10/10/12

Dia mundial da Saúde Mental



Hoje, dia 10 de Outubro, assinalou-se o “Dia Mundial da Saúde Mental”. Podemos dizer que a Saúde Mental “é sentirmo-nos bem connosco próprios e na relação com os outros. É sermos capazes de lidar de forma positiva com as adversidades. É termos confiança e não temermos o futuro.”

É importante distinguir doença mental e deficiência mental (Cobb e Mittler):
A doença mental abrange várias perturbações que afectam o funcionamento e comportamento emocional, social e intelectual. Ou seja, a pessoa apresenta reacções emocionais inapropriadas dentro de vários padrões e graus de gravidade, por distorções (e não por défice) da compreensão e da comunicação e por um comportamento social erradamente dirigido e não por incapacidade de adaptação.
Há várias classificações da doença mental:
Estados psicóticos (esquizofrenia e doenças maníaco depressivas), as perturbações de origem orgânica (demências e perturbações degenerativas do cérebro), e as perturbações psiconeuróticas (estados de ansiedade e perturbações obsessivas) e perturbações do comportamento e personalidade. 
Mas doença mental não quer dizer deficiência mental.
A deficiência mental envolve um problema de desenvolvimento e um problema sócio-cultural: "Funcionamento intelectual significativamente abaixo da média e que seja notório desde tenra idade” e “ Incapacidade significativa para se adaptar às exigências culturais da sociedade.”
Hoje para um indivíduo ser classificado como deficiente mental deverá provar-se que tanto o seu funcionamento intelectual como o seu comportamento adaptativo estão afectados, avaliados por critérios objectivos de medição.
Todos podemos, em determinada altura da nossa vida, sofrer um problema de doença mental, de maior ou menor gravidade.
Esses momentos podem ser mais acentuados em algumas fases da vida: a entrada na escola, a adolescência, o envelhecimento, ou alterações na vida familiar: perda de familiar próximo e significativo, o divórcio, ou alterações na situação laboral: desemprego, reforma, ou acontecimentos escolares: insucesso, bullying...
A depressão na infância e adolescência tem vindo a ganhar relevo na investigação e na atenção que é necessário haver na escola.
Muitos problemas de aprendizagem e de comportamento surgem num fundo de tristeza a que as crianças têm dificuldade em fugir ( como referia João dos Santos)
É por isso necessário ter atenção aos sintomas (CDS - Questionário de depressão para crianças):
Respostas afectivas: sentimentos de tristeza e choro.
Autoconceito negativo: sentimento de inadequação, fraca autoestima, inutilidade, desamparo, desesperança e falta de carinho.
Diminuição da produtividade mental e dos impulsos: aborrecimento, isolamento, falta de energia, descontentamento, pouca capacidade para o prazer e para aceitar ajuda ou conforto, assim como atraso motor.
Preocupações: com a morte a doença, o eu ou os outros, assim como pensamentos suicidas e sentimentos de perda (real ou imaginária).
Problemas de agressão: irritabilidade e explosões de mau humor.
Estas crianças necessitam de ajuda e não de incompreensão e preconceitos: do tipo, é tudo imaginação, são manias, são preguiçosas, a culpa é dos pais que não o educam.
Estes preconceitos, fazem com que muitas crianças e pais tenham vergonha e medo de procurar apoio ou tratamento, ou não queiram reconhecer os primeiros sinais ou sintomas de doença.
O apoio psicológico e psiquiátrico deverá ser sempre procurado. A par do acompanhamento que pode ser dispensado na escola.
A escola, felizmente, também está mais atenta à integração e apoio das crianças com este tipo de perturbações.

Foi só em 1792 que Philippe Pinel, em Paris, tirou as correntes destes pacientes presos nas instituições psiquiátricas. Mas hoje, continua ainda a ser necessário ultrapassar alguns preconceitos.

09/10/12

"O povo é quem mais ordena"



Mas "o povo é quem mais ordena" também porque
A democracia em Portugal não pode ser expressa nem realizada fora da relação entre democracia formal e aprofundamento da democracia participativa a que se refere, de forma clara, a Constituição.

Na verdade, o que caracteriza a democracia portuguesa em toda a sua estrutura é o facto de ser uma democracia participativa. Para que tal democracia funcione, é necessário que os mecanismos da democracia representativa reassumam a sua dignidade institucional própria.

