04/10/22

A civilização do espectáculo




 

O que é a civilização espectáculo? “A de um mundo onde em primeiro lugar na tabela de valores vigente é ocupado pelo entretenimento e onde divertir-.se, fugir ao aborrecimento é paixão universal. Este ideal de vida é perfeitamente legítimo, sem dúvida... Mas converter esta propensão natural para passar uns bons momentos num valor supremo tem consequências inesperadas: a banalização da cultura, a generalização da frivolidade e, no campo da informação, que prolifere o jornalismo irresponsável da bisbilhotice e do escândalo.”

Esta definição é de Mario Vargas Llosa que escreveu o ensaio A civilização do Espetáculo. (1) 

Embora a primeira edição seja de 2012, dez anos depois, está bem para este tempo em que se tem acentuado a propensão social para este tipo de vivências.

 

De facto, "o bem-estar, a liberdade de costumes, e o espaço ocupado pelo ócio no mundo desenvolvido constituíram um estímulo notável para que se multiplicassem as indústrias de diversão promovidas pela publicidade, mãe e mestra mágica do nosso tempo” (p. 32)

Outro factor importante tem sido a democratização da cultura feita “através de educação mas também da promoção e da subvenção das artes, das letras e restantes manifestações culturais.” (p. 33) O que aconteceu foi que através desta expansão ficou em questão a qualidade.

 

Na civilização do espectáculo tudo se equivale: seja um concerto de música clássica ou uma festa popular, tudo é light, ligeiro: literatura, cinema , arte ... dá impressão ao leitor e ao espectador de ser culto, moderno, de estar na vanguarda e ter humor. “Na civilização do espectáculo, o cómico é o rei.“ (p. 41)

Juntamente com a frivolidade, a massificação é outra característica tal como acontece nos jogos de  futebol ou nos espectáculos de música.

Estamos a assistir a acontecimentos altamente  violentos no futebol como aconteceu recentemente na Indonésia. 

Também não deixa de ser preocupante o que aconteceu recentemente nos estádios portugueses em que  a violência contra  adeptos de outros clubes parece ser coisa normal e o mais estranho é a violência exercida contra crianças que assistem ao desafio com  camisola de outro clube...

 

Na política, procura-se o apoio de intelectuais, desportistas, humoristas, as estrelas da televisão através de testemunhos e abaixo-assinados destas personalidades... 

Há-os para para todos os gostos, e estão  disponíveis, igualmente, para apoiar políticos de todos os quadrantes... 

Acontece que são quase sempre esses intelectuais dominados pela cegueira e pelo silêncio que permitem horrores como os que aconteceram e estão a acontecer durante as guerras.

 

A civilização do espectáculo manifesta-se em todas as áreas culturais: literatura, cinema, artes plásticas, música, política, sexo, jornalismo...

Caberá também a estas áreas da cultura contribuir para que se mude o entretenimento passageiro, fútil, ocioso, noutra coisa que seja a compreensão de que “a vida não é só diversão também é drama, dor, mistério e frustração.” (p. 54 )

O retorno da capacidade crítica destas várias manifestações da cultura será muito importante para  um regresso (que  será verdadeiro progresso) a uma cultura que sendo para todos não deixará de ser exigente  e de alto nível.

 

Até para a semana.

 


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 (1) Lhosa, Mario Vargas, (2012), A Civilização do Espetáculo, Quetzal.










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