29/01/20

Psicologia da corrupção 2

 


Na semana passada falámos da corrupção numa perspectiva cognitivista. Hoje apresentamos outras perspectivas psicológicas que nos ajudam a compreender este fenómeno tão perturbador na nossa vida social.

2. A perspectiva comportamentalista dá particular relevo ao ambiente como fundamental para a aprendizagem.
Qualquer processo comportamental, como a corrupção, depende do ambiente através do comportamento operante e da contingência do reforço. 
Como sabemos para o behaviorismo, o comportamento é justificado pelas suas consequências. Portanto, tudo depende da história de desenvolvimento do individuo, de contingências sociais a que esteve sujeito, do ambiente social e cultural complexos em que vive. 
Nesta perspectiva, a corrupção como um conjunto de acções ou comportamentos de um indivíduo é aprendida e está sujeita às contingências sociais. 
Na vida social ou política todos conhecemos a troca de favores por meios mais ou menos obscuros, frequentemente envolvendo empregos, posições de poder nas instituições, dinheiro e enriquecimento, desafiando os limites da legalidade. 
A corrupção, por um lado, resulta de reforçadores positivos, como o poder que se pode obter, as vantagens económicas, as vantagens dos relacionamentos sociais, o papel e estatuto que se tem na sociedade.
Por outro lado, em geral, não há punição efectiva para os corruptos. Por exemplo, no nosso país são raríssimos os casos em que a justiça puniu estes comportamentos.
Estas duas condições, reforçadores positivos no curto prazo (lucro financeiro ou outras vantagens ilegais), bem como risco reduzido de punição a curto e médio prazo (sanções legais), modelam e mantêm os comportamentos corruptos.
Mesmo quando há condenação dos corruptos, após processos judiciais altamente complexos e que se eternizam no tempo, as relações custo-benefício entre as respostas que caracterizam o comportamento corrupto e as consequências que produzem, indicam que corromper-se e corromper “valem a pena”, no sentido de que há pouca ou nenhuma consequência aversiva contingente nos âmbitos comunitário e legal ou jurídico…(1)

3. Na perspectiva analítica de Jung, a corrupção está relacionada com características individuais da personalidade, é um acto egoísta do indivíduo, o indivíduo corrupto coloca as suas necessidades acima da sociedade inteira. 
Quando a corrupção se torna um comportamento padrão, há um processo de "normalização da corrupção" em que pela racionalização, o corrupto cria narrativas socialmente construídas para legitimar os actos aos seus próprios olhos
Por outro lado, há um inconsciente cultural em que a relação do indivíduo com a corrupção não é a mesma se ele vive num lugar onde a corrupção é endémica ou se vive em um lugar onde a corrupção está sob controle. A corrupção é, então, relativa: varia de acordo com o tempo e o espaço. 
A corrupção, de uma forma ou de outra, esteve presente ao longo da história. Ela pode ser encontrada em todo o lado, em todas as sociedades e todos sistemas económicos, mesmo que mudem as manifestações, as frequências, os níveis hierárquicos e as influências culturais. (2)

Para Jung o bem e o mal não são relativos. A corrupção é oposta de integridade e consciência moral e contém vários elementos, como: responsabilidade, rectidão, perfeição, honestidade, obrigação moral, harmonia psicológica interna, eros psicológico e ético, sinceridade… Por seu lado, a corrupção é irresponsabilidade, vergonha, fragmentação, imperfeição, desonestidade, imoralidade, dissociação... Assim a corrupção a nível do inconsciente colectivo, representa uma propensão à ruptura, uma tendência contrária à integridade moral e uma expressão do mal na sociedade. (3)

Apesar de sabermos que os comportamentos corruptos manifestam esta complexidade do ponto de vista psicológico, há uma escolha a fazer (4) entre ser corrupto ou ser íntegro (5) e essa escolha é pessoal.
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(1) Baseado e condensado de Kester Carrara - Diego Mansano Fernandes, "Corrupção e seleção por consequências: uma análise comportamental".
(2) O inconsciente colectivo é composto de arquétipos. "A natureza dos arquétipos é tal que os reconhecemos de imediato e somos capazes de lhes atribuir um significado emocional específico". O Livro da Psicologia, pag.105.
(3) Apesar do determinismo que algumas perspectivas psicológicas envolvem (B. F. Skinner, Para além da liberdade e da dignidade), há sempre lugar para as escolhas e liberdade individual.
(4) Baseado e condensado de  Camila Souza Novaes, "Corrupção no Brasil: uma visão da psicologia analítica".
(5) Uma das 24 forças de carácter de Seligman: Integridade / Autenticidade / Honestidade




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