desenvolvimento psicológico, do direito ao afecto e dos bons tratos que as crianças necessitam, mostra como ainda estamos longe da protecção que  devem merecer, apesar da evolução legislativa, social e cultural.

Ao longo da história, as crianças têm sido vítimas de toda a espécie de maus tratos que vão do infanticídio até às mais vis formas de tráfico humano. A história da infância é um longo caminho de violência contra as crianças (De Mause).

A pedofilia e o incesto fazem parte dessa história de maus tratos mesmo quando  as instituições que  deviam ter um papel de protecção, como a família, igreja e escola, elas próprias foram e são também violentadoras das crianças.

 

Em 2019, a conferência dos bispos de França propôs ao senador Jean-Michel Sauvé criar uma comissão sobre a dimensão do fenómeno dos abusos sexuais. Nascia, assim, a Comissão independente sobre os abusos sexuais na Igreja (Ciase). (1)

Após dois anos e meio de trabalho, a Comissão publicou  o relatório em que foram investigados os casos de abuso ao longo de um  período de 70 anos, entre 1950 – 2020.

Os resultados (2) são uma estimativa baseada no censo e na análise dos arquivos (Igreja, justiça, polícia judiciária e imprensa) e nos testemunhos recebidos pela Comissão.

Esta estimativa refere números assustadores. Em França, houve entre 2.900 e 3.200 padres ou religiosos da Igreja Católica que cometeram crimes de abuso sexual (pedofilia), durante este período de 70 anos.

Refere o relatório que foram abusadas um total de 216 mil pessoas (com uma margem de erro de 50 mil). Se forem incluídas as agressões cometidas por leigos esta estimativa sobe para 330 mil pessoas.

Infelizmente os números dos abusos sexuais são ainda mais perturbadores se pensarmos que, em toda a sociedade francesa, cinco milhões e meio de pessoas (14,5% das mulheres e 6,4% dos homens) haviam sofrido violência sexual antes dos 18 anos de idade. 

As famílias e amigos ainda são os principais contextos dos abusos, mas a prevalência de agressões na Igreja católica continua alta, mesmo em tempos recentes.


Chocante é também a indiferença com que estes casos foram olhados não só dentro da Igreja mas na sociedade. A pergunta é: como foi possível? Certamente teve que haver muita gente a olhar para o lado para que as coisas fossem acontecendo sem serem denunciadas. Mesmo que a denúncia envolva complexidade, sofrimento, e medo e, por isso, tenda a ser protelada, é difícil compreender como foi possível silenciar os abusos durante tanto tempo.

 

A iniciativa tomada pela Igreja relativamente a este assunto é também de salientar, no sentido de terminar os abusos mas também de prevenir e proteger as crianças desta forma de violência. 

O século XX foi considerado a “era da criança” (3). É, por isso, tempo de parar os abusos e a violência contra as crianças. Mas se não é possível pôr termo à maldade humana, é preciso que toda a sociedade não fique indiferente à "dor invisível" das crianças abusadas (Barudy). Elas merecem um  tempo novo na sua história, o tempo dos bons tratos.

 

 Até para a semana.


___________________

(1) Prisca Borrel, "Église et pédophilie: oser témoigner", Le cercle Psy, nº 35, pags 74-75

(2) São os resultados referidos pela comunicação social, p. ex. em: O pesar do Papa pelo Relatório sobre os abusos na Igreja na França.

(3) A Origem dos Maus-Tratos: Revisão Sobre a Evolução Histórica das Perceções de Criança e Maus-Tratos.







 

21/10/21

Em busca do tempo perdido

Cheek to Cheek - Lady Gaga, Tony Bennett; 
Compositor: Irving Berlin 


Céu, estou no céu / Heaven, I'm in heaven
E o meu coração bate tanto que mal consigo falar / And my heart beats so that I can hardly speak
E parece que encontro a felicidade que procuro / And I seem to find the happiness I seek
Quando saímos juntos dançando de rosto colado / When we're out together dancing cheek to cheek...

 


Cheek to Cheek: Um dos duetos de Tony Bennett e Lady Gaga.  É muito bonita esta relação, quando, a partir de 2014, juntos gravaram um álbum de standards  com o nome de Cheeck to Cheeck numa altura em que Bennett já revelava sintomas da doença de Alzheimer com todas as dúvidas que se colocavam em relação ao resultado do projecto.

