19/10/22

Abusos sexuais





A história da infância é um longo caminho de sofrimento das crianças.  

Tendo em vista a protecção da infância, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou, em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança. Trinta anos depois, em 1989, foi adoptada a Convenção sobre os Direitos da Criança. 

 

Porém, um pouco por todo o lado, surgem notícias sobre  abusos de crianças  como está a acontecer com a Igreja Católica.

Depois da publicação da Carta apostólica “Vos estis lux mundi”, do Papa Francisco, em alguns países foram criadas Comissões de Protecção de Menores e Pessoas Vulneráveis.


Foram também criadas comissões independentes para a avaliarem os abusos cometidos no passado. Em Portugal, foi criada pela Conferência Episcopal Portuguesa a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI) para  apurar casos que tenham acontecido nos últimos setenta anos.  O trabalho da Comissão Independente termina em Janeiro de 2023. No entanto, foram apresentados os resultados provisóriosUm total de 424 testemunhos de abusos sexuais cometidos sobre menores por membros da Igreja Católica portuguesa foram validados, até agora, pela Comissão independente.

Estes resultados vieram mostrar, também em Portugal, a falha dentro da Igreja na protecção das crianças. Perante este vendaval, o que pensar?


Bento XVI, já em 2010, avaliava estes resultados  no livro-entrevista Luz do Mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos - uma conversa com Peter Seewald. 

Pergunta Seewald: ...Como de um abismo profundo, surgiram do passado inúmeros e inacreditáveis casos de abusos sexuais cometidos por padres e religiosos. As nuvens ensombram também a Santa Sé. Já ninguém fala da instância moral para o mundo que normalmente se reconhece ser um Papa. Qual é a dimensão desta crise? Trata-se mesmo, como tivemos oportunidade de ler, de uma das maiores crises na História da Igreja?

- “Sim, é uma grande crise, temos de admiti-lo. Foi perturbadora para todos nós. De súbito, tanta sujidade! Foi realmente quase como uma cratera vulcânica da qual tivesse sido expulsa de repente uma enorme nuvem de sujidade que tudo escureceu e conspurcou, de modo a que, de entre todas as coisas, o sacerdócio parecesse subitamente um local vergonhoso e que todos os padres ficassem sob  a suspeita de o serem também. Muitos sacerdotes confessaram  já não se atrever sequer a dar a mão a uma criança, quanto mais a organizar um campo de férias com crianças.” (p. 33-34)

E sobre a comunicação social diz Bento XVI:

- “Não foi possível deixar de reparar que subjacente a esse esclarecimento por parte da imprensa, estavam não só a vontade pura de obter a verdade, mas também uma alegria em comprometer e em desacreditar o mais possível a Igreja. Independentemente disso, tem porém de ficar sempre claro que, sendo verdade, devemos estar agradecidos por cada esclarecimento. A verdade, associada ao amor correctamente entendido, é o valor número um. E, por fim, os meios de comunicação social não teriam podido falar como falaram se na própria Igreja não houvesse o mal. Só porque o mal estava na Igreja é que outros puderam utilizá-lo contra ela.” (p. 36-37)

Não vale a pena usar o processo de vitimização. Nesta história dos abusos as vítimas são outras.



Até para a semana.







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