02/01/20

Emergência educativa


Novo ano - que mudança na educação dos nossos filhos ? É sempre bom falar de mudança no início do novo ano. Como sempre, esperamos que algo positivo aconteça, principalmente quando o ano anterior podia ter sido melhor.
No entanto, em qualquer altura podemos mudar aquilo que não vai bem connosco, em qualquer altura nasce e renasce nova vida,  nova a esperança. E isso pode acontecer. O problema é que nos esquecemos ou não acreditamos que qualquer mudança depende de cada um de nós.
Claro que temos muitas desculpas para não mudarmos. Depois de conhecermos o que se passa à nossa volta na política, na sociedade, nos outros, temos boas desculpas para continuarmos a não querer mudar.
O descrédito dos políticos que se desacreditam a si próprios. A falta de ética na política e nas instituições todos os dias nos surpreende. A impunidade favorece este clima antiético em que vivemos.
Trabalhei muitos anos no Ministério da Educação. Vi passar ministros e secretários de estado... sempre à espera de mudanças para melhor. Um dia percebi que dificilmente essas melhorias vinham de cima. E achei que devíamos trabalhar  como se não houvesse ministro/a da educação.
Agora, se calhar, é necessário pensar que temos de viver como se não houvesse governo.
Orçamento? Estamos conversados, mais do mesmo; superavit mas à custa dos nossos impostos; descentralização, claro, mas acaba-se com a autonomia da ESGIN;  reduzir o défice e a dívida à custa das cativações, da desqualificação e degradação dos serviços de saúde e educação etc.

Porém, cortar naquilo que se podia e devia, isso nem pensar, pelo contrário, temos o maior governo de sempre, em democracia,  que vai custar mais de 8 milhões de euros do que o governo anterior.
Não se acaba com as empresas municipais, não se corta nas PPP rodoviárias mas reduzem-se as PPP da saúde mesmo que dêem lucro. Não se acaba com as contratações directas  a empresas amigas ou escritórios de advogados amigos...
O que importa é levantar novamente, contra a vontade do povo manifestada em referendo, o fantasma da regionalização.

Era tempo de fazer mudanças estruturais na educação. Cumprir com as obrigações que o estado deve ter como a contagem do tempo dos professores, a revisão das carreiras de todos os funcionários públicos...
Bom, estou a sonhar. Lá fora  as árvores continuam as mesmas, os candeeiros  da rua dão a mesma luz, passa uma ou outra pessoa a esta hora da noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro. Tudo vai continuar na mesma.
Só há uma coisa que posso mudar: Eu próprio, a valorização do EU. A minha a vida, a sua vida, não depende das decisões dos outros mas das minhas, das suas decisões.

Tanto populismo com a emergência climática quando a emergência educativa é aquilo que nos devia preocupar. É conhecida a frase de Clint Eastwood: "andamos preocupados em deixar um planeta melhor para os nossos filhos quando o que devíamos fazer era deixar melhores filhos para o nosso planeta."
E isso consegue-se com educação, na família e na escola. Não aquela escola  que revelam os rankings nacionais e internacionais como a avaliação externa, o PISA, etc.,  que sem dúvida têm importância mas também aquela avaliação que devíamos fazer da nossa vida numa sociedade de não violência, do respeito pelos mais frágeis: as crianças, os idosos e os excluídos da sociedade.
Uma escola em que a ética  seja um valor fundamental. Porque a ética depende da educação e da formação de cada um. Todos devemos ter esses valores, práticas, recompensas e punições.  
Emergência educativa *  é a verdadeira emergência.

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* A proposta nem sequer é original. Para o Papa Francisco: "É preciso uma Educação de Emergência".   "Para Francisco esta mesma urgência é sentida em muitas partes do Mundo e por isso é fundamental “uma educação de emergência” capaz de “arriscar uma educação informal porque a formal empobreceu-se fruto da herança do positivismo”... este “tecnicismo intelectualista com linguagem apenas da ‘testa’ empobrece o ser humano” tornando-se urgente “romper com este esquema”, afirmou para mostrar como “a experiência na arte e no desporto” são “válidas para a educação”.



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