Segundo a sua neurologista (Gayatri Devi, neurologista no Lenox Hill Hospital em Manhattan responsável pelo diagnóstico de Tony), “aos 94 anos, ele está a fazer muitas coisas que várias pessoas com demência não conseguem fazer”. “Ele é mesmo um símbolo de esperança para alguém que sofre de uma perturbação cognitiva”, continua a médica, que nos últimos anos encorajou Bennett a manter-se "ativo, cantando e atuando ao vivo até que tal fosse possível, “uma vez que estimulava o seu cérebro de uma forma significativa”...”  (Observador)

 

T. Bennett pode ser um exemplo de como a música tem um papel fundamental na vida das pessoas mesmo quando se é atingido por uma doença tão complicada como a Alzheimer.

Oliver Sacks em Musicofilia dedica um capítulo a este assunto "Música e Identidade: Demência e Musicoterapia" (pags. 337-349) *

Sabemos que um dos sintomas principais da doença é a perda progressiva da memória. Mas até onde? Há um apagamento completo da memória a ponto de podermos falar de perda do self?

Sem dúvida que "É verdade que uma pessoa com Alzheimer perde muitas das suas capacidades e faculdades à medida que a doença progride...

Mas a perda de consciência de si poderá significar uma perda do Self, enquanto unidade e totalidade do sujeito?"

Pode haver uma regressão mas “alguns aspectos do seu carácter essencial, da sua personalidade e realidade pessoal, do seu self, sobrevivem – a par,  sem dúvida, de certas formas quase indestrutíveis de memória - até mesmo na demência avançada.”

“É como se a identidade tivesse uma base neural tão robusta e por toda a parte presente, como se o estilo pessoal estivesse tão profundamente incorporado no sistema nervoso que nunca se perdesse por completo, pelo menos enquanto houver vida mental."


“Em particular a resposta à música é preservada até mesmo numa fase muito avançada da demência.“

Tony Bennett é um bom exemplo da importância da música na nossa vida.  
A música é uma terapia ao longo da vida e ainda mais quando da vida já pouco nos recordamos.
Como diz Oliver Sacks “A música familiar age como uma mnemónica proustiana, suscitando emoções e associações há muito esquecidas, dando de novo aos doentes acesso a estados de humor e recordações,  pensamentos e mundos que aparentemente tinham perdido por completo. Os rostos ganham expressão à medida que a velha música é reconhecida e experimentada a sua força emocional.”

 


Até para a semana.

 

 ________________________

 * Oliver Sacks, Musicofilia, Relógio d'Água Editores, 2008








15/10/21

Hoje apetece-me ouvir Shostakovich

The Gadfly (Romance) op 97,  Dmitri Shostakovich
 Jonathan Carney, violino.
Royal Philharmonic Orchestra London
Frank Shipway, maestro
 London 1995



The Gadflynovela de  Ethel Voynich, publicada em 1897, inspirou sete adaptações musicais, incluindo uma ópera de Prokofiev, cinco adaptações para o teatro, incluindo uma versão "oficial" de George Bernard Shaw, e cinco adaptações para o cinema, uma das quais apresenta uma banda sonora famosa de Shostakovich.

10/10/21

Saúde mental



No domingo, dia 10 de Outubro,  comemorámos o dia mundial da saúde mental. Porém, sabemos que “não há saúde sem saúde mental” e não faz sentido haver qualquer separação entre uma e outra uma vez que corpo e mente estão interligados e não há corpo sem mente nem mente sem corpo. António Damásio em O erro de Descartes explicou esta ligação. (p. 255)
Segundo a OMS “A saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades próprias, pode manejar as dificuldades normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutuosa, e é capaz de prestar uma contribuição para a sua comunidade.” referido por J. M. Caldas de Almeida

A nossa saúde mental depende de vários factores bio-psico-sociais.  No entanto, refere o psiquiatra Caldas de Almeida: “Para o paradigma científico actual, ..., o mais importante não é apenas reconhecer a relevância dos vários tipos de fatores (biológicos, psicológicos e sociais). O que sabemos hoje é que a saúde mental e as perturbações mentais resultam de uma interacção complexa entre fatores biológicos e ambientais. Antigos dilemas, como os de natureza versus ambiente ou orgânico versus psicológico, sabe-se hoje, são afinal falsos dilemas.
... 
Por outro lado, “A multifatorialidade dos determinantes das perturbações mentais tem implicações importantes na seleção das estratégias de tratamento para as diversas perturbações mentais.” J. M. Caldas de Ameida, A saúde mental dos portugueses, FFMS (p.19-20)

A comemoração desta efeméride de nada serve se os cidadãos, em especial os doentes, não virem melhoras na capacidade de resposta do sistema de saúde, se não sentirem que são atendidos quando não se sentem bem. 
Esta data deve servir pelo menos para se fazer o ponto da situação da saúde mental no país. Foi o que fez a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). E o panorama não é bonito. Não vou maçar com números. Apenas dizer que:
- Um em cada cinco portugueses sofre de um problema de saúde mental (23% da população).
- Somos o segundo país da OCDE com maior prevalência de problemas de saúde psicológica
- somos o quinto país da OCDE com mais consumo de ansiolíticos e antidepressivos.
E que:
"Lamentavelmente, mais de dez anos após a criação do Programa Nacional de Saúde Mental verificam-se algumas tendências: 
(i) A inexistência de uma estratégia integrada para a promoção da saúde mental e para a prevenção das perturbações mentais...; 
(ii) o aumento da prevalência da depressão e ansiedade na população portuguesa... 

Para o governo, no entanto, “A aplicação do Programa Nacional de Saúde Mental 2020/30 está a decorrer como previsto, apesar das dificuldades causadas pela pandemia de Covid-19". (Secretário de Estado da Saúde Diogo Serras Lopes)

Esta visão, contraditória com a da Ordem dos Psicólogos, faz-nos pensar que vai tudo continuar na mesma. Mas poderá acontecer que a "basuca", 85 milhões de euros para a área da saúde mental, ajude a que os portugueses tenham melhor acesso à saúde mental, porque a doença não espera... e não acontece só aos outros.


Até para a semana.
 





 

Hoje apetece-me ouvir Pietro Mascagni

Cavalleria Rusticana - Pietro Mascagni - Intermezzo

Orquestra Filarmónica da Cidade de Praga


08/10/21

Reformar e investir em educação 3


Voltamos, hoje, à “ Opinião” de 5ª feira. Obrigado a todos os que me ouvem. Vamos continuar a falar de psicologia e de educação ou melhor dos comportamentos das pessoas, da psicologia na escola e nas famílias, dos problemas do quotidiano, da política educativa e de tudo o que faz parte da vida. Sem restrições mas com responsabilidade...

No último programa, em Julho, falámos da necessidade de realizar reformas no sector de educação.
Propusemos uma reforma a partir de autores como Martin Seligman, Benjamin Spock ou David Rose...

Mas podemos encontrar os fundamentos para uma reforma educativa nos poetas, como eu penso que encontrei em Walt Whitman que nos dá uma visão muito precisa da escola para a América do seu tempo e do trabalho árduo dos professores e eu penso que é ajustada para o nosso tempo, aqui neste país.


Walt Whitman fala-nos dos alunos, e da escola (no poema Pensamentos de um velho sobre a escola", Folhas de erva, p. 354-355)

"Um velho reúne recordações da juventude e flores que a juventude,
ela mesma, não consegue reunir.
 
Hoje só eu vos conheço,
Ó belos céus da aurora, ó orvalho da manhã na erva! 
E são estes que vejo, estes olhos cintilantes,
Cheios de um significado místico, estas vidas jovens,
Que constroem, que se equipam como uma frota de navios, navios imortais,
Que em breve navegarão pelos mares sem limites,
Na viagem das almas. 
Apenas um grupo de rapazes e raparigas?
Apenas as enfadonhas lições de leitura, escrita e cálculo?
Apenas uma escola primária?
Ah, mais, muito mais.
...
E tu, América,
Fizeste uma avaliação real do teu presente?
Das luzes e das sombras do teu futuro, bom ou mau?
Presta atenção às tuas raparigas e rapazes, ao professor e à escola."
Sobre o  trabalho dos professores, WW fala-nos da grandeza e ao mesmo tempo da dureza de ensinar:

“És tu quem pretende um lugar para ensinar ou ser aqui poeta, nos Estados?

A missão é digna de respeito, as condições duras. 

Quem pretende ensinar aqui bem pode preparar-se de corpo e alma,

Bem pode explorar, ponderar, armar-se, fortificar-se, endurecer e tornar-se ágil,

Antes será certamente interrogado por mim com muitas e sérias perguntas. 

Quem és tu na verdade que queres falar ou cantar para a América?

Estudaste bem o país, os seus idiomas e os seus homens?

Aprendeste a fisiologia, a frenologia, a política, a geografia, o orgulho, a liberdade e a amizade do país? Os seus fundamentos e objectivos?

...

Conheces a fundo a Constituição federal?

Vês quem deixou todos os poemas e processos feudais para trás e adoptou os poemas e processos da Democracia?

És fiel às coisas? ensinas o que a terra e o mar, os corpos viris, a feminilidade, o instinto amoroso, os furores heroicos ensinam?

Passaste depressa pelos costumes efémeros e pelo que só é popular?

Consegues opor-te às seduções, loucuras, vertigens, lutas ferozes? és muito forte? és, na verdade de todo o  Povo?"

....  

("Na margem do azul Ontário", 12, Folhas de erva, p. 311) 

Sem dúvida, todo um programa para quem ama o seu país e tem a noção de que a educação é o cimento que faz os alicerces de um povo.

 

 

Até para a semana.