M. de L. Pintasilgo descreve seis eixos que enformam a democracia participativa, sem dúvida mais complexa, completa e exigente do que a democracia representativa e formal e que vou tentar sintetizar:
 "A substituição da responsabilidade pessoal dos deputados, relativamente aos interesses reais do país, pela sua subordinação aos órgãos centrais dos partidos, é uma caricatura do sistema representativo...

Paralelamente, é necessário que os governos governem sem, por um lado, usurparem poderes próprios do Parlamento e sem, por outro, deixarem para tempo indeterminado as suas tarefas prioritárias.

Os governos que vão tomando decisões no dia a dia sem terem a coragem técnica e política de apresentarem ao Parlamento um Plano e suas Grandes Opções tornam-se responsáveis, perante o país, pelo descalabro eventual da democracia.

A democracia participativa supõe ainda plena utilização das instituições democráticas intermédias consignadas na Constituição, tais como o Conselho Nacional do Plano, os órgãos regionais, o Conselho Superior da Magistratura, o Conselho Superior de Defesa Nacional.

Finalmente, a democracia participativa exige que se criem novos mecanismos de intervenção social, aquilo a que eu chamaria de harmonização da convivência entre os cidadãos e entre os diversos grupos.
Destaco, entre esses mecanismos, os seguintes:
- a caracterização de novos parceiros sociais, isto é, de entidades ou instituições que no seu conjunto são determinantes na resolução de problemas fulcrais do país;
- a organização e audição de grupos de pressão, que se possam manifestar, por todas as formas legais, sobre as grandes questões nacionais em que se hipoteca não só o presente, mas também o futuro a médio e a longo prazo;
- a normalização do circuito de recepção das «petições» que chegam à Assembleia da República e a introdução da prática da sua discussão pelos deputados.


Nesse quadro, o lugar do Presidente da República é decisivo, uma vez que lhe cabe ser o garante do «regular funcionamento das instituições democráticas».
Os mecanismos que assim tem ao seu dispor, e os que pode accionar com imaginação, dão-lhe uma responsabilidade própria e única no aprofundamento da democracia participativa, de modo a salvaguardar os valores fundamentais da democracia."
Esta intervenção é mais profunda do que a simples troca de lugares no parlamento e no governo e não ignora que a democracia participativa nunca dispensa a democracia formal.  

"O povo é quem mais ordena"

De facto, há uma célebre frase: "o povo é quem mais ordena". Como se pode confirmar aqui, continua a ser assim.


08/10/12

Olívia patroa, Olívia costureira

Saudades do humor de Ivone Silva.
Como ela tinha razão.
O sr. da CIP tem vontade de fazer greve e o sr. da CGTP quer acabar com o capital mas exige emprego.

Negação e cooperação


Escrevi em 7-3-2012, que há reconhecimento de que é necessário tomar medidas que reduzam o défice e a dívida mas na prática o bordão é o da negação: não toquem em nada.
Como pode um país ter um desenvolvimento sustentado quando as oposições (não me refiro apenas às actuais) vivem da negação permanente de todas as medidas necessárias à gestão governativa ?
A cooperação é uma componente da inteligência emocional e está arredada da política. Pelos vistos a inteligência emocional é apenas para os indivíduos e para as empresas mas nada de a meter na cidadania.
Continua assim, como se pode ler aqui:
Ao longo do último ano os portugueses declararam-se nas mais diversas manifestações públicas contra o aumento das taxas moderadoras na saúde, contra a privatização da RTP, contra o corte de salários dos funcionários públicos, contra o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa e outros serviços hospitalares, contra o encerramento de escolas, contra o aumento do número de alunos por turma, contra o despedimento de professores contratados, contra cortes no subsídio de desemprego, contra cortes no rendimento mínimo, contra cortes no investimento público, contra a falta de apoios às empresas, contra o encerramento de Fundações na área da cultura e contra a austeridade porque causa efeito recessivo. Em suma, os portugueses não estão dispostos a abdicar do seu Estado Social. E também não estão dispostos a pagar os impostos necessários para sustentar o Estado Social. Há em Portugal um largo consenso contra aumentos de impostos. O Estado Social é bom enquanto for pago por défices, quando é preciso pagá-lo com impostos já não pode ser.
Sendo um consenso nacional que é necessário reduzir na despesa qual é a despesa em que consensualmente se pode reduzir? Até agora nem uma.
Negação e cooperação são ambas manifestações de cidadania.

04/10/12

Falha, memória da falha e resiliência

Andrew Zolli na conferência "Presente no futuro" ajuda a compreender que a crise é «início da preparação para o futuro».
A importância de reconhecer o que falhou e a memória dessa falha pode ajudar a compreender o comportamento das sociedades, neste caso da portuguesa. Aquilo que alguns confundem com passividade, é resiliência. Todos sabemos o que aconteceu e porque estamos neste ponto. Era importante haver justiça, como na Islândia, para que haja memória da falha.
Mas este luto que os portugueses estão a fazer parece que pouco interessa aos que estiveram calados  e que mentiram durante 15 anos. Querem voltar rapidamente ao poder. Porque não querem ter nem há quem os faça ter memória dessa falha.

02/10/12

A equidade do "ensino vocacional" e a cultura


Contracapa de Mágoas da escola, de Daniel Pennac


O ministério da educação vai criar este ano lectivo, “no âmbito da oferta formativa de cursos vocacionais no ensino básico, uma experiência-piloto de oferta destes cursos, no ano lectivo de 2012 -2013 e regulamenta os termos e as condições para o seu funcionamento (Portaria 292-A/2012, de 26 de Setembro).
Esta experiência-piloto destina-se a alunos com mais de 13 anos, e que tenham tenham duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos distintos.
A experiência-piloto ora regulamentada pode ser alargada a partir do ano lectivo de 2013 -2014 a outros agrupamentos de escolas ou escolas por despacho do Ministro da Educação e Ciência”
De facto, já não era sem tempo. A realidade do terreno vinha impondo respostas que a teoria dos gabinetes, mesmo que internacionais, não querem ver.
 A OCDE define alguns critérios para a equidade da educação: Um deles refere que se deve “limitar a orientação precoce para vias diferenciadas ou para turmas de nível e evitar a selecção com base nos resultados de aprendizagem”.
São coisas diferentes. Quanto à  orientação precoce para vias diferenciadas  tem que se entender o que significa  orientação precoce para medidas diferenciadas? É a orientação no final do 4º ano , do 6º ou do do 9º ano de escolaridade?
Não será falta de equidade deixar os alunos ao insucesso ? Esta tem sido a prática que tem levado a que muitos alunos acabem por deixar a escola precocemente.
Infelizmente também aqui a ideologia tem contaminado  o debate e a busca de soluções para estes alunos.
É fácil  arranjar um rótulo de "pedagogia classista"  para medidas como esta agora tomada e deixar os alunos  repetirem anos de insucesso.
Este tem sido aliás um dos problemas mais graves com que nos deparamos depois de ter terminado o ensino das escolas profissionais.
Tem sido à conta de ideologias ditas de esquerda  ou ditas de direita que a falta de equidade tem existido.  É lamentável que seja sempre a distinção baseada no económico que esteja subjacente a estas opiniões e decisões.
O que sei é que o insucesso, hoje, e sublinho hoje, é transversal, como acontece, aliás, com as NEE. A lotaria genética não faz essa distinção económica e a influência do meio pode ser importante mas, certamente, hoje, ninguém pensa que um professor faz distinções dessas nas suas aulas.
Ou será que os professores também usam essa ideologia classista e são perversos a ponto de quererem “marcar” assim as classes sociais, enviando os alunos para cursos técnico-profissionais?  Não será até o contrário ? Muitos professores que conheço, independenteente da sua ideologia, fazem tudo o que podem para que os seus alunos tenham sucesso.
Mas também aqui não se passa nada de novo: é sempre a questão dos "memes" a inquinar tudo o que é a "nossa" cultura e a "vossa" cultura.
Há cultura. Se uma cultura é contra os princípios fundamentais do ser humano então a cultura tem que ser  mudada. Seja de esquerda seja de direita, religiosa ou laica...
A cultura da equidade é permitir aos alunos que sigam as suas escolhas. Propor a possibilidade de orientação, como faz este ministério da educação, para alunos com mais de 13 anos com insucesso, parece-me um contributo para promover a equidade.
A forma de o fazer não é forçosamente através de escolas diferentes. O futuro da equidade da educação pode passar  por oferecer dentro da mesma escola currículos diferenciados aos alunos e oferecer a possibilidade de escolha aos alunos que o desejem.
É muito difícil para um educador ver um aluno desmotivar-se da escola  e começar um caminho de insucesso académico. E o problema maior é que às vezes não é só académico é o começo do insucesso para a vida.
E se esse aluno quiser optar por um currículo com  disciplinas  diferentes não deverá poder ter essa opção? Que equidade há no prolongamento dessa mágoa de ir a uma  escola que já nada lhe diz ?

Também cultura


Sempre que posso, volto a esta forma de cultura, sem discussões!