14/10/22

Respeitar os professores...


Ouvimos dizer que a escola já não é como era. Antes havia disciplina e os professores eram respeitados.(1) De facto, parece haver um “sentimento geral” de que se perdeu o respeito pela autoridade que havia em relação a várias instituições políticas, sociais, religiosas. Parece que este fenómeno é particularmente notado nas escolas e em relação aos professores.

Cada um de nós tem conhecimento de agressões a professores, feitas por alunos e pais, que são notícia nos meios de comunicação social, o que significa que são suficientemente graves para merecerem essa referência. 


Era interessante saber: qual a dimensão destas atitudes e comportamentos  para com os professores? Quem desrespeita quem: são os alunos, os pais, a comunidade? 

Em 2020, "os números mostram que todas as semanas alguém foi agredido ou ameaçado de morte. Mas tanto professores como polícia garantem que existem muitos mais casos que ficam dentro dos muros das escolas, sem nunca serem esquecidos pelas vítimas. "Muitos preferem remeter-se ao silêncio para não colocar a imagem da escola em causa". 

Se virmos o que dizem alguns sindicatos de professores, parece que quem desrespeita mais os professores é o ministério da educação. Ou seja a autoridade dos professores é posta em causa pelo poder quando não cria as condições para que a função docente seja exercida nas condições que evitem a falta de respeito aos  professores e a outros funcionários da escola.

 

Mas o desrespeito pelo poder e pela autoridade vem também dos alunos como aconteceu com o slogan “não pagamos“ e a “geração rasca”. Ou era apenas irreverência da juventude?


De facto, podemos dizer que a escola e os professores têm vindo a perder status *. Interessa, por isso, saber a que se poderá dever esta situação. Onde começou esta mudança profunda de desrespeito da autoridade dos professores na escola e na sociedade.

 

A degradação da autoridade tem vindo a acontecer a partir de uma das  perversidades saídas do Maio 68, em França. Um dos slogans, “Proibido proibir”, foi o mote que levou a questionar toda a autoridade e não só o poder. 

Vargas Llosa, em  A Civilização do Espectáculo, refere: “Pelo menos no campo do ensino, a partir de 1968 a autoridade castradora dos instintos libertários dos jovens voara em pedaços.” Mas, por outro lado, o Maio 68 vem dar “legitimidade e glamour à ideia de que toda autoridade é suspeita, perniciosa e desdenhável e que o ideal libertário mais nobre é desconhecê-la, negá-la e destruí-la” (p. 79)

 

E escreve Vargas Lhosa: “Em nenhum campo isto foi tão catastrófico para a cultura como na educação. O professor, despojado de credibilidade e autoridade, convertido em muitos casos, na perspetiva progressista, em representante do poder repressivo, isto é, no inimigo a quem para alcançar a liberdade e dignidade humana era preciso resistir e até abater não só perdeu a confiança e respeito sem os quais era impossível cumprir eficazmente a sua função de educador - de transmissor tanto de valores como de conhecimentos -  perante os seus alunos,   como também os dos próprios pais de família e de filósofos revolucionários..." (p. 80) 

Porém, o poder não se viu afectado minimamente. Pelo contrário. (3)

 


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(1) Podemos questionar o que quer dizer "respeito". O  respeito é um sentimento positivo em relação a outra pessoa ou em relação a si próprio. Respeito é mais do que tolerância. Respeito é  concordar, incentivar, respeito implica inclusão, empatia, honestidade, cumprir as promessas que se fazem, escutar com atenção, colocar-se no lugar do outro, cumprir as leis do país em que se vive...

Isto aplica-se a todos os adultos em relação às crianças, os pais em relação aos filhos, os superiores hierárquicos em relação aos subordinados e vice-versa...

Segundo Alain de Botton "As consequências de um status elevado são aprazíveis. Incluem recursos, liberdade, espaço, conforto, tempo e porventura mais importante o facto de sentirmos que somos objeto de afecto e estima por parte dos outros através de convites lisonjas, risos mesmo quando as piadas não são boas deferência e atenção o status elevado é considerado por muitos como um dos mais preciosos bens terrenos.

Por outro lado, "Angústia de Status" é "A preocupação perniciosa a ponto arruinar boa parte das nossas vidas, com o risco de não conseguirmos conformar-nos aos ideais de sucesso instituídos pela sociedade envolvente e de podermos, por conseguinte, ser despojados da nossa dignidade e respeito. A preocupação pelo facto de nos acharmos num patamar demasiado modesto ou de estarmos prestes a cair para um degrau mais abaixo." (Alain de Botton, Status ansiedade, Publicações D. Quixote, 2005)

(2) Índice Global de Status de Professores da Fundação Varkey (2018). "Os dados do estudo "sugerem que há uma correlação entre o status concedido aos professores e os resultados dos alunos do seu país. Em outras palavras, um alto status de professor não é apenas “bom de se ter” – aumentar o status de professor pode melhorar diretamente o desempenho dos alunos de um país. Os governos devem levar a sério o status de professor e fazer esforços para melhorá-lo." (p.11)

"O estudo conclui que a classificação média de respeito para um professor nos 35 países foi a 7ª de 14 profissões, indicativa de uma classificação de respeito intermédia para a profissão." (p 13)

(3) "Basta recordar que nas primeiras eleições realizadas em França depois do Maio 68, a direita gaulista obteve uma vitória categórica." (p.80)